O confronto de 29 de abril entre policiais e servidores em greve, no Centro Cívico durante a votação na Assembleia Legislativa das mudanças no fundo de previdência do funcionalismo público estadual, que resultou em mais de 200 feridos, poderia ter sido evitado não fosse a tentativa da oposição de impor uma derrota ao governo para desestabilizá-lo. A afirmação é do líder da bancada governista na Casa, deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), que garante que uma semana antes, a negociação em torno do projeto caminhava para um acordo, frustrado depois que os parlamentares oposicionistas enquadraram as direções dos sindicatos. 

Tentaram fazer no Paraná o que conseguiram fazer com a Dilma em Brasília, diz Romanelli. No quarto mandato como deputado estadual, e pela segunda vez na liderança da bancada de situação – ele foi o líder do governo Requião na Casa – o peemedebista admite que esse foi um dos anos mais difíceis de sua carreira política. E considera que o Brasil vive um momento de radicalização que será difícil de superar, e se refletiu nos conflitos que atingiram também o Estado em 2015. Em entrevista ao Bem Paraná, Romanelli conta detalhes sobre o processo de negociação das medidas do ajuste fiscal que desembocou no 29 de abril e admite que o governo errou ao não apostar mais no diálogo desde o início.

A negociação — No dia 22 de abril – dia seguinte ao feriado – nós tínhamos marcado mais uma audiência pública para terminar de arredondar o projeto. Havia tido um encaminhamento pela aprovação do projeto pela direção da APP (Sindicato) através da Marlei Fernandes e da Elaine Rodella do Sindisaúde após a primeira audiência do dia 9. Antes da segunda audiência, a direção da APP mais a do Fórum se reuniu com os deputados da oposição na Liderança da Oposição na Assembleia. Literalmente eles foram enquadrados a não negociar com o governo e ir para o enfrentamento político. Uma decisão tomada em conjunto com a oposição. No sentido de impor ao governo uma derrota para poder agravar as condições de governabilidade. Na verdade, eles tentaram fazer aqui no Paraná o que se conseguiu fazer com a Dilma em Brasília. .

O 29 de abril —Eu propus que a gente suspendesse a sessão até que se acalmasse o conflito que estava acontecendo. Acho que as decisões foram tomadas – da continuidade da sessão da Assembleia – pelo presidente Ademar Traiano. E daí nem os deputados de oposição, nem da situação saíram do plenário. Não há como interromper um processo que não está suspenso.
Estratégia — Eu tentei negociar antes. Eu fiz uma proposta de transferir a votação para dali há quinze dias em um processo de negociação que eu fiz com a APP. Mas por outro lado, houve um determinado momento um empoderamento dos manifestantes no sentido de era a queda da Bastilha. Ou seja, ‘vamos invadir de novo a Assembleia e impedir na marra que se vote o projeto’.

O pacote — O Beto Richa fez um primeiro governo aberto, dialogou com todos. Programas de governo estruturantes. Um governo social-democrata. Foi reeleito, e foi colhido por uma crise econômica, uma redução brutal de receita no ano passado. Uma frustração das expectativas de arrecadação de 2014, e entrou em crise em 2015. Tinha que fazer os ajustes.

Obviamente optou por um caminho de fazer um pacote de medidas. Eu pessoalmente achava – tanto que nós fizemos depois – que devia ser desmembrado. Eu entendo que a gente podia ter feito tudo o que fizemos e em algumas coisas até avançado mais, se nós tivéssemos tido desde o início um processo mais intenso de negociação e diálogo. Acho que depois dos episódios tudo o que fizemos foi com base nesse princípio e tudo deu certo. A própria votação da lei que estabeleceu a política de reajuste salarial teve todo uma dificuldade, mas nós conseguimos negociar com o governo e os sindicatos. Encerramos as greves, resolvemos as questões todas.

Brasil cordial
Tenho dó dos que vão disputar a eleição

2015 — Eu acho que esse ano concentra toda a minha atividade política, os desafios da minha vida pública em termos de mandato parlamentar. As dificuldades que nós passamos. O enfrentamento que nós tivemos do ponto de vista político, com as medidas duras de austeridade que foram tomadas. As incompreensões, a dificuldade de relacionamento, do processo racional de negociação. Com os sindicatos. Há uma incompreensão grande em relação às medidas que eram necessárias serem tomadas. Um enfrentamento político que acabou indo para um caminho muito ruim.
Radicalização — O País radicalizou. Nós, brasileiros, éramos um povo cordial, como dizia o Gilberto Freire. Foi modificado completamente. O povo brasileiro hoje é outro. Nós aumentamos os níveis de violência na sociedade. Aumentamos intensamente o processo de intolerância, nas mais diversas nuances e dimensões. E vivemos a era dos direitos. As pessoas estão esquecendo dos seus deveres.

2016 — Teremos que ver se a crise econômica vai impactar ainda mais a receita do Estado. Se impactar, obviamente teremos dificuldades. A nossa Constituição Federal tem um problema grave. Ela está indexada. Nós temos concretamente – reduz receita, mas o Estado não pode reduzir a despesa. Quando acontece um desequilíbrio entre receita e despesa, gera um impacto. É só ver a situação dos outros estados. O problema maior são outras vinculações, que não a saúde e educação, você não tem como reduzir a despesa. Mas eu estou confiante que apesar dessa crise, o Paraná ainda é menos vulnerável. Eu creio que a situação do Paraná está mais estável. O governo vai ter que iniciar a ano – obviamente com um orçamento importante para investimentos – mas também vai ter que ter muito pé no chão para não acelerar demais no começo.
Eleições municipais — Sinceramente eu tenho dó dos que vão disputar eleição no ano que vem. Porque não vai ser fácil pedir voto. Os vereadores e prefeitos vão passar por enormes dificuldades. Os eleitores estão muito indignados com tudo o que acontece.

Partido

Penso em ficar no PMDB

PMDB do Paraná –— No caso de Curitiba tem uma disputa judicial entre o (Reinhold) Stephanes (Jr) e o Requião. No caso da direção estadual o Requião queria o partido e ficou com o partido. Acho que ele está satisfeito com a situação.
Curitiba — Acho que o partido tem que ter candidato mesmo em Curitiba. Quem vai ser o candidato é uma decisão da convenção. Não dá para dizer que o candidato é o Maurício Requião. É um processo. Eu pessoalmente sou contrário a como defende o deputado Anibelli Neto, que quer coligação com o Gustavo Fruet.

2018 — Acho que está muito longe. Acho que o Requião vai querer ser candidato à reeleição para o Senado. Dificilmente vai disputar a eleição para o governo. Quem seria o candidato do PMDB? A gente tem que começar a pensar nisso. A única liderança nova que ele tá investido é o filho.
Partido — Eu penso em continuar no PMDB. Também recebi convite de diversos partidos. Tenho uma relação já antiga com o PSB. Tenho recebido convites insistentes do PSDB. PTB tem me convidado insistentemente.