BEATRIZ MONTESANTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na época em que ainda era estudante de música, Thiago Cury não se encaixava nos meios musicais: era considerado muito improvisador para a música clássica, e muito instrumentista para os meios populares.
Anos mais tarde, após fundar um selo de música experimental, Cury, 42, criou o Festival Música Estranha, dedicado integralmente à produção que não se encaixa. O evento, cuja terceira edição começou nesta quarta-feira (25), leva até domingo (29) atrações esquisitas para diferentes pontos da cidade.
“São Paulo tem um espaço ideal para isso, mas a cena é muito careta”, diz o curador, que decidiu criar o festival após ter contato com o cenário indie de outras cidades, em particular, Nova York.
Entre os espaços que receberão o evento, estão o Sesc Vila Mariana, o Centro Cultural São Paulo, a Praça das Artes, o Mirante 9 de Julho e Nos Trilhos, na Mooca.
É lá que acontece uma grande maratona musical, que começará às 16h e irá noite adentro.
Na virada de sábado para domingo, tem início a Classical Music Rave: festa que mistura concerto de música clássica às baladas eletrônicas. Raves do gênero têm se popularizado na Europa, pelas mãos de um coletivo baseado em Amsterdã.
A iniciativa teve uma edição pocket no Festival Música Estranha do ano passado, na Red Bull Station, e agora acontece na íntegra pela primeira vez no Brasil.
Ao longo da noite, pelos trilhos, entre carcaças de trens e sob luzes psicodélicas, passarão clarinetes, saxofones, contrabaixos e guitarras.
“É um projeto que possibilita o intercâmbio e a quebra de paradigmas”, diz Cury.”Serão timbres diferentes, instrumentos diferentes, misturas diferentes”.
MERCADO DE VANGUARDA
“Acho incrível que exista alguém no Brasil que faça algo tão maluco quanto criar um festival para música estranha e juntar toda essa criação que não se encaixa no sistema”, diz o baixista Shanir Ezra Blumenkranz, líder do grupo nova-iorquino Abraxas.
A banda que faz uma espécie de “rock ritualístico judaico” tem, na definição de Cury, o “DNA da mistura”: unem a bagagem de música clássica com jazz, canções sefardistas e “todo o caldeirão que é Nova York”.
O grupo apresentará sábado (28), nos Trilhos, composições do saxofonista John Zorn tocadas, por exemplo, com um gimbri – instrumento ancestral de três cordas, utilizado tipicamente pelos gnaoua (confraria mística da África subsaariana).
Com atrações do gênero, os projetos de Cury vão além de uma semana de música estranha: ele almeja criar um mercado para a vanguarda, atraindo cada vez mais ouvintes para o que prefere chamar de “música exploratória”.
Apesar de ser adepto da iniciativa, Shanir adverte: “Toda criação avant-garde é underground. Por um lado, queremos muito que muitas pessoas venham ao show e gostem da música, mas se a vanguarda sair do underground e se tornar popular, ela deixa de ser vanguarda”.

DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO
SEXTA (27)
20h – FES – Flat Earth Society, projeção do filme “The OysterPrincess” (1919), de Ernst Lubitsch
ONDE: Praça das Artes, av. São João, 281
QUANTO: grátis

SÁBADO (28)
19h30 – Os Mulheres Negras, Los Pirañas, Abraxas e Classical Music Rave
ONDE: Nos Trilhos, av. Visconde de Parnaíba, 1253
QUANTO: R$ 20

DOMINGO (29)
15h – Cyclophonica
ONDE Ciclofaixa da avenida Paulista
QUANTO: grátis

17h – Coletivo Capim Novo
ONDE: Mirante Nove de Julho, r. Carlos Comenale, s/n, atrás do Masp
QUANTO: grátis
Programação completa em www.musicaestranha.me