Após três dias de reflexões, debates, apresentação de trabalhos acadêmicos e propostas de políticas públicas em que Curitiba se consolidou como referência no enfrentamento da violência contra as mulheres, a 1ª Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência encerrou os trabalhos com saldo positivo de participação e no alcance dos objetivos.

Foram realizadas oito palestras, 28 painéis temáticos, conferências, workshops, oficinas e mesas redondas, além de apresentados 17 trabalhos acadêmicos, 18 pôsteres, oito projetos e seis depoimentos. A secretária da Mulher de Curitiba, Roseli Isidoro, conta que foi abordada por inúmeras pessoas interessadas transformar projetos em ações do poder público para mudar a realidade das mulheres que sofrem violência, garantir direitos e promover a conscientização acerca do respeito às mulheres.

A jornada cumpre sua missão, que não era só refletir conteúdos, mas buscar experiências, trabalhos acadêmicos e ideias que possam se tornar, quem sabe, projetos para continuar salvando a vida das mulheres curitibanas, disse Roseli.

Para o coordenador do curso de Psicologia da Universidade Positivo, Raphael Di Lascio, que integrou a comissão organizadora do evento, as pessoas estão realmente interessadas em debater, pensar, refletir e criar novas ações. É um movimento necessário para que a gente consiga atingir e reduzir cada vez mais a violência contra a mulher.

A professora do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lennita Oliveira Ruggi, disse que um dos desafios futuros será continuar dando visibildade e debatendo a violência de gênero, as violações de direitos humanos contra as mulheres como forma de contribuir para fomentar novos coletivos e redes feministas.

Nós, da UFPR, ficamos bastante satisfeitas pela realização de um evento amplo, que incluiu pessoas de dentro e fora da academia, além do serviço público. Mas tratou-se, especialmente, de um evento diverso, abrangendo movimentos contra a violência obstétrica, pornoterrorismo, abordagens estatais e religiosas de acolhimento às vítimas de violência e esforços teóricos de interpretação e transformação, disse.

Jornada nacional

A doutoranda em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, Léa Tosold, destacou o diferencial da metodologia que foi adotada nos debates. Gostei da dinâmica e mesmo da disposição das nossas mesas de discussão, que tornaram o ambiente mais informal, pouco hierarquizado e que ajuda na dimensão do compromisso compartilhado que a causa exige de todos nós, disse.

Beatriz de Oliveira, estudante de Letras Português da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também veio a Curitiba apresentar um pôster sobre a violência contra a mulher, a partir dos recortes de um trabalho de faculdade. Ela avalia que gostaria de ter participado de todas as palestras, oficinas, debates, que ocorreram simultaneamente. E conta que, sobre a apresentação do seu pôster, o objetivo foi colher opiniões e, com isso, acrescenta e enriquecer o trabalho.

Uma das 104 colaboradoras voluntárias da 1ª Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência foi Caroline Cristina Dalagrana, que estuda enfermagem na UP. Ela se envolveu nas atividades de recepção, credenciamento e infraestrutura do evento. A violência contra as mulheres é uma questão muito importante e a gente compartilhar esse aprendizado com as pessoas de fora foi interessante, disse.

Referência

A jornada encerra também no Dia Internacional de Mobilização pelo Fim da Violência contra as Mulheres. A solenidade oficial de encerramento acontece nesta quarta-feira (25) a partir das 19h no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFPR, no Prédio Histórico da praça Santos Andrade.

Para Elza Campos, coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Curitiba, essa é uma data simbólica e de grande importância para o movimento feminista e que marca a luta pelo fim da violência contra as mulheres na América Latina e Caribe. Quero parabenizar a iniciativa pela diversidade de temas e participação de diversas mulheres, a sociedade, juventude, profissionais que atuam nessa área, estudiosos e estudiosas e, particularmente, pela ousadia de realizar uma jornada culminando o seu encerramento no dia 25 de novembro.

A secretária Roseli Isidoro disse ainda que a sensação ao final dos trabalhos é de missão cumprida. Curitiba já se tornou referência reconhecida pelo Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos com o compromisso da gestão municipal em levar adiante esse termo e não só refletir sobre dados da violência, mas sobretudo desenvolver ações concretas, serviços, propiciando maior segurança às mulheres em situação de violência na cidade de Curitiba.

A realização da 1ª Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência inspirou a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande, MS, Eloísa Castro Berro, a copiar a ideia. Achei a iniciativa tão maravilhosa e pensei: por que nós não pensamos nisso antes? Foi muito bom, está todo mundo de parabéns. Saio daqui e vou defender que a gente leve a próxima jornada para Campo Grande porque acho que é um avanço grande esse debate.