O Centro Cultural Teatro Guaíra, Secretaria da Cultura e a Guairacá Cultural promovem de 20 a 22 de novembro o 1º Festival de Ópera do Paraná. Serão apresentadas as óperas Marumby, La Bohème, La Serva Padrona e Sidéria, considerada a primeira ópera genuinamente paranaense, escrita em 1912. As apresentações serão no auditório Salvador de Ferrante (Guairinha).

O 1º Festival de Ópera do Paraná é uma iniciativa do produtor curitibano Gehad Hajar para revelar e promover cantores, músicos, produtores e obras feitas no Paraná, e tem apoio e realização do Centro Cultural Teatro Guaíra. Das quatro óperas que serão apresentadas, duas são paranaenses, Marumby e Sidéria. Desde o início do século 20, o estado é considerado celeiro de produções operísticas. Porém nunca houve um evento que relevasse este gênero, disse Hajar.

As apresentações terão também as participações de alunos da Escola de Dança Teatro Guaíra, Orquestra Rabecônica do Brasil e Orquestra de Câmara.

A acústica do Guairinha é considerada pelos especialistas como ideal para cantos líricos e foi melhorada nos últimos meses com a reforma estrutural, de estofamento e forração (a reforma completa será entregue no início de dezembro). Após cinco anos, o Teatro Guaíra retoma a montagem de óperas e o Guairinha é o auditório ideal. O espaço é um dos principais do país quando se trata de acústica, diz a diretora-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra, Monica Rischbieter.

Segundo ela, a junção de música, poesia e dramaturgia torna a ópera um espetáculo completo, considerando que cenários, figurinos e adereços também são muito elaborados e tornam o gênero completo.

Das quatro óperas que serão apresentadas, La Serva Padrona tem produção do Centro Cultural Teatro Guaíra.

ORIGEM – A ópera surgiu da união da poesia dramática e da música. Os primeiros registros são da Grécia antiga, quando Sófocles usava corais musicais nas encenações. Há registros também que remontam à Idade Média, com encenações baseadas em textos bíblicos.

Mas é a partir do século16 que surge na Itália a concepção de ópera que se conhece atualmente. Músicos, cantores, poetas e dramaturgos passaram a produzir espetáculos chamados de comédias madrigais.

No século 20, a estrutura da ópera não sofre grandes alterações. A diferença foi na direção porque se passou a explorar a psicologia, o surrealismo o neoclassicismo. Os compositores mais importantes desta época são Alban Berg, Benjamin Britten, Claude Debussy, George Gershwin, Richard Strauss, Philip Glass, Michael Tippett, Hans Werner Henze, Francis Poulenc e Igor Stravinsky.

Obras que compõem o 1º Festival de Ópera do Paraná:

MARUMBY (1928)

Música e libreto de Benedicto Nicolau dos Santos.

A ópera Marumby será encenada pela primeira vez na forma completa. O trabalho desta montagem é do pesquisador e diretor Gehad Hajar, e do maestro Jaime Zenamon, com as participações do Coral Sinfônico do Paraná, Orquestra Rabecônica do Brasil e Escola de Dança Teatro Guaíra.

Na primeira encenação, em 19 de dezembro de 1928, e nas duas récitas que se seguiram, no antigo Theatro Guayra, o chefe de Polícia cortou duas árias (Melindrosas e Boêmios), e censurou dois recitativos, o Polaco Miguel, morador de Santana do Abranches, e o Alemão, morador do antigo Campo da Galícia. A tesoura da censura oficial teria agido em nome da moral e dos bons costumes e para evitar críticas ao então prefeito de Curitiba, engenheiro Moreira Garcez.

A versão contemporânea de Marumby recebeu sons de violas, rabecas, adufes e tambores. O compositor, Benedicto Nicolau dos Santos, viveu e ensinou música em Paranaguá, e lá conviveu com o maestro Heitor Villa-Lobos.

A ópera começa quando a Fada de Curitiba (estátua do torreão do Paço Municipal) alça voo e pousa sobre os ombros de dois gigantescos Atlantes, para narrar a história da cidade.

Marumby tem direção geral, produção, projeto e pesquisa de Gehad Ismail Hajar, da Guairacá Cultural; regência geral, direção musical e arranjos de Jaime Zenamon; consultoria, Rafael Greca de Macedo; maestro de coro, Isaque Lacerda.

LA BOHÈME (1896)

Musica: Giacomo Puccini.

Libreto: Luigi Illica e Giuseppe Giacosa

Ópera em quatro atos baseado no livro de Henri Murger, Scènes de la Vie des Bohèmes. É um exemplo de ópera proletária, cujos personagens são trabalhadores intelectuais que passam por dificuldades financeiras, sem dinheiro nem para o aluguel.

Esta peculiaridade inovou o meio operístico, pois até esta composição de Puccini quase todas as obras do gênero retratavam a realeza, a nobreza, os guerreiros e deuses da mitologia grega. Assim como Violetta Valéry, em La Traviata, de Verdi, a protagonista Mimi (La Bohème) morre de tuberculose.

No entanto, ao contrário de Violetta, cortesã dos salões elegantes de Paris, Mimi é vendedora de flores. A humanidade das personagens, acompanhada do brilhantismo típico das composições de Puccini, tornam La Bohème uma das óperas mais famosas do compositor, transcorrida na Paris de 1830

Esta montagem tem direção musical de Priscila Malanski e direção artística de Alex Wolf.

LA SERVA PADRONA (1733)

Música: Giovanni Battista Pergolesi.

Libreto: Genaro Antonio Federico.

La Serva Padrona é uma ópera de um ato, com 45 minutos de duração. A estreia ocorreu em 1733, no Teatro São Bartolomeu, em Nápoles (Itália), e foi apresentada inicialmente como parte de uma ópera séria, mas acabou se tornando a obra mais conhecida de Pergolesi.

La Serva Padrona conta as desventuras da criada Serpina, educada desde a infância pelo patrão Uberto. Ao chegar à idade adulta, Serpina cai de amores pelo patrão e prepara uma série de armadilhas para conseguir casar com Uberto, com a cumplicidade do criado Vespone. A direção de La Serva Padrona é de Edson Bueno.

SIDÉRIA (1912)

Música: Augusto Stresser.

Libreto: Jaime Balão.

Sidéria é considerada a primeira ópera genuinamente paranaense. Composta no gênero tragédia, conta a história de um triângulo amoroso entre a jovem Sidéria, o apaixonado Juvenal e o desertor Alceu, tendo como pano de fundo a Revolução Federalista, conflito que as cidades de Curitiba e Lapa haviam vivenciado havia pouco tempo de forma dramática (Cerco da Lapa, em 1833).

A obra tem valor histórico porque ilustra um período de significativo desenvolvimento da cultura e da identidade do Estado do Paraná. A estreia de Sidéria aconteceu no dia 3 de maio de 1912, no antigo Theatro Guayra, que estava localizado onde hoje está a Biblioteca Pública do Paraná.

O presidente do estado, Carlos Cavalcanti, compareceu à estreia da ópera. A montagem foi notícia em vários jornais e teve repercussão nacional, com matéria especial na revista Fon-Fon, periódico carioca de grande prestígio na época.

A temporada estendeu-se por mais sete apresentações em Curitiba e duas em Ponta Grossa. Canções da ópera foram incrementadas aos saraus musicais da sociedade local, tornando-se populares.

A ópera Sidéria possui duas versões. No 1º Festival de Ópera do Paraná será apresentada a primeira versão da obra, conforme o original, a bico de pena datado de 1909 e que se encontra no Museu da Imagem e do Som, em Curitiba.

A versão original foi escrita para piano, solistas e coro, e possui dois atos. O original precede a versão final, levada aos palcos na estreia da obra em 1912, quando foi acrescentado um terceiro ato e a orquestração de Leo Kessler. O maestro regente no Festival de Ópera do Paraná será Isaque Lacerda.

 

SERVIÇO: 1º Festival de Ópera do Paraná.

Dia 20 às 18h – Marumby (entrada franca)

Dia 21 às 18h – La Bohème, às 20h; La Serva Padrona (R$20,00 e R$10,00)

Dia 22 às 18h – Sidéria (R$20,00 e 10,00)

Local: Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha) – Rua XV de Novembro – Curitiba – Paraná.