THIAGO AMÂNCIO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A crise econômica ainda não chegou aos criadores do boi angus. A carne, considerada nobre, caiu nas graças do consumidor brasileiro e ganha cada vez mais mercado, mesmo sendo mais cara que a convencional.

A estimativa da Associação Brasileira de Angus é fechar 2015 com um abate de 400 mil cabeças do gado, um aumento de 21% em relação a 2014 e de 167% desde 2010. Outras raças não acompanharam o crescimento. Dados do Ministério da Agricultura mostram que o abate total de gado em 2015 caiu 9% de janeiro a novembro em comparação com o mesmo período de 2014. “O pessoal que consome nosso produto não foi atingido pela crise”, diz o presidente da associação, José Roberto Weber. A carne é vendida tanto para restaurantes de luxo como para o varejo e custa até 20% a mais que a convencional. Cortes nobres vão além: um quilo de picanha angus pode custar até R$ 150 para o consumidor final. O mercado do angus, porém, ainda é de nicho, e a raça representa menos de 5% das 212 milhões de cabeças de gado do país, segundo a associação. A maior parte dos bois brasileiros (cerca de 80%) é da raça nelore.

O angus vem do norte da Europa e, entre os diferenciais de sua carne, estão o marmoreio (gordura entremeada na carne que melhora o sabor) e a maciez (tem menos fibra, porque os bois são abatidos mais jovens, com até 30 meses, ante 42 meses das raças comuns). A venda de doses de sêmen da raça, usadas para fertilização, cresceu 180,6% desde 2009, chegando a 3,7 milhões de unidades em 2014. Em 2013, a comercialização do material genético da raça superou pela primeira vez a do boi nelore, cujas vendas cresceram 5% desde 2009. Isso não significa que o mercado é ruim para criadores de outras raças, de acordo com Sebastião Guedes, vice-presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte.

O preço da arroba do boi gordo anda em alta e chegou a bater recorde histórico em abril deste ano (R$ 150,36). Além disso, os criadores de nelore já têm 50% de um negócio promissor: o cruzamento da raça com o angus. Como o angus vem de países frios, há dificuldade para adaptá-lo ao clima quente de pastos tradicionais brasileiros como os do Centro-Oeste. “Com o cruzamento, você consegue combinar as características de qualidade, maciez, suculência e sabor do angus com a precocidade e a resistência do nelore, adaptado ao nosso clima”, explica Fernando Cardoso, pesquisador de genética da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

O primeiro touro angus chegou ao Brasil em 1906, mas o consumo massivo da carne só começou há dez anos, quando foi criado o programa de certificação. De acordo com gerente nacional do programa de carne angus, Fábio Medeiros, para emitir o certificado a associação acompanha o abate e analisa a idade, o percentual de gordura e a maciez da carne. É preciso que o boi tenha pelo menos 50% de sangue da raça europeia para ser classificado como angus.

Hoje, há mais de 5.000 produtores no país, em oito Estados, de norte a sul: RS, SC, PR, SP, MT, MS, MG e PA. O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e começou a abastecer o mercado externo também com angus em novembro, vendendo para a Alemanha e a Holanda. O angus é a única carne bovina criada e vendida pelo frigorífico VPJ. A empresa, diz o dono Valdomiro Poliselli Jr., fechará o ano com crescimento de 30% em relação a 2014 e começará a vender para a Espanha no primeiro semestre de 2016. “Nossa carne é competitiva em qualquer lugar do mundo”, diz. Mercado não é problema para os pecuaristas. “A gente mal consegue atender a demanda interna”, completa José Roberto Weber.