MARCELO NINIO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Fatores domésticos como o desequilíbrio macroeconômico e a crise política são os maiores responsáveis pela recessão no Brasil, afirma o FMI (Fundo Monetário Internacional) em relatório divulgado nesta quarta (7).
No dia anterior o Fundo revelou ter dobrado para 3% sua projeção de contração da economia brasileira em 2015, diante de uma deterioração “maior que a esperada” nos últimos meses. A previsão para 2016 é que o Brasil encolha 1%.
“Embora fatores externos como a deterioração dos preços das commodities expliquem em parte a contração na atividade, fatores domésticos são o maior entrave”, diz o FMI no relatório Panorama Econômico Regional do Hemisfério Ocidental.
A correção da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff é vista como um sinal positivo pelo Fundo.
Segundo o estudo, o Brasil entrou no segundo semestre de 2014 com “grandes desequilíbrios macroeconômicos derivados do diagnóstico de que a desaceleração econômica desde 2010 era causada por falta de demanda agregada suficiente”.
Com a inflação bem acima da meta do Banco Central, as políticas públicas “apropriadamente” se moveram para estabilizar a dívida pública e conter as pressões inflacionárias, indica o relatório do Fundo.
O relatório ressalta o efeito negativo da instabilidade política sobre o desempenho da economia, destacando a investigação de corrupção na Petrobras e irregularidades na campanha presidencial.
“A interação entre a crise econômica e a política causaram incerteza e levou a confiança dos negócios e do consumidor a baixas históricas, minando ainda mais a atividade econômica atual e perspectiva”, diz.
Para o FMI, a política macroeconômica deve se concentrar em recuperar a credibilidade e lidar com as restrições do lado da oferta. “A consolidação fiscal deve ocorrer sem demora e a política monetária deve permanecer apertada para trazer a inflação de volta à meta do Banco Central”, receita o organismo.
O relatório também chama a atenção para a necessidade de “aliviar os gargalos estruturais” a fim de estimular o investimento, a produtividade e a competitividade. A flexibilidade da taxa de câmbio deve continuar sendo usada como o principal meio de absorver choques externos, recomenda o FMI.
No plano geral, o estudo divulgado nesta quarta (7) reitera um panorama em que se observa sinais de recuperação nas economias dos países desenvolvidos e uma retração nas dos emergentes, causada por uma combinação de fatores externos e domésticos. Entre eles, a desaceleração da China e a queda nos preços das commodities, de um lado, e erros nas políticas macroeconômicas e instabilidade política, de outro.
RISCOS AO COMBATE À POBREZA
O declínio econômico põe em risco programas sociais na América Latina, alerta o Fundo.
“Essa realidade, por sua vez, prejudica os progressos alcançados nos últimos anos na redução da pobreza e da desigualdade. Os principais riscos do cenário mundial, especialmente o risco de um ajuste brusco das taxas de juros norte-americanas ou uma possível desaceleração econômica mais forte na China, podem ter um impacto particularmente severo sobre a América Latina”, afirma.
O relatório observa que a América Latina foi a única região do mundo que reduziu a desigualdade de renda nos anos 2000, mas que esse avanço pode ser contido pelo fim do ciclo das commodities. A queda da desigualdade na última década foi maior em exportadores de commodities como Brasil, Argentina, Bolívia e Equador.
Estudos mostram, segundo o FMI, que cada 1% de aumento no preço das commodities é associado a 0,5% de redução da desigualdade, medido pelo coeficiente Gini.
Embora a recuperação dos EUA beneficie a América Latina, sobretudo os países com os quais tem laços mais estreitos de comércio, turismo e remessas, como o México, os danos causados pelas queda nos preços das commodities continuarão a ser o fator externo preponderante.
A projeção do FMI é de que o PIB latino-americano recue pelo quinto ano seguido, registrando contração de 0,3% em 2015.
A média negativa da região é puxada principalmente pelas recessões no Brasil e na Venezuela, cujas economias devem contrair neste ano 3% e 10% respectivamente, segundo as projeções do Fundo.