MARTHA ALVES SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O produtor Luciano Bonilha Leão, 38, que trabalhava para a banda Gurizada Fandangueira, disse que “é mais uma vítima da tragédia” na boate Kiss, durante depoimento nesta quarta-feira (25) ao juiz no Fórum de Santa Maria. Leão é acusado de comprar os artefatos pirotécnicos que provocaram o incêndio na Kiss, que matou 242 pessoas e deixou mais de de 600 feridos, em Santa Maria (RS), em 27 de janeiro de 2013. Durante pouco mais de uma hora de depoimento, o produtor reconheceu que comprou os artefatos pirotécnicos, mas enfatizou que cumpria ordens de Danilo Jaques, responsável pela banda e único integrante morto na tragédia. Segundo o réu, foi Jaques que o ensinou a manusear o fogueteiro. Leão disse ao juiz que era o responsável por armar o sistema que acendia o artefato pirotécnico no show no momento determinado pelo grupo. O réu explicou que o mecanismo funcionava colocado em uma munhequeira, que ficava no pulso do cantor, e era acionado por ele à distância. Sobre o artefato, o produtor relatou que nunca recebeu a informação que era combustível. Novamente citou o nome de Jaques para justificar a temperatura do fogo do objeto e disse que acreditou nele quando disse “que era frio”. O réu também tentou todo o tempo minimizar seu papel na banda. Leão falou que ser chamado de produtor era “muita responsabilidade” para quem só ganhava R$ 50,00 de cachê. No dia anterior, outro réu Marcelo de Jesus dos Santos, cantor do grupo, disse que Leão atuava como uma espécie de assistente de palco. No depoimento, Leão falou que fazia apenas compras para a banda sem saber do que se tratava, nunca participou das reuniões de ensaio e muito menos das decisões. O produtor disse ainda que não conhecia os donos da Kiss. “Nessas bandas existem as estrelas, e eu era uma formiguinha”, disse ao juiz. Para Leão, a maior condenação é ouvir que ele e o cantor da banda teriam matado 242 pessoas. Chorando, disse que pensou várias vezes em se matar e não tem certeza sobre o seu futuro. O advogado do réu confirmou a informação e disse que ele passa por tratamento psicológico. Após o depoimento ao juiz, Leão utilizou o direito de permanecer calado e não respondeu às perguntas de promotores e assistentes de acusação. Na primeira semana de dezembro, ocorrem os depoimentos dos sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffman. PERDÃO O vocalista Marcelo de Jesus dos Santos, da banda Gurizada Fandangueira, foi o primeiro dos quatro réus a depor no processo criminal da Kiss, no Fórum de Santa Maria, na última terça-feira (24). A audiência foi acompanhada por familiares das vítimas. Apesar de ser informado do seu direito de permanecer em silêncio, o cantor optou em falar. Ele relatou que o uso de artefatos pirotécnicos faziam parte das apresentações da Gurizada desde 2009. Segundo Santos, os fogos só eram utilizados em shows com a autorização dos donos das casas noturnas e que os sócios da Kiss nunca manifestaram restrições quanto ao uso. No depoimento, Santos admitiu que não se preocupou em se informar sobre os artefatos pirotécnicos e nunca foi advertido sobre o uso em ambientes fechados. “Era como uma vela de bolo, não tinha perigo nenhum”, falou. Os laudos da perícia na boate indicaram que artefato pirotécnico foi o causador do incêndio ao entrar em contato com a espuma que forrava o teto. Durante o depoimento, o cantor pediu perdão por qualquer coisa errada que tenha feito. “Tinha pessoas que a gente ama lá dentro”, disse.