VINICIUS PEREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os problemas no transporte público já são, por si só, uma boa publicidade a qualquer iniciativa que busque alterar a realidade do setor no país.
Mesmo assim, aplicativos de táxi vêm investindo alto em propaganda em um momento que alternativas, como o Uber, também crescem.
Nesta sexta-feira (27), o Uber anunciou, por exemplo, uma redução de 15% na tarifa para viagens em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Com a movimentação do Uber, os apps de táxi também vêm agindo.
Corridas grátis, descontos, inserções em televisão durante a novela, patrocínio a times de futebol e até mesmo propagandas no metrô -concorrente do táxi- fazem parte da estratégia para conquistar novos usuários e também taxistas às redes.
A disputa é por um mercado com cerca de 34 mil táxis (apenas em SP) e que movimenta mais de R$ 1 bilhão por mês no país, segundo estimativas do setor.
A 99Taxis é uma das start-ups na disputa pela liderança. A empresa começou a ser mais agressiva no marketing, após receber investimento de R$ 130 milhões no ano passado e aumentar em 100% a verba destinada a publicidade em 2015 em comparação a 2014.
Após construir uma base de taxistas, que hoje gira em torno de 120 mil pelo país, a 99 buscou então ser conhecida pelo público -e uma das apostas é o futebol. Começou então a patrocinar oito clubes no país, entre eles Corinthians, Cruzeiro e Bahia.
Trens do metrô de São Paulo adesivados de amarelo -cor do aplicativo- também fizeram parte da estratégia.
Além disso, descontos de 20% na corrida (percentual bancado pelo aplicativo) foram oferecidos aos usuários no início deste ano. O percentual se mantém em promoções esporádicas pelas redes sociais.
Mas o ponto alto foi na TV, com anúncios durante o Jornal Nacional e a novela das 21h da Globo.
“Em junho contratamos a agência África para massificar a 99. Esse é o objetivo da propaganda: fazer com que as pessoas conhecessem as vantagens dos aplicativos de táxi e, além disso, fizemos com que a comunicação fosse leve e bem humorada”, diz Maria Elisa Silva, diretora de marketing da empresa.
CORRIDAS PARA O AEROPORTO
De acordo com taxistas, um ponto crucial para o crescimento do Uber em São Paulo foi a cobrança de 50% sobre o valor da corrida dos táxis ao aeroporto de Guarulhos. Os trabalhadores afirmaram que o número de corridas havia despencado.
Foi aí que a 99 decidiu combater isso agindo para que os taxistas abrissem mão da cobrança extra. Após consulta, a empresa resolveu abdicar da taxa.
“Já começamos a sentir o retorno de investimento em torno de 20% a 30%, que as pessoas já estão usando mais o aplicativo e nossos números estão crescendo”, completa Silva.
A Easy Táxi, a outra empresa na busca pela liderança, conta também com 120 mil taxistas cadastrados. Ela iniciou parcerias com bares e marcas de bebidas alcoólicas para oferecer descontos aos usuários que pedissem táxis via aplicativo.
A start-up, que recebeu uma série de investimentos em três anos, sendo o último de cerca de R$ 120 milhões, em 2014, também ofereceu descontos para iniciantes, Ela também mantém parceria com empresas, como Santander e TAM, para que os empregados dessas empresas ganhem descontos ao utilizar táxis via aplicativo.
“A tendência é isso [a propaganda]. Mas só conseguimos fazer isso graças à malha de táxis pulverizada, então fazemos uma ação unificada. Por isso, conseguimos juntar a classe toda e, por meio da tecnologia, prover descontos via aplicativo”, diz Dennis Wang, co-CEO da Easy Táxi.
O futebol também faz parte do rol de promoções. A empresa oferece 10% de desconto nas corridas para os Sócio Torcedores de 70 clubes do país.
Apesar de não falar em percentual ou valores, a empresa afirma que há um potencial de crescimento para ela no mercado.
“No Brasil, aproximadamente 18% dos usuários de táxi que têm smartphone usaram o aplicativo. Isso dá para crescer muito só com gente que tem celular. Esse mercado deverá bater os 100% logo, então imagina englobando todo mundo”, afirma Wang.
CONCORRÊNCIA
Apesar de disputarem o mesmo mercado, a opinião das empresas é convergente: há espaço para todo mundo.
Já em relação ao Uber, há o pedido dos aplicativos por uma melhor regulação do setor.
“Para a gente não foi uma surpresa a chegada do Uber. Somos a favor da regulamentação do setor. Tem muitas delas que querem regularizar os aplicativos de táxi, então para nós uma lei nacional ajudaria muito. Eu defendo que a lei seja respeitada”, diz Wang.
“A lei hoje é muito clara, a única forma de transporte individual de passageiro, é o táxi”, conclui.
Apesar de não comentar sobre o avanço do Uber no mercado, a 99Taxis afirma observar as movimentações do mercado e não descarta novas possibilidades para um aceno a esse tipo de transporte.
“A gente trabalha muito com o mercado regulatório, ainda há uma demanda muito grande [no mercado de táxi]. Hoje seria obviamente tirar o foco [criar uma empresa concorrente], mas acompanhamos o mercado e queremos sempre inovar”, diz Pedro Somma, diretor de operações da 99.
CALCULADORA
Em um momento em que as possibilidades de transporte crescem, também aumentam as dúvidas em relação a qual delas é mais vantajosa financeiramente.
O economista da FGV, Samy Dana, desenvolveu uma calculadora que mensura os gastos envolvidos entre ter um carro próprio, utilizar táxi, Uber ou um carro compartilhado todos os dias.
Há ainda a possibilidade de alterar o número de corridas e a quilometragem diária nos veículos de transporte público individual e, no carro particular, os custos de seguro, litro da gasolina, desvalorização do bem, entre outras variáveis.