SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo dos Estados Unidos entregou nesta semana ao Chile documentos confirmando que o ditador Augusto Pinochet foi o mandante da morte de Orlando Letelier, ministro do ex-presidente Salvador Allende.
Um dos principais ativistas contra a ditadura, Letelier foi morto na explosão de uma bomba em seu carro em Washington em 21 de setembro de 1976. O explosivo foi instalado por agentes da Dina, a polícia secreta do ditador.
O atentado provocou a morte da secretária de Letelier, a americana Ronni Moffitt, e feriu seu marido, Michael. A ação foi um dos motivos para o rompimento de Washington com a ditadura chilena, que havia ajudado a colocar no poder.
Os documentos faziam parte da trocas de informações entre agentes da CIA (Agência Central de Inteligência) e membros do Departamento de Estado na década de 1980, anos após o atentado na capital americana.
Na época, o governo americano se irritou com a decisão da Suprema Corte chilena, que negou a extradição aos EUA de Contreras e outros dois agentes acusados do crime em 1979 para que fossem julgados em solo americano.
Segundo o filho do ex-ministro, o senador Juan Pablo Letelier, as comunicações mostram provas contundentes de que o ditador chileno teria ordenado o atentado contra o ex-ministro ao chefe da Dina, Manuel Contreras.
Também no mesmo documento há indícios de que Pinochet planejava matar Contreras para evitar que fossem encontrados elos que os Estados Unidos e outras autoridades internacionais o incriminassem.
Para Juan Pablo, os documentos permitirão que mais membros da ditadura sejam punidos. “Espero que possamos romper os pactos de silêncio e determinar a responsabilidade de militares que estão vivos, e também talvez de civis cúmplices.”
Ele espera principalmente que os documentos levem à punição de Cristián Labbé. O ex-prefeito do partido direitista União Democrata Independente é acusado de encobrir o atentado e obstruir a investigação.
CONDENAÇÕES
Pelo atentado em Washington, a Justiça americana condenou Manuel Contreras a sete anos de prisão, junto com o autor material do atentado, o americano Michael Townley, e o general chileno Pedro Espinoza.
Em seu julgamento no Chile, o chefe da Dina havia dito a morte de Letelier havia sido ordenada por Pinochet, mas não deu provas de sua acusação. Contreras foi condenado a 505 anos de prisão e morreu em 8 de agosto passado.
Já Pinochet morreu em 2006, sem ser julgado pelos crimes nem pelas violações de direitos humanos que cometeu durante a ditadura (1973-1990).
As informações fazem parte de um lote de documentos do Departamento de Estado entregues pelo secretário John Kerry à presidente Michelle Bachelet. Na segunda (4), o chefe da diplomacia americana visitou Santiago.
Os documentos foram recentemente retirados da categoria de confidencial e deverão fazer parte das investigações da nova Comissão da Verdade instalada pelo governo chileno nesta semana.
O embaixador do Chile em Washington, Juan Gabriel Valdés, afirmou que a liberação dos documentos americanos só foi possível porque foram retiradas todas as ações criminais contra o ex-ditador.