MARCELO NINIO, ENVIADO ESPECIAL
LIMA, PERU (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nesta quinta (8) que não teme uma fuga de capitais como reação ao declínio da economia brasileira. Segundo ele, o ajuste feito pelo governo está funcionando.
“Não vejo nenhum motivo para uma grande fuga de capitais no momento”, disse Levy em evento da reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, que ocorre em Lima. “Temos um grande volume de reservas internacionais. Além disso, nosso câmbio é flutuante, que lida naturalmente com isso”.
O ministro buscou mostrar otimismo em relação à economia brasileira, embora o FMI tenha dobrado a projeção de contração do país em 2015.
“Temos que entender que, apesar de alguns indicadores, a reação da economia, especialmente desde que fizemos alguns ajustes no começo do ano, tem sido de um equilíbrio saudável”, afirmou Levy. “É uma economia que tem tantas formas de encontrar crescimento, porque é muito diversificada, se permitirem o ajuste, ela se ajustará”.
O ministro participou de um debate ao lado da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e do presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney. Em vários momentos, Levy foi pressionado pelo mediador, o histriônico apresentador da rede de TV CNN Richard Quest.
Num deles, Quest questionou se o Brasil havia entrado em recessão por não ter feito as reformas estruturais necessárias no período em que o contexto mundial era mais favorável, antes da queda nos preços das commodities.
“Acho que usamos o período bom para fazer mudanças bastantes radicais em termos de inclusão e de realmente criar uma nova classe média e de dar educação para toda uma geração”, disse o ministro. “Qualquer um que sofre um choque entra em recessão”.
Segundo Levy, embora o peso da China no PIB brasileiro não seja tão grande, a desaceleração da segunda economia do mundo afeta o Brasil pela “repercussão em todo o mundo”. Ele reiterou, porém que o Brasil “está digerindo esse choque de forma natural”, graças ao seu “colchão de reservas internacionais”.
Em uma questão que arrancou risos da plateia que lotava o Teatro Nacional de Lima, Quest quis saber se Levy se arrependia de ter aceito o cargo de ministro da Fazenda.
“Certamente não”, rebateu o ministro, afirmando que tem um objetivo claro. “Esse objetivo é preparar a economia para esse ajuste e colocá-la na rota do crescimento. Estou confiante de que assim que o cenário fiscal e orçamentário clarear, as outras reformas que já fizemos irão nos trazer para esse crescimento e para a inclusão”.
Sobre a possibilidade de impeachment da presidente Dilma, deu uma resposta seca: “Não sei”.
Na parte das perguntas da plateia, um brasileiro questionou como é possível reconquistar a confiança perdida.
“É necessário ser claro sobre as suas políticas, os seus desafios, os seus objetivos e como eles serão alcançados. Acho que a maior parte das pessoas entende quando você está sendo verdadeiro. Em democracias, isso é absolutamente fundamental.”, afirmou.