GRACILIANO ROCHA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Além da palavra de delatores, os indícios contra pecuarista José Carlos Bumlai se concentram num emaranhado de operações financeiras consideradas suspeitas pelos investigadores, como empréstimos bancários e o grande volume de dinheiro vivo que ele movimentava. Preso nesta terça (24) na etapa mais recente da Operação Lava Jato, Bumlai realizou saques de R$ 5 milhões, em dinheiro vivo, na boca do caixa entre 2010 e 2013.

Os saques em espécie foram reportados pelo Banco do Brasil porque cada um deles ultrapassou R$ 100 mil, conforme norma do Banco Central. Ao todo, foram 37 operações entre janeiro de 2010 e outubro de 2013, com valores variando entre R$ 100 e 265 mil. O dinheiro veio de duas contas -uma tendo o próprio empresário como titular e outra em nome da usina São Fernando Açúcar e Álcool, de sua propriedade- e acionou o alerta do Coaf, o órgão de inteligência financeira do Ministério da Fazenda.

Em outubro de 2013, o policial militar Marcos Sergio Ferreira realizou um saque de R$ 100 mil de uma conta de Bumlai em uma agência do Bradesco, em São Paulo. Como não havia vínculo aparente de negócio entre eles, o saque levou o Ministério Público Federal a pedir ao juiz Sergio Moro a realização de uma operação de busca na casa do policial. O magistrado indeferiu.

EMPRÉSTIMOS

A principal operação financeira sob suspeita é um empréstimo de R$ 12,1 milhões contraído por Bumlai junto ao Banco Schain e citado por delatores como uma operação de cobertura para pagar dívidas de campanhas do PT. A única garantia oferecida pelo pecuarista foi uma nota promissória. A operação foi listada como um dos empréstimos temerários do Banco Schahin pela fiscalização do Banco Central.

Logo após receber o dinheiro, Bumlai declarou ter emprestado R$ 12,6 milhões à Fazenda Eldorado S.A., empresa que pertencia ao Grupo Bertin, à época controladora de um dos maiores frigoríficos do Brasil. Como não há prova documental que tenha enviado o dinheiro aos Bertin, a Receita Federal afirma que o destino do dinheiro é desconhecido. Os Bertin declararam a devolução a Bumlai do dinheiro em parcelas entre 2005 e 2007, sem pagar nenhum centavo de juros -o que tornou o negócio bastante suspeito, segundo os peritos que o analisaram.

SEM JUROS

A dívida original de Bumlai com Schahin cresceu e chegou a R$ 18 milhões, mas foi supostamente quitada em uma negociação envolvendo a entrega de embriões vivos pelo devedor. A quitação do empréstimo levantou tantas suspeitas quanto a concessão: o banco deu desconto de R$ 6 milhões, o que na prática apagou todos os juros e correção. A quitação ocorreu em 27 de janeiro de 2009, um dia antes do grupo Schahin assinar o contrato com a Petrobras para operar a sonda Vitória 10.000, um negócio de US$ 1,6 bilhão.

Na versão de três delatores, o empréstimo de Bumlai com o banco foi apenas uma simulação para levantar dinheiro para o PT e que os Schahin foram pagos de fato com o contrato da Petrobras. Salim Schahin, um dos controladores do grupo Schahin e agora delator, diz que os embriões invocados por Bumlai como pagamento jamais existiram. O Banco Schahin foi vendido ao BMG em 2011.

OUTRO LADO

A reportagem não conseguiu ouvir o advogado Arnaldo Malheiros, que defende Bumlai, nem representantes do grupo Bertin. Recados foram deixados, mas não foram respondidos. A reportagem não localizou até as 20h desta terça o policial Marcos Sérgio Ferreira.