Um grupo de estudantes do Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Curitiba, visita com frequência o Arquivo Público do Estado do Paraná, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Administração e da Previdência. Mas não apenas para consultar parte dos 41 milhões de itens documentais. Eles também estão aprendendo, com os servidores do local, a arte de manipular a documentação, desde a higienização, passando pelo processo de conservação, descrição, catalogação e encerrando com a digitalização. 

Uma unidade de informação governamental como o Arquivo Público do Paraná possui um vasto potencial educativo e cultural que pode e deve ser explorado, destaca a diretora do Departamento Estadual de Arquivo Público, Maria da Graça Simão Gonçalves. Por isso, o arquivo abre as portas para a comunidade acadêmica e a sociedade, recebe estudantes, pesquisadores, professores e todos os interessados em conhecê-lo ou participar de exposições, palestras, oficinas, cursos e debates. 

O que motivou os alunos do IFPR a procurar o órgão estadual foi o encontro de milhares de documentos em uma sala-cofre do antigo prédio do Mate Real, do bairro Rebouças, em Curitiba. Os documentos vêm desde a época do Império, empilhados de cima a baixo. 

Há também um grande cofre, que tem uma das portas ainda trancada, apesar dos esforços para abrí-la. O prédio, que começou a ser erguido no final da década de 1920, foi comprado em 2011 pelo IFPR para ampliação de sua sede em Curitiba. 

HISTÓRIA

Percebemos que havia documentos importantes para a história, disse o professor de História do IFPR campus Curitiba, Edilson Aparecido Chaves. 

O primeiro trabalho foi retirar os documentos daquela sala e levá-los para outra maior, com a criação de um projeto de recuperação e catalogação do material. Imediatamente, alunos de várias disciplinas se interessaram pelo trabalho. 

Essa questão da industrialização, do conhecimento histórico e dos processos antigos de construção me interessam, diz Juliana Mara Maia de Andrade Vieira, estudante de Edificações. 

Uma primeira seleção de todo o material já foi feita pelos alunos, que encaixotaram os documentos de acordo com a década a que pertencem. As caixas mais antigas trazem a tarjeta de 1882, quando o Brasil tornava-se independente de Portugal, e, em Curitiba, alguém registrava em um caderno dezenas de valores, provavelmente a contabilidade acerca da produção e exportação do mate. 

Fazem parte do acervo Carteiras de Trabalho datadas de 1933, poucos meses após essa novidade ser regulamentada pelo então presidente da República Getúlio Vargas. Espalhados entre os papéis também foram encontradas as plantas originais do prédio que, por estar próximo à ferroviária de Curitiba, anunciava aos visitantes, com sua torre imponente, a chegada à cidade.

Há alguns apontamentos que fazem alusão a Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, e a Francisco Fasce Fontana, antigos proprietários de fábricas de mate e cujos descendentes criaram a marca Mate Real, que iniciou no Brasil o costume de consumir o chá resultante da erva-mate tostada. 

Trabalho empolga alunos e prevê uso de tecnologia digital para revisita à história 

O professor Edilson Chaves, do Instituto Federal do Paraná (IFPR), recorreu ao Arquivo Público do Estado do Paraná para aprender a manusear e registrar de forma correta os documentos históricos encontrados pelos estudantes no campus Curitiba. 

Tínhamos que preparar os alunos e o arquivo nos ofereceu as oficinas, disse Chaves. Esses estudantes ensinam outros colegas que vão se incorporando ao projeto. 

Segundo Chaves, os objetivos são que os alunos conheçam a memória histórica do Paraná e de Curitiba, tenham contato com fontes primárias e façam uma releitura dos documentos. São jovens que vão dar uma ressignificação para a história, destacou o professor. 

A ideia de participar da oficina entusiasmou os alunos. Eu nunca tinha entrado no arquivo. A gente não tem noção de como é organizada a documentação, disse a estudante de Petróleo e Gás, Jaqueline de Lima Ramos, que já planeja cursar História como segunda faculdade. 

Após o trabalho arquivístico a ser feito pelos alunos, os documentos ganharão um Espaço de Memória do IFPR, já previsto na nova planta do instituto. E também servirão como objeto didático para os diversos cursos técnicos do IFPR. Para isso, integrou-se à equipe a professora de Jogos Digitais Carla Garcia, que prevê o uso da tecnologia digital para revisitar a história. Queremos contar a história, por meio dos jogos, para melhor atingir o adolescente, afirmou Carla. 

A estudante de Informática Luana Andressa Rollon Meneguci entrou no Arquivo Público pela primeira vez a partir dessa experiência proporcionada pelo Instituto Federal do Paraná e já começou a trilhar um novo caminho. 

Ela encontrou espaço no arquivo para desenvolver seu projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que prevê a criação de um novo sistema de cadastramento de documentos, com geração automática de um resumo, o que facilita a consulta. As primeiras planilhas já estão em suas mãos. É uma experiência muito boa, afirmou Luana. 

Comunidade conhece história do Paraná nas oficinas do Arquivo Público 

O Departamento Estadual de Arquivo Público tem procurado ampliar cada vez mais as atividades de interação com a comunidade ao realizar oficinas. 

Em 2014, foram feitas parcerias com a Universidade Federal do Paraná para descrição de documentos referentes à Escravidão no Paraná no Século XIX e sobre o Fundo do Conselho Regional de Desportos. 

Com a Faculdades Integradas do Brasil – Unibrasil, foi trabalhado o projeto Instrução Pública no Paraná (1889-1930) e, com o Instituto Federal do Paraná, foi realizada a descrição de documentos referente às Irmandades no Paraná Provincial. 

Neste ano, além dos módulos de higienização, conservação, descrição arquivística e digitalização envolvendo a Mate Real, o órgão estadual desenvolve trabalho com a Universidade Federal do Paraná, com oficina de descrição dos processos referentes à escravidão no Período Imperial. 

Queremos ampliar o alcance de nossas atividades, estabelecendo amplos canais de comunicação com todos os segmentos da sociedade, de modo claro e direto, disse a diretora Maria da Graça Simão Gonçalves. 

COLEÇÕES

Entre os 41 milhões de itens documentais, os visitantes do Arquivo Público encontrarão, por exemplo, a coleção completa de correspondência do Governo do Estado desde 1853, a massa documental de processos cíveis dos séculos 18 e 19, todos os registros de imigrantes que entraram no Estado pelo Porto de Paranaguá ou que se instalaram em hospedarias do Paraná, além dos arquivos digitalizados do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que teve grande atuação no controle e repressão de movimentos políticos e sociais contrários aos regimes de poder, sobretudo durante o Estado Novo e o governo militar. 

O arquivo oferece um programa de visitas guiadas para acadêmicos, pesquisadores e interessados em conhecer as instalações e atividades. As visitas são de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h, mediante agendamento, que pode ser feito pelo telefone (41) 3352-2299 ou pelo e-mail [email protected]