MÁRCIO FALCÃO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Sob ameaça de ter as contas da presidente Dilma Rousseff de 2014 rejeitadas pela TCU (Tribunal de Contas da União), o governo decidiu reagir neste domingo (4) e colocar em suspeição a atuação do relator do caso, ministro Agusto Nardes, que propôs a recusa do balanço. O Planalto acusa o relator de ter agido com parcialidade no processo e vai pedir que o plenário do TCU avalie se o relator não deveria ser impedido de analisar o caso. O questionamento será feito na Corregedoria do tribunal nesta segunda (5) e pode levar a mais um adiamento da sessão que analisará o processo.

Se o TCU negar a suspeição do ministro, o Planalto deve ir à Justiça, eventualmente ao STF (Supremo Tribunal Federal) para discutir a situação. O governo alega que, durante entrevistas que se intensificaram em setembro, Nardes manifestou uma tendência contra o governo, mostrando que estaria disposto a fazer história na análise do caso antes mesmo da fase de produção do processo ter sido concluído e ter recebido ainda representantes de movimentos que defendem o impeachment da presidente. A resposta do governo foi anunciada numa entrevista para a qual foram escalados os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Nelson Barbosa (Planejamento) e Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União). Com um discurso afinado, os ministros sustentaram que o processo que deveria ser técnico acabou politizado, inclusive, pela condução do próprio Nardes.

JULGAMENTO

O julgamento das contas de Dilma está previsto para a próxima quarta-feira (7). Doze irregularidades que contrariam a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei Orçamentária levarão o TCU (Tribunal de Contas da União) a recomendar ao Congresso, pela primeira vez em 80 anos, a rejeição das contas de um presidente da República. Dentro do órgão, os problemas nas contas do governo são considerados tão graves que a maior probabilidade é de que a reprovação seja unânime -apesar de o governo pressionar ministros para que ao menos um deles aceite os argumentos da presidente e dê início a um voto revisor.

Diante do cenário, o governo decidiu colocar em dúvida a ação de Nardes. Adams, responsável pela linha de frente da defesa de Dilma, afirmou que a atuação do ministro contraria o regimento interno do TCU e a Lei Orgânica da Magistratura, que estabelece que o juiz não pode se manifestar sobre processos pendentes de julgamento. “Falar antes é impedimento e prejuízo ao processo. Nesse caso, ele se agrava, pela reiteração e intencionalidade, e ela ficou clara, há intenção de rejeição e associação a movimentos políticos que procuraram o tribunal”, disse o advogado-geral da União.

CONSTRANGIMENTO

Para o ministro, o debate público protagonizado por Nardes sobre o caso provocou constrangimento interno ao TCU, que precisa “sanear” o processo. “Essa reiteirada manifestação vem em claro conflito com regra que se dirige aos magistrados. Não estamos falando de atores políticos, não falamos de deputados e senadores que têm liberdade de opinião, estamos falando de magistrados que têm a forma de garantir imparcialidade”, completou.

O ministro da Justiça reforçou o discurso, mas aproveitou para criticar a oposição por explorar a análise da conta. “O governo tem absoluta certeza que não existe motivo para eventual rejeição das contas. Não há razão jurídica”, disse Cardozo. “Consideramos lamentável a postura de setores oposicionistas que querem fazer um julgamento de contas num cenário de disputa política. Não vivemos numa arena romana, fazendo um julgamento com que não seja o que a Constituição determina que é um Estado de direito”, afirmou.

Nelson Barbosa reiterou que não houve irregularidades nas contas do governo, que tiveram que ser adequadas à reversão do cenário econômico, e defendeu que o julgamento do TCU seja técnico. “Esse processo das contas do governo é uma questão técnica, que n envolve a interpretação das leis e das decisões econômicas baseadas em lei. Reafirmamos nossa posição. [As medidas] foram feitas com amparo legal e seguiram entendimento da legislação em vigor”. Barbosa disse que o governo tem feito esforços para aprimorar o controle das contas e dar transparências aos atos do governo.