As estratégias adotadas por Curitiba para ampliar o diagnóstico de HIV/Aids em 2015 foram destaque do estudo Foco na Localização e na População, publicado no início do mês pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids/ONU). De janeiro a novembro, foram realizados pela rede da Secretaria Municipal da Saúde 69.702 testes, que resultaram em 878 novos casos notificados de HIV/Aids. Entre as iniciativas destacadas, estão as atividades do Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), a disponibilização de testes de HIV via a plataforma on-line do projeto A Hora é Agora (www.ahoraeagora.org), e a parceria firmada com organizações não governamentais (ONGs).

A Secretaria Municipal da Saúde estima que existam hoje, na cidade, 13.388 pessoas convivendo com o vírus. Destas, 13.146 já foram diagnosticadas, o que equivale a 98,19% do total. No início do ano, Curitiba foi uma das cidades convidadas a apresentar as ações realizadas no diagnóstico precoce e controle da aids durante o evento Ação acelerada nas cidades, realizado em Mumbai, na Índia.

O objetivo era promover a interação de experiências exitosas em todo o mundo com foco para atingir as metas 90-90-90. Ou seja, que 90% dos infectados pelo HIV sejam diagnosticados – item que Curitiba já conseguiu cumprir. Entre os diagnosticados, que 90% estejam em tratamento e que 90% dos pacientes tratados tenham carga viral indetectável (ou seja, um nível baixo que faz com que a doença não seja detectável em exame). A meta faz parte de um objetivo proposto pela Unaids/ONU para erradicar a epidemia de aids até 2030. Esse compromisso foi efetivado com a Declaração de Paris, em dezembro do ano passado, na França, da qual Curitiba e Salvador que estão entre as signatárias.

Iniciativas

A plataforma virtual foi a principal inovação do projeto A Hora É Agora. O kit de teste rápido, solicitado de forma anônima pela internet, é direcionado para gays e homens que fazem sexo com homens e oferece o serviço Disque Agora, que oferece informações e orientações 24 horas. O objetivo é ampliar o diagnóstico precoce do HIV entre as populações vulneráveis à infecção e, assim, permitir o tratamento precoce. Cerca de 2,5 mil testes já foram enviados.

O projeto ainda faz uso de outras abordagens junto à população-alvo, entre elas a testagem rápida móvel em trailers equipados com laboratórios; testagem na ONG do Grupo Dignidade – organização não governamental de promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros (LGBT) –; e pela plataforma virtual, lançada em fevereiro deste ano.

Além dos locais já tradicionais para a realização dos exames – como o Centro de Orientação e Aconselhamento (COA) e as unidades básicas de saúde – foram firmadas parcerias com ONGs locais para estimular a testagem entre populações vulneráveis, com um total de 2.684 testes realizados até novembro. Além destes serviços, cinco Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Curitiba passaram a ofertar o exame.

Desafio

Para o secretário municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton, o novo desafio para o Sistema Único de Saúde de Curitiba (SUS) é aumentar a adesão ao tratamento. Atualmente, 6.741 pessoas diagnosticadas com HIV/aids estão fazendo o tratamento antirretroviral (51,27¨%) na cidade. Tivemos importantes avanços, como a plataforma do programa A Hora É Agora, que funciona como projeto-piloto para todo o país, e a descentralização do tratamento do HIV para a atenção primária, com o suporte de infectologistas nos Núcleos de Atenção à Saúde da Família e do Centro de Orientação e Aconselhamento. Assim, ampliamos o número de profissionais aptos a iniciar o tratamento das pessoas que acabam de receber o diagnóstico ou que, apesar do diagnóstico, ainda não tinham se vinculado a nenhum serviço”, afirma.

Entre os que estão em tratamento antirretroviral, 75% já apresentam carga viral indetectável.

Segundo a coordenadora de Vigilância Epidemiológica dos Agravos Crônicos Transmissíveis, Liza Bueno Rosso, os esforços para o controle da epidemia do HIV/AIDS em Curitiba estão concentrados no diagnóstico precoce da infecção e no tratamento das pessoas vivendo com o vírus, assim como a implementação de intervenções de prevenção combinada. A estratégia de tratamento requer também a vinculação e a manutenção do paciente aos serviços de saúde e a melhoria do cuidado contínuo, ressalta a coordenadora.