A capital cubana tem seus pontos de atração clássicos. Mas guarda também alguns tesouros que poucos conhecem. Malecon, charutos, mulheres americanas dos anos cinquenta, devoção irrestrita ao Líder Máximo, são tradições em torno da ilha.Há também um bairro chinês, um museu dedicado a Napoleão, um palácio colonial que abriga a União francesa, um cemitério de locomotivas a vapor. Uma Havana para poucos.

WALL STREET CUBANA – O dinheiro fica esperando apenas alguns metros da Calle Obispo, a grande rua de pedestres por onde circulam todos os turistas, no centro da parte antiga. Em frente a um prédio do Partido comunista, o antigo Royal Bank of Canada está em ruínas, mas o antigo quarteirão dos negócios funciona. Benvindo à Bolsa de La Habana, está escrito no frontão do edifício. A instituição foi fechada por Fidel em 1959. Surgiram apartamentos utilizado pelos camaradas bem colocados na hierarquia local. Há pouco tempo o marxismo está sendo modificado, porque os cuentapropista ( empreendedores por conta própria) estão transformando os alojamentos em casa particular. O que quer dizer que seus ocupantes alugam dois quartos para turistas, contra pagamento imediato em dólares. É osocialismo nouvelle vaguese instala no coração do antigo templo do capitalismo. (Bolsa de la Habana – Obrapia número 257 – entre Aguiar y Cuba – Habana Vieja)

BAIRRO CHINÊS SEM CHINESES – Bebidas e cozinha tipicamente chinesas, além de daiquiris e mojitos é o que propõe a garçonete vestida com um chamativo vestido estilo oriental, com bordados dourados. É o bairro Chino de Havana, com ruas de pedestres e lanternas vermelhas que iluminam o sorriso dos mulatos e negros no serviço. O lugar é assombrado por sociedades secretas dos restaurantes que mesmo os habitantes de Havana não recomendam, e um jornal, o Kwong Wah Po. Os chineses do Império do Meio desaparecem, abandonando o navio da Revolução há quase meio século. Sobraram poucos, uma centena. Mesmo assim, são os chineses que controlam toda a região. A internacional proletária tem seus limites, mesmo face a face ao pequeno irmão comunista tropical. (Bairro Chino – Boulevar del Barrio Chino (rua de pedestres) – Centro de Havana)

CRUZEIROS SOCIALISTAS BARATOS – No porto de Havana, em frente à igreja ortodoxa russa, presente de Fidel Castro a Vladimir Putin em 2008, faz escala um velho barco – La Coubre – onde os passageiros pagam 0,4 peso ( 1 centésimo de euro) antes de embarcar. O navio foi batizado assim em homenagem ao cargueiro francês La Coubre, que explodiu misteriosamente em 1960, porque transportava armas para a jovem revolução cubana. O atentado foi atribuído CIA e custou a vida de 75 pessoas, incluindo marinheiros franceses. Três décadas depois, o regime castrista inaugurou um pequeno ferry boat para 120 passageiros, que atravessa a baía em sete minutos, tendo como destino a Regla, o bairro da Santeria, a religião afro-cubana baseada no voodoo. O pequeno cruzeiro socialista é econômico e oferece uma vista incrível da capital cubana, da sua baía. (Barco La Coubre – Terminal La Habana – Regla – Habana Vieja)

CAPITÓLIO XEROX – À direita fica o mítico Capitólio, imensa réplica do Capitólio de Washington. No lado esquerdo fica a fábrica de charutos Partagas. Entre os dois prédios, um vasto espaço de terra batida, marcada pelas altas placas de lata enferrujadas. Um caminhozinho ultrapassa o muro improvável. É, em pleno coração da capital, de um cemitério de locomotivas a vapor datando dos anos 1870 a 1920. As máquinas chegaram de todas regiões da Cuba. Os vagões transportavam toneladas de cana de açúcar e as máquinas foram restauradas no ritmo normal do comunista. Um motor, um cabo, ficam esquecidos pelo caminho. Infelizmente o parque mágico recebe a cada ano menos locomotivos. Em breve deverá ficar no lugar um museu ferroviário. (Cemitério de trens a vapor – Calle Dragones, entre Industria y Amistad – Gabana Vieja)

IMPERADOR EM SETE MIL PEÇAS – Napoleão lê o Gramma, o órgão oficial do PCC, o partido comunista cubano. Porque um empregado do Museu Napoleão esqueceu seu jornal na frente do busto do imperador, que permanece impassível. O Museo Napoleonico fica entre a univerdade e o Canal Habana, cadeia de televisão e fica tão perdido como o próprio Napoleão em Santa Helena. O importante é que guarda sete mil peças de coleções que pertenciam aos cubanos, que foram cedidas voluntariamente na aurora da Revolução. Dizem que o imperador assombra o lugar, para ver o seu chapéu bicorno, um molar, até mechas de seus cabelos. O melhor é que no último andar do palácio estilo renascentista, um terraço abre visão panorâmica sobre a capital da ilha. (Museo Napoleonico – Calle San Miguel, número 1159, esq. Ronda, Plaza de la Recolucion)

CÍRCULO DOS COMUNISTAS – Perto dos grandes hotéis do Vedado, o bairro dos artistas, fica no número 23 da rua, a famosa Rampa, um oásis artístico – o Pabellon Cuba. Fica em frente ao Havana Livre, o antigo Hilton. As crianças do novo modelo econômico cubano, o capitalismo vermelho pregado por Raul Castro, marcam encontro no terraço de um barzinho plugado, onde utilizam seus laptops, coisa rara em Cuba onde o salário não ultrapassa os 20 euros. O Pabellon Cuba tem galerias de arte, pequenos quiosques e sua Pergola é ponto exclusivo dos grupos oficiais. Os preços são acessíveis e sempre acontece alguma animação musical. (Pabellon Cuba – Calle N, número 266, entre 23 y 21 – Vedado)

UNIÃO FRANCESA SEM FRANCÊS
Uma Tour Eiffel fica na entrada do belo palácio colonial de três andares, onde ninguém fala francês. No hall, uma foto de Danielle Mitterrand, de outros tempos. Que os funcionários alegam desconhecer. Na União francesa a gastronomia é cubana. E um dos três restaurantes é italiano, com cerveja holandesa e publicidade do rum Mulata escrito em alemão. Um novo modo de mundialização. (Union Francesa, Calle 17 – esq. 6 – Vedado)

BEATLE SOCIALISTA – John Lennon fica sentado em um banco no imenso parque do Vedado, o parque Lennon. O Beatle esqueceu seus óculos, como o poeta na estátua do Rio de Janeiro ( só que no Rio os óculos desaparecem, porque são roubados). Em Havana, cada vez que um turista se aproxima para tirar fotos com a estátua, um velhinho chega apressado para colocar óculos no Lennon. É sua tarefa. Conta que há quinze anos Fidel era fã dos Beatles Em dezembro de 2000, vinte anos depois do assassinato do cantor, El Comandante inauguroua estátua, abrindo espaço para o culto da Beatlemania. No canto do parque há um Sumarino Amarillo – o Yellow Submarine – é outra atração. Um clube restitui para a capital cubana o universo Beatle e as orquestras fazem vibrar uma fauna eclética que gosta dos anos 1960. Retorno à URSS.(Parque Lennon e Submarino Amarillo – Calle 17, esq.6 – Vedado)

ESCRITORES OFICIAIS – um antigo prédio colonial em meio a plantas e flamboyans, a árvore que por perto nada cresce, como dizem os irônicos, comparando com a Revolução, abriga a Uneac – União Nacional dos Escritores e Artistas de Cuba. No exterior, o imenso jardim acolhe visitantes, artistas e jineteras, as cubanas à procura do amor de algum viajante que queira dispor de alguns euros ou dólares. No pequeno bar, o turista escolhe uma cerveja, um rum ou a Tukola, a coca-cola socialista. E aproveita para ouvir as melodias doces das orquestras tradicionais, o bolero, a rumba. O tempo por ali parou em 1958. (Uneac – Calle 17, número 351, entre Presidente y H – Vedado)

RAINHA DE COJIMAR – No La Reina del Mar, um pequeno restaurante em frente ao mar de Cojimar, 5 quilômetros distante de Havana, a empregada chama os turistas de zombies. Os zombies chegam em grupos, para beber um mojito no restaurante La Terraza. Onde Hemingway almoçava e se embebedava de daiquiris, depois das suas pescarias. Cinquenta anos depois, o ritual Hemingway continua intacto. O ônibus deposita os turistas no La Terraza, depois um guia os leva até a calçada onde fica o busto de Ernest Hemingway, apenas 500 metros adiante, onde outro ônibus espera pelos visitantes. Aí a explicação para a empregada do La Reina del Mar ficar braba: apesar dos seus deliciosos mojitos, a bela estátua de Hemingway no seu terraço, os zombies não param no seu restaurante. ( Malecon de Cojimar – Cojimar)