O técnico Dunga costuma dizer que o Brasil tem sempre a obrigação de vencer. Tal raciocínio é mais do que verdade na partida de hoje às 22 horas, contra a Venezuela, no Castelão, em Fortaleza. A seleção está devendo depois da derrota para o Chile, último de seus tropeços importantes recentes. A pressão é grande, e isso levou ontem lateral Daniel Alves a fazer um pedido aos torcedores: não façam a seleção pagar o pato pelo restante dos problemas do País.

O experiente jogador admite que a seleção está decepcionando. Mas considera que o torcedor está misturando as estações e, por isso, cobranças e críticas estão sendo excessivas. Se eu puder pedir alguma coisa ao torcedor, é para a seleção não pagar o pato do Brasil, disse o jogador, em Fortaleza. A seleção está pagando pela revolta do brasileiro com outras coisas.

Para Daniel Alves, como o futebol está no coração do torcedor, acaba sendo usado como uma espécie de panaceia para os males do cotidiano – como a corrupção e a violência. Aí, quando os resultados não aparecem, a cobrança é geral. E desmedida.

Mesmo porque há um outro complicador: o fato de a maioria dos jogadores da seleção atuar fora do País, alguns há muito tempo. Isso cria a percepção de que esses atletas não estão nem aí para a equipe e provoca distanciamento.

O lateral também admite a existência desse distanciamento. Mas rebate a falta de interesse. A circunstância impede que você consiga fazer uma grande carreira no Brasil. Sou tão brasileiro como os outros.

A desconfiança em relação à seleção ganhou força impressionante com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo e até agora, mais de um ano depois, não diminuiu. Ao contrário, até cresceu com o fracasso da Copa América e da derrota da semana passada para o Chile. A gente sabe que há uma desconfiança com a seleção, com os jogadores que aqui estão, mas mais do que ninguém, mais do que qualquer outro brasileiro, a gente quer reverter isso, garantiu Daniel Alves.

O técnico Dunga concorda que os efeitos do 7 a 1 incomodam. Mas entende que os jogadores devem saber conviver com esse fantasma. Eu digo para eles que essa conta não é nossa, mas, já que a gente está aqui, temos de pagar. E quando os resultados não veem é normal que tenha essa cobrança.

Dunga, no entanto, diz saber o que é preciso para que a seleção comece a recuperar o prestígio a partir desta noite. Primeiro de tudo, temos de fazer um bom jogo para nós mesmos. Mostrar aquilo que somos capazes. A fórmula para isso, porém, ele admite que ainda não encontrou. Eu e minha comissão técnica não dormimos muito bem, afirmou. Se nós queremos carinho da torcida, também sabemos que eles querem receber carinho da nossa parte. Um bom futebol, uma vitória, para que tenham alegria, possam sorrir.

Em Fortaleza
Brasil: Jefferson; Daniel Alves, Marquinhos, Miranda e Filipe Luís; Luiz Gustavo, Elias, Douglas Costa, Lucas Lima e Willian; Hulk. Técnico: Dunga.

Venezuela: Baroja; Rosales, Vizcarrondo e Cichero; Lucena, Rincón, Seijas, Jeffrén e González; Falcón e Rondón. Técnico: Noel Sanvicente.

Árbitro: Dario Ubriaco (URU).
Local: Arena Castelão, hoje, 22 horas