ANGELA BOLDRINI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O rapper angolano MCK afirmou, nesta terça-feira (24) ter sido impedido por autoridades de seu país de embarcar para o Brasil, onde participaria do festival Terra do Rap, no Rio de Janeiro. “Me apresentei na hora estabelecida para o embarque e quando eu tentava passar na imigração, o oficial disse que havia uma interdição no meu passaporte”, conta o rapper à reportagem. Segundo ele, após cerca de meia hora, ele perguntou sobre sua situação e foi informado por outro agente que “havia ordens superiores” para reter seu passaporte até a decolagem do avião do aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda. “Não vejo outra explicação senão perseguição política”, afirma ele, que diz ter sido vítima frequente de intimidação do governo. “Há um histórico, pelo simples crime de pensar diferente.” MCK é crítico ao governo de José Eduardo dos Santos, 73, presidente de Angola há 36 anos. O país, que completou 40 anos de independência, vive um período conturbado politicamente após a prisão de 15 ativistas do grupo Movimento de Jovens Revolucionários Angolanos (MJRA), em junho de 2015, sob a acusação de tentativa de golpe de Estado. Entre eles está o também rapper Luaty Beirão, que no fim de outubro encerrou uma greve de fome de 36 dias que mobilizou artistas de todo o mundo contra a repressão em Angola, incluindo o brasileiro Chico Buarque o escritor moçambicano Mia Couto. “Pela Constituição do nosso país, eu tenho o direito de viajar”, diz MCK, que participou do vídeo em que os artistas pediam a libertação dos presos. Ele afirma que entrará com representação judicial junto ao serviço de imigração angolano na manhã desta quarta (25) e espera poder embarcar para o Brasil na quinta, para apresentar-se no mesmo dia no Rio. Vinicius Terra, curador do festival no Rio, que tem como tema neste ano a África lusófona, disse considerar “muito difícil conseguir a liberação”. Ele diz que entrou em contato com autoridades brasileiras para discutir o caso, mas que ouviu que nada poderia ser feito. ATIVISMO MCK afirma que o movimento hip hop está especialmente na mira da repressão por ser “o principal veículo de divulgação de denúncias e críticas da juventude”, por causa da forte tradição oral africana. “Temos ativistas presos porque pensam diferente, agora pessoas são interditadas de viajar, estamos numa situação política estacionária”, diz. “Há uma clara demonstração de abuso de poder e eu quero que haja responsabilização.” Ele diz, contudo, que não teme no momento ser preso. “Não há nenhuma acusação contra mim. Se eu for detido, serei um preso político, um preso de consciência.” Procurada pela reportagem, a embaixada de Angola em Brasília não conseguiu confirmar a interdição da viagem do rapper até o iníciod a noite desta terça. Um funcionário da assessoria de imprensa afirmou não se tratar de perseguição política e disse que provavelmente o rapper apresentaria algum problema com o fisco que o impediria de viajar.