Um simples ato de ligar a televisão nós dá acesso a todas as informações sobre o mundo. Temos a possibilidade de descobrir e conviver com notícias boas e ruins. A convivência diária com tantas notícias ruins, aquelas que nos machucam, fazem com que criemos uma espécie de proteção e nada mais nos choque.
Já não nos resignamos quando somos bombardeados com denúncias ligadas a toda sorte de corrupção no Brasil. São escândalos que envolvem pessoas públicas, tráfico de influência, pagamento de propinas e comissões indevidas. É a famosa Lei de Gérson, aquela ideia que precisamos levar vantagem em tudo, ou simplesmente o desejo de impor o famoso jeitinho brasileiro, que sempre entra em ação para justificar os casos de corrupção na sociedade.
A literatura diz que a corrupção pode ser definida como utilização do poder ou autoridade para obter vantagens e fazer uso do dinheiro público para o seu próprio interesse, de um integrante da família ou amigo. E isso também vale para os envolvidos no futebol que se utilizam dos clubes para ficarem milionários.
Nos anos 70, quando surgia a febre das loterias no Brasil e a população descobria a Loteria Esportiva, na mesma intensidade que o povo corria para as lotéricas para fazer a chamada fezinha havia rumores de manipulação de resultados em alguns sorteios. As coisas pareciam serenadas quando, em 1982 a revista Placar, a mais conceituada revista esportiva do Brasil, denunciava fraude envolvendo jogadores de futebol, árbitros e dirigentes para direcionar resultados dos jogos, provocando zebras nos resultados.
O tempo passa. Porém, o que não passa é ânsia de algumas pessoas em roubar e manter viva a chama da corrupção. Veja só, há exatos dez anos, e 23 anos após a denúncia da Placar, o Brasil descobria o maior escândalo do nosso futebol, a Máfia do Apito. O trabalho da máfia, na oportunidade, comprometeria num todo o Campeonato Brasileiro. Se antes as apostas eram feitas nas casas lotéricas e o povo era enganado com as zebras, na máfia atual a quadrilha lucrava em apostas milionárias em sites especializados com apoio de árbitros comprometidos no esquema.
Contudo, ser corrupto ou participar de corrupção, diferentemente do que possamos pensar, não é privilegio dos países subdesenvolvidos. Este câncer está presente em todos os níveis, em todas as sociedades. Basta que haja envolvimento de pessoas e dinheiro e a possibilidade da obtenção de vantagens pessoais.
Toda sociedade corrupta sacrifica as camadas mais pobres. No caso do futebol, os times menores e as federações/confederações inexpressivas.
Podemos imaginar que há corrupção na CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e a CPI comandada pelo Senador Romário nos mostrará. Pois o futebol brasileiro é cheio de times pobres quase falidos e a confederação nada de braçada, é bilionária.
Então, o que pensar na FIFA? Temos um presidente que é eleito e tenta renunciar para fugir de suas responsabilidades. O principal candidato a substituí-lo o atual presidente da UEFA, Michel Platini, também está envolvido no caso de corrupção. Joseph Blatter teria feito um pagamento indevido de 2 milhões de francos suíços (R$ 10 milhões) a Platini como trabalhos realizados entre janeiro de 1999 e junho de 2002.
Desta forma, é plausível imaginar que, tanto na vida social, quanto no mundo esportivo seja muito improvável encontrar gestores honestos a frente das corporações e preocupados com o bem estar dos seus subordinados, clubes e associações.

Edilson de Souza é jornalista e sociólogo