Depois da Standard & Poor’s, agora a Fitch Ratings, outra agência de análise de risco financeiro, tirou o grau de investimento do país. As notas caíram de BBB- para BB+.

São três agências internacionais de classificação de risco: a Fitch Ratings, a Standard & Poor’s e a Moody’s. Um país detentor de grau de investimento conforme os critérios destas agências é considerado um bom pagador, conceito que identifica uma economia que se constitui em referência para aplicações de fundos de investimento estrangeiros e entrada de capital produtivo. Alguns dos fundos globais de investimento têm como regra aplicar apenas em países que tenham o selo de bom pagador em pelo menos duas agências, detentores do grau de investimento.

A situação do Brasil, ao perder um duplo grau de investimento, tem o impacto de rebaixamento em relação à posição anterior. Nesse contexto, o que se verifica é uma propensão à ampliação de retirada de capital estrangeiro do país. Por duas razões. Em primeiro lugar, tem-se o que ocorre com o capital especulativo, que diante do rebaixamento sai em busca de países detentores (e mantenedores) do grau de investimento, para maior segurança do capital. Parcela desse capital especulativo poderá até optar por permanecer, desde que os juros e a perspectiva de retorno financeiro sejam maiores. Em segundo lugar, há uma propensão à redução da entrada de capital produtivo do exterior (ou, no mínimo, seu adiamento), o denominado investimento estrangeiro direto-IED, capaz de gerar novos bens e serviços. O IED está vinculado à ampliação dos valores da produção, do emprego e da renda.

A redução da nota pelas agências de classificação de risco significa que o acesso ao crédito no exterior será menor, mais difícil e os juros cobrados serão maiores. Nas condições atuais, com as notas de duas das agências internacionais de classificação de risco atribuídas ao Brasil caindo de grau de investimento para grau especulativo, poderá haver repercussão também sobre a taxa de câmbio, as contas externas e a credibilidade da economia nacional.

Entre as explicações utilizadas pela Fitch para a redução da nota, ela destaca: a perspectiva de uma recessão mais profunda que a esperada anteriormente, a deterioração do cenário fiscal, as contínuas mudanças nas metas fiscais e a crescente incerteza política, que, combinadas, dificultam a capacidade do governo de implementar medidas fiscais para estabilizar a dívida crescente. O cenário externo se mantém difícil para o Brasil, com queda nos preços de commodities, desaceleração da China e maior rigidez no setor financeiro internacional.

Por outro lado, ao justificar a manutenção da perspectiva negativa da nota, a Fitch relaciona a continuidade da incerteza sobre os rumos do país e os respectivos riscos, nos campos econômico, fiscal e político.

Em resumo, o Brasil acaba de perder, na avaliação das duas agências, o carimbo de bom pagador. Ainda que não possa ser considerado um mau pagador, o país terá que assumir maiores custos na obtenção de empréstimos, com juros maiores e prazos mais reduzidos.

As perspectivas são difíceis, mas não nos cabe desistir. O empresário do comércio se caracteriza pela busca de inovação, de modernização, de ampliação e de superação. O Brasil continua a merecer o nosso trabalho. Recuperar o país só depende de nós.

Darci Piana é presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná