Nascida na Bielorrússia, um país de porte médio com superfície equivalente à do estado do Paraná que só em 1990 separou-se da ex-União Soviética, Svetlana Alexievich de 67 anos acaba de ser escolhida como a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2015. Totalmente desconhecida no Brasil, seus principais livros, em não-ficção, foram longamente construídos (cerca de dez anos para cada um) na base de conversas e entrevistas com pessoas que vivenciaram ou foram vítimas de momentos críticos da história da Rússia: War’s unwomanly faces (A guerra não tem face feminina); Voices of utopia (Vozes da utopia), Zinky boys: soviet voices from the Afghanistan war (Meninos Zinky: vozes soviéticas da guerra do Afeganistão), Voices from Chernobyl, the history of a nuclear disaster (Vozes de Chernobyl, a história de um desastre nuclear).

Também conhecida como Belarus ou Rússia Branca pela neve intensa que boa parte do ano cobre suas planícies e montanhas, a Bielorrússia foi diretamente afetada pelas cinzas nucleares provenientes da explosão da usina de Chernobyl em 1986. Faz fronteira com a pátria-mãe russa, com a Ucrânia (onde Svetlana nasceu, sendo criada em Minsk, a capital de Belarus) e, sem saída para o mar, também com a Lituânia e a Letônia. Na prática é uma ditadura submissa a Putin governada pelo presidente Alexander Lukashenko desde 1994, que perseguiu a escritora obrigando-a a viver no exterior parte da vida e, nos últimos anos, quando retornou para casa, a passar seus dias praticamente em silêncio.

Segundo a Academia sueca, os relatos e crônicas de Alexievich são um monumento ao sofrimento e à coragem em nosso tempo, principalmente das mulheres durante e após a segunda guerra, um período que testemunhou o colapso da União Soviética.

Ao justificar a concessão do prêmio de 972 mil dólares, a Academia afirmou que por meio de seu extraordinário método, uma cuidadosa composição de colagem de inúmeras vozes humanas, Alexievich aprofundou nossa compreensão a respeito de toda uma era.

Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional