JOSÉ MARQUES, ENVIADO ESPECIAL
MARIANA, MG (FOLHAPRESS) – O Ministério Público de Minas Gerais deu um prazo de 24 horas para a mineradora Samarco depositar os R$ 292 milhões que deve à Justiça. Caso contrário, pedirá que a Vale e a BHP Billiton, controladoras da empresa, paguem a conta.
A mineradora, presidida por Ricardo Vescovi e responsável pela barragem que se rompeu em Mariana (MG), teve as contas bloqueadas após ficar devendo o montante, que serviria como garantia de que ela cumpriria responsabilidades legais com as famílias atingidas pelo fluxo de rejeitos de mineração no último dia 5.
O dinheiro não foi depositado até esta segunda (30) e, na última sexta (27), a empresa emitiu comunicado para funcionários e fornecedores anunciando a suspensão dos pagamentos por conta do bloqueio.
A medida gerou críticas do promotor da comarca de Mariana, Guilherme Meneghin, que tachou a empresa presidida por Ricardo Vescovi de “desleal” e de “não corresponder com a verdade” em suas ações.
“Desde o dia 10, a Samarco foi intimada. Se ela tivesse cumprido a decisão, não tinha mais ordem de bloqueio, não paralisava suas contas e acabava esse problema”, disse o promotor, na tarde desta segunda (30), no fórum da cidade.
“Ela fez isso simplesmente para jogar os empregados contra a população atingida, que é uma forma desleal de tratar essa questão, que é muito importante”, afirmou.
Para Meneghin, a mineradora tem atuado em contradição com a imagem de responsabilidade que tem tentado passar à imprensa e pelas redes sociais.
O promotor disse que deu um “ultimato” para que a Samarco deposite o dinheiro restante ou entrará com uma ação de desconsideração da pessoa jurídica, que, caso a Justiça acate, obrigaria os sócios a bancarem a conta da empresa controlada.
O bloqueio também foi usado pela mineradora para justificar o atraso no pagamento de outros R$ 292 milhões da primeira parcela de um fundo destinado a reparos ambientais causados pelo rompimento da barragem.
‘BOTEQUIM’
Ao tomar conhecimento de que a Samarco havia descumprido a decisão, o juiz Frederico Gonçalves, que determinou o bloqueio, disse que a empresa “sumiu” com R$ 292 milhões “como se fosse o botequim da esquina”.
“Em outras palavras e em português claro: a requerida sumiu com o dinheiro, embora, em 31 de dezembro de 2014, tivesse em seu caixa mais de 2 bilhões de reais”, disse o juiz em liminar publicada no dia 25. Ele continuou, escrevendo que a Samarco “vem adotando estratégia jurídica indigna e deliberada de, como se fosse o botequim da esquina, não cumprir o mandamento judicial”.
Ele havia pedido o bloqueio do dinheiro restante sob custódia do Banco Central, em forma de títulos de crédito, por exemplo, até completar os R$ 300 milhões iniciais.
A reportagem procurou a Samarco para comentar a declaração do promotor, mas ainda não obteve resposta.