SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Banco Central manteve nesta quarta-feira (21) a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, com decisão unânime. Foi a segunda reunião seguida em que a taxa ficou inalterada. A decisão era esperada por todos os 56 economistas ouvidos pela agência internacional Bloomberg. O relatório Focus, feito pelo Banco Central com economistas de instituições financeiras, já indicava manutenção da taxa nesta quarta (21). O boletim indica que a Selic encerrará o ano em 14,25%. Para 2016, porém, a expectativa é que a taxa básica recue para 12,75%. CENÁRIO NACIONAL A inflação acumulada no ano está em 7,64%, o que embasaria um aumento de juros pelo Banco Central. Ao elevar a Selic, o BC tenta conter o aumento dos preços, pois torna os empréstimos mais caros. Com isso, inibe o consumo, o que contribuiria para o controle da inflação. No entanto, ao encarecer os empréstimos, fica mais difícil o financiamento das empresa e eleva também o custo de oportunidade entre o empresariado. Ou seja, por que investir em um negócio quando os títulos públicos e demais produtos da renda fixa pagam dois dígitos ao ano? A decisão afeta o PIB, em um contexto de forte desaceleração que se aprofundou no terceiro trimestre. O índice de atividade econômica do BC recuou 0,76% em agosto na comparação com julho, enquanto em relação ao mesmo mês de 2014 a queda foi de 4,47%. Havia expectativa de que a inflação cedesse no trimestre passado. No entanto, novos reajustes de combustíveis devem seguir pressionando o IPCA, índice oficial. Além disso, a desvalorização do real em relação ao dólar é um dos fatores que pressionam a inflação. Em 2015, a moeda americana já acumula alta de 48,9% ante a divisa nacional. “A inflação não tem parado de subir, se desviando cada vez mais do centro da meta, de 4,5% ao ano. Embora isto seja justificativa suficiente para o BC, qualquer alta tende a ser evitada dada a retração na atividade econômica, o aumento no desemprego, a queda nas vendas no varejo e na produção industrial”, afirma Paulo Gomes, economista-chefe da AZ FuturaInvest. A pesquisa Focus vê a inflação encerrando 2015 a 9,75%, enquanto a expectativa para o próximo ano já está em 6,12%. Para Alberto Ramos, economista do banco americano Goldman Sachs, apesar de a inflação estar pressionada, a fraca atividade econômica dificulta a elevação de juros pelo BC. “Nós somos da visão de que em vez de um aumento adicional da Selic, o Copom deve optar por deixar a taxa em 14,25% por um período mais longo de tempo (possivelmente durante todo 2016) para continuar a desinflacionar a economia e assegurar que a inflação convirja para a meta em algum momento de 2017”, diz. O QUE É SELIC E COMO AFETA A ECONOMIA A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC (Banco Central) para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e, assim, pode consumir mais. Esse aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior. Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento -que ficam mais caros-, a economia desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação. Com a alta da taxa básica de juros (Selic), o BC aumenta a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a “faltar” dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. Se a taxa cai, ocorre o inverso. É por isso que os empresários pedem cortes nas taxas: para viabilizar investimentos, ainda mais em tempos de economia fraca, como agora. Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores. Em um cenário normal, é também por esse motivo que as Bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve (BC dos EUA) de que os juros possam cair. Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida absorve o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.