O ex-prefeito Rafael Greca deixou recentemente o PMDB do senador Roberto Requião para se filiar ao pequeno PMN (Partido da Mobilização Nacional) com o objetivo de garantir espaço para disputar a sucessão do prefeito Gustavo Fruet (PDT). De imediato, seus adversários apontaram que o papel de Greca seria atuar como candidatura acessória à do deputado estadual Maurício Requião Filho – filho do senador peemedebista – com a tarefa de desconstruir Fruet na campanha do ano que vem, assim como teria feito com o ex-prefeito e hoje deputado federal Luciano Ducci (PSB) nas eleições de 2012. 

Greca rejeita de pronto esse papel, apesar de admitir que gostaria de enfrentar Ducci e Fruet novamente. Mas não com a função de desconstruir as duas últimas gestões, e sim para mostrar o tempo que Curitiba perdeu nos últimos anos, com administrações que pouco ou nada avançaram no enfrentamento dos problemas da Capital. Em entrevista ao Bem Paraná, ele explica como pretende fazer isso, e porque, de prefeito eleito em 1992 com 52% dos votos e deputado federal mais votado em 1994, viu seu eleitorado cair para menos de 30 mil votos na última eleição para deputado estadual, em 2014.

Bem Paraná – Porque o senhor saiu do PMDB?
Rafael Greca – Porque é uma casa dividida onde existe um conflito permanente, e onde sobram muito poucos companheiros com vontade de servir o povo. E porque eu quero influir no processo político de Curitiba. Acho que posso contribuir. A minha pré-candidatura não é um ato de vaidade. É um serviço público. Eu quero oferecer a minha pré-candidatura como vontade de servir. Ela nasce da vontade de servir a minha cidade. Eu tenho informação e conhecimento acumulado. Sendo prefeito eu saberia o que fazer na primeira hora do primeiro dia. E daí eu quis buscar um ponto de apoio. Esse ponto de apoio foi me oferecido através dessa pequena legenda, que é o PMN. Que é um partido com quatro deputados federais, mas que tem uma notável presença ética na política brasileira. Partido da Telma Ribeiro dos Santos, uma advogada trabalhista dedicada à causa nacional. O partido defende basicamente as leis de iniciativa popular. É o partido do Sérgio Bernardes, do Celso Brandt – autor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. É o partido do Ivan Frota – o brigadeiro que criou o sistema de defesa da Amazônia, o Sivam. E do Aarão Steinbruck, ministro do João Goulart, criador do 13.º salário. E sobretudo é um partido sem dono. 

BP – No PMDB o senhor não teria esse espaço?
Greca – Eu já não tive em 2012. O senador Requião me apoiou para candidato. Mas quatro ou cinco grupos puxaram o carro cada um para um lado. Uma turma foi para o lado do Ratinho Jr, outra para o Ducci, e muito poucos companheiros ficaram comigo.

BP – A intenção de Requião de lançar seu filho, Maurício, como candidato a prefeito, pesou?
Greca – Não, isso é irrelevente. Pelo seguinte: ele tem tanto direito quanto eu. Todo curitibano tem direito a querer ser candidato a prefeito. Agora eu não acredito que ser filho do senador qualifique uma candidatura. Até porque o povo viu dois filhos recentes – o do Richa e o do Fruet – que não deram certo.
BP – O senhor também deixou o cargo de assessor de Requião no Senado. Porque?
Greca – Mas isso não tem nada a ver com a pré-candidatura. Deixei o gabinete do senador já há três meses porque me foi informado pela prefeitura, pelo Instituto de Previdência do município que eu já podia me aposentar. E daí eles começaram o meu processo de aposentadoria, ele estava pronto para ser deferido, quando o INSS fechou, entrou em uma odiosa greve, e daí eu pedi para voltar para o Ippuc, porque daí eu pelo menos posso contribuir com a cidade e não fico ganhando sem trabalhar, o que não é do meu feitio.


Crítica

Gestão Fruet é infrutífera

Bem Paraná – Como o senhor avalia a gestão Fruet?
Greca – A gestão Fruet é infrutífera. Você conhece algum fruto? Ele pode ser uma boa pessoa, um bom deputado federal, mas vai deixar pouca marca. O que nós temos por aí? Um centro de acolhimento de animais aproveitando o antigo centro de zoonoses da prefeitura na Cidade Industrial. Uma área lenta anunciada para o Centro da cidade de 40 km/h. O respeito à vida é uma coisa muito boa, mas os bons engenheiros acham que 40 km/h é muito difícil de manter como velocidade constante. Ainda mais uma cidade que tem tantos remendos no asfalto. Os buracos. E com os radares ligados essa vai ser uma grande arapuca para multar em massa os curitibanos. Talvez devesse ser 60 km/h ou 50 km/h. Nós temos muito pouca coisa. A Linha Verde ainda não terminou. A praça do Atlético está em obras. As obras do terminal de Santa Cândida não terminaram. Da praça da Espanha – que são obras da Copa – ainda não terminaram. O Farol do Saber está abandonado e fechado se transformando em uma crackolândia. O centro de Curitiba virou a moradia ao ar livre de milhares de desvalidos, doentes, despossuídos, abandonados. E fazendo mal para a população normal. Porque os ameaçam, os assaltam. Ou simplesmente porque usam as ruas como seus banheiros. As pessoas caem, tropeçam, se machucam na consequência dessa visão de que a rua foi feita para morar. A rua foi feita para morar.

BP – A crítica mais recorrente ao Fruet é de demora ou falta de capacidade para tomar decisões difíceis. O senhor concorda?
Greca – Pode ser. O que me move não é ser contra o Fruet, é ser a favor de Curitiba. Eu acho que ele é refém de interesses estranhos ao bem comum. Por exemplo, a dívida com o Atlético. Não ter tido a coragem de não fazer a ponte Estaiada. Não ter tocado até o fim a Linha Verde. Não ter enfrentado o ICI (Instituto Curitiba de Informática). Nunca se ouviu falar de uma cidade cujos códigos de lançamento de IPTU, ISS, ITBI, dívida ativa, alvarás, ficassem na mão de um particular. Hoje é cobrado da prefeitura por mês. R$ 1 milhão para ter acesso aos documentos. Cadê o município? Cadê o Ministério Público? O que foi que aconteceu? Será que porque o Gustavo, através do seu irmão advogado, é o queridinho dos advogados, ninguém ajuda ele?


Transporte

Fim da integração é um desastre

Bem Paraná – Qual a sua opinião sobre o fim da integração do transporte coletivo?
Rafael Greca – O fim da integração é um desastre. Foi a gota d´água que me fez sair da minha zona de conforto. Eu sou um sujeito que vive bem, bem casado, gosto de mim mesmo, então eu posso passar a vida só eu e a Margarita lendo, ouvindo música. Eu não preciso de público para existir. Mas eu estou saindo da minha casa para servir a minha cidade. Eu sugiro a alguém que tenha a tentação de gostar do Fruet e do governador Beto Richa que tente ir de Almirante Tamandaré até a Cidade Industrial de ônibus. Ou de Colombo até a CIC, para ver o que acontece.

BP – De quem é a responsabilidade pela desintegração?
Greca – Cada qual quis ter a sua bilheteira, catraqueira. A disputa pelo butim das catracas fez com que eles destruíssem um sistema que o mundo inteiro invejava. O Beto tem a sua catraca, com os seus primos lá do clan Abujanrra, primos distantes, e o Fruet tem a sua catraca com o seu pessoal da Urbs. São sempre primos distantes.

BP – As empresas de transporte têm vencido as disputas judiciais que envolvem tarifas, renovação da frota, etc. Eleito prefeito, como o senhor lidaria com isso?
Greca – Tem que fazer uma grande engenharia à luz do novo contrato, que eu desconheço. O contrato que eu geri era feito no tempo da ditadura. Eu acho que não era tão leonino como esse feito na democracia. Porque o general Golbery controlava isso.

BP – Não corre-se o risco de cair na mesma situação que a do pedágio, que se tornou uma disputa judicial interminável?
Greca – Tenta-se uma coisa nova. Eu por exemplo, investiria em um metrô aéreo com novas energias. As apostas do Fruet no governo federal levaram a cidade a ser encurralada. O que vai acontecer agora que a Farmácia Popular perdeu subsídio? Uma bombinha de asma que custava R$ 10 vai para R$ 100. Está na hora de governar como eu governei, sem pensar em Brasília. Eu fiz a farmácia com 81 medicamentos básicos em 1993 usando dinheiro do próprio orçamento da cidade. Curitiba tem que viver com os R$ 8,3 bilhões de orçamento. O que vier de Brasília, do governo estadual, será por acréscimo.

BP – Eleito prefeito, o senhor vai ter que conviver dois anos, pelo menos, com o atual governador Beto Richa, e administrar com ele a questão do transporte coletivo na Região Metropolitana. Como vai negociar com ele?
Greca – Vamos acertar no interesse público. Vamos fazer uma nova conversa. Tem que haver uma conversa. Quem destruiu a integração foi o Fruet, ele que tem que se explicar, não sou eu. Eu posso explicar como eu fiz a integração. Eu fiz a integração quando o Requião era hostil a mim. É conhecido o episódio em que ele mandou prender o ligeirinho de Pinhais. Eu fiz com a ajuda do povo. Eu fiz contra o governador a integração. Se o prefeito tem vontade e não tem interesse, a não ser o interesse público, consegue. E se o povo me der grande votação – coisa que deu ao Fruet e ele não aproveitou – eu terei autoridade emanada do povo que vai me permitir mudar as coisas para melhor. A desintegração do transporte pesa sobre o pescoço do Fruet, do Ratinho e do Beto Richa como uma trava de condenação.


Metrô
Curitiba não tem poupança para fazer o metrô sozinha

Bem Paraná – O senhor faria o projeto do metrô que está aí?
Rafael Greca – Não. Enterrado nunca. Mesmo aqui no Ippuc não há o sentimento de que isso seja bom.

BP – Mas aí não se corre o risco de perder o recurso do governo federal?
Greca – Mas ele nem existe. Perder o que não existe?

BP – O senhor continua com a proposta de fazer o metrô elevado?
Greca – Sim. Que custa cem vezes menos. Se vier dinheiro do governo federal. Nós vamos fazer um pouco de cada vez, como foi na minha prefeitura entre 93 e 96, e no fim teremos feito o impossível.

BP – E se não vier esse dinheiro?
Greca – Se não vier dinheiro, não se faz metrô.

BP – Aí o senhor investiria na melhoria do sistema atual?
Greca – Sim. A cidade de Curitiba não tem poupança para fazer um metrô sozinha. E ela nem pode fazer um metrô sozinha, porque vale tanto quanto as outras cidades do Brasil que ganharam verbas para o metrô.

BP – O senhor moraria perto do metrô elevado?
Greca – No meu projeto não existe via elevada perto de moradia. Porque é no meio da Linha Verde, onde não existe vizinhança. Isso é um terrorismo que fizeram na época da eleição, mas é uma desinformação. O meu desenho sai de Araucária pelo meio da rua João Bettega – que é uma rua só de indústrias, sem moradia – entra na Wenceslau Braz, que é uma rua bem larga, onde a moradia está bem longe, e depois passa pela Linha Verde. Depois usa a faixa de domínio do rio Belém e da ferrovia para ir ao ramal da Rodoferroviária e para o ramal de São José dos Pinhais. Eu tenho um desenho e sei fazer sem atrapalhar o seu sono.


Não sou demolidor de prefeitos, afirma Greca

Bem Paraná – Seus adversários dizem que o senhor seria um candidato acessório ao PMDB do Requião, com a missão de desconstruir o prefeito Gustavo Fruet (PDT), como teria feito com o (Luciano) Ducci em 2012. Como o senhor responde a isso?
Rafael Greca – Esperem para ver. Eu não sou um demolidor de prefeitos, sou um construtor de cidades. Agora eu gostaria de ver o Ducci e o Fruet como meus adversários de novo. O Fruet infrutífero e o Ducci querendo terminar as obras da Copa. E eu fazendo a análise do tempo perdido de Curitiba.

BP – O senhor fez esse papel contra o Ducci em 2012?
Greca – Não é verdade. Eu mostrei só o que estava errado na cidade. Eu não tenho culpa de ter olhos de engenheiro e ver que um asfalto foi feito eleitoralmente. E daí peguei o asfalto e quebrei. Foi na porta da minha casa que isso aconteceu. Consta que o Ducci disse na Secretaria de Obras: ‘mas foram fazer o asfalto ruim bem na porta da casa do Rafael?’.

BP – O senhor já foi do PDS, PDT, PFL, PMDB e agora PMN? Porque tanta mudança de partido?
Greca – Cada momento histórico tem uma justificativa. Eu fui eleito pelo PDS porque o então prefeito Jaime Lerner me pos candidato a vereador. Eu fui do PDT porque o partido foi fundado naquela ocasião e precisava de um vereador. Fiquei no PDT até o governador Jaime Lerner resolveu ir para o PFL, por uma conjuntura histórica. Mas eu não briguei com o Dr Brizola, estimava muito ele. Aí, depois, entrei no PMDB quando o governador Jaime Lerner decidiu apoiar o Beto Richa e não a mim na sua sucessão. Na verdade foram eles que me excluíram do grupo. Daí o senador Requião me convidou. Fiquei desde 2003 no PMDB até agora. Agora o PMDB esgotou-se. A própria franja da Lava Jato lança uma sombra sobre o PMDB. Esse PMDB sombreado pela Lava Jato não me representa.

Bem Paraná – O senhor foi eleito prefeito de Curitiba em 1992, com 52% dos votos, ou 324.348 votos. E em 1998, teve 226.554 votos e foi o mais votado para deputado federal. Mas na última eleição para prefeito, teve 101.866 (10,45%) e para deputado, em 2014, 37.457 votos, sendo 29.977 em Curitiba. A que atribui essa redução do seu eleitorado?
Rafael Greca – Cada eleição é uma eleição. O processo político foi sendo corrompido na proporção em que os operadores da Lava Jato foram comprando os institutos de pesquisa e corrompendo estruturas populares de apoio. E eu continuei fazendo a velha e boa política de só pedir votos com os meus lábios. E usando o meu coração para conversar com as pessoas. Talvez eu tenha sido superado pelo método José Janene.

BP – Mas o senhor acha que também não sofreu um desgaste?
Greca – Acho que não. Pode ter havido. Cada eleição é uma eleição. Mas eu permaneço o mesmo. É evidente que a eleição de 2012 foi corrompida pela Lava Jato. O Ibope disse, às 9h30 da noite da véspera da eleição, que o Fruet tinha mais votos do que eu e que ele podia derrotar o Ducci. E muitos dos meus eleitores votaram daí no Fruet e não votaram em mim. Quem é que pode com uma estrutura de poder dessa? As apostas do Fruet no cassino político foram acertadas para vencer a eleição. Mas você pode blefar no jogo eleitoral, mas não pode blefar na administração. Daí a vida manda a conta. Voto tem consequência. E a população está percebendo isso. A morte da Maria da Luz Chagas dos Santos no posto de saúde da Fazendinha depois de espera de oito horas por atendimento prova isso. Isso foi em julho de 2015. A morte do Davi Lucas Alves, depois de sete horas de espera por uma UTI neo-natal – um menino de 47 dias – na unidade de saúde da Boa Vista no dia 20 de maio de 2014 também é parte dessa conta. O Hospital Vita disse que não foi solicitado. Que é mentira que negou a UTI. São fatos que mostram que há uma má gestão.