Os números não enganavam. A novela-transformada-em-filme Os Dez Mandamentos chegará aos cinemas brasileiros hoje prestes a estabelecera um novo recorde de bilheteria de filmes nacionais.

O detentor do título de campeão dos pesos pesados em número de salas até aqui é Até Que A Morte Nos Separe 3, comédia com Leandro Hassum que chegou ao número de 812 salas em todo o circuito nacional (composto por 2,8 mil telas no total) e levou 2,3 milhões de espectadores aos cinemas. Os Dez Mandamentos, distribuído pela Paris Filmes, chegará a mais de 1 mil salas (o número exato será revelado na sexta-feira, 15), e já vendeu 2 milhões de bilhetes antecipados (até a tarde de ontem), mesmo com o filme ainda inacabado. Com mais 300 mil ingressos, o longa bíblico ultrapassa as piadas de Hassum.

Os números não surpreendem. Afinal, quando Os Dez Mandamentos foi exibido como novela na Rede Record, a emissora chegou a bater a Globo em alguns capítulos. Na rede de salas de cinema Cinemark, a busca pelos bilhetes está “acima do esperado”, segundo a empresa.

A temática bíblica e a ação da Igreja Universal do Reino de Deus — cujos bispos atuam na Record, responsável pela novela transformada para a telona — são pontos a favor de Os Dez Mandamentos que as outras produções nacionais não tinham. Na rede de cinemas UCI, por exemplo, há sessões sendo fechadas para exclusividade do fiéis, contou Monica Portela, diretora de marketing da rede. “Um representante de um grupo de fiéis compra para todos para uma sessão exclusiva”, conta.

Uma frequentadora da Universal que pediu para não ser identificada em contato com o Estado confirmou o pedido de bispos e pastores durante os cultos para que os seguidores comprem ingressos para o filme. “Comprei porque o pastor pediu”, ela conta. “Se ficou bom na tela pequena, vai ser melhor ainda na telona.” Nos bastidores da Universal, como apurou a reportagem, a ideia é transformar Os Dez Mandamentos no filme mais assistido no País, ultrapassando Tropa de Elite 2, com seus 10.736.995 de espectadores.

Em nota, a Universal diz apenas apoiar ações e projetos que facilitem o acesso do público ao filme porque o considera “uma obra cinematográfica de extrema qualidade, que trata os valores bíblicos com respeito”. Ao ser questionada sobre qual é a forma de apoio, se há a confirmação do pedido para que fiéis comprem ingressos ou doem dinheiro para a aquisição de bilhetes, ou ainda qual é a relação da instituição com o filme produzido por uma emissora comandada por bispos e pastores da igreja, a Universal preferiu não se manifestar.

FILME JÁ VENDEU 2 MILHÕES DE INGRESSOS
Como pais corujas, a Record (empresa produtora) e a Paris Filmes (distribuidora) não cessam de alimentar a imprensa com as informações, sempre superlativas, do próximo lançamento de Os Dez Mandamentos, hoje. A intenção declarada é transformar o fenômeno da TV num fenômeno também no cinema. Como novela, Os Dez Mandamentos ameaçou sempre e chegou a superar a audiência da Globo nos capítulos decisivos da abertura do Mar Vermelho.

A venda de ingressos online está disparada — a Paris promete divulgar a estimativa na sexta-feira, 15, — e o novo recorde antecipado do filme de Alexandre Avancini é o número de salas. Será apresentado no maior circuito formado para exibir um filme brasileiro no País. Mil salas — e isso em plena temporada de Oscar, quando o mercado, mais que nunca, se ajusta às exigências de Hollywood. O número ainda poderá aumentar, tão grande é o interesse dos exibidores pelo que se anuncia como estouro de bilheteria.

O recorde anterior pertence a Até Que a Sorte nos Separe 3. A comédia com Leandro Hassum estreou dia 31 (de dezembro) em 812 salas. Após um começo meio decepcionante — mas era réveillon e o interesse do público não estava na sala de cinema —, Até Que a Sorte 3 reagiu e, nessas duas semanas, já bateu a marca de 2,3 milhões de espectadores.

A tradicional junket de Os Dez Mandamentos — o encontro do diretor e do elenco com a imprensa — será dia 26, dois dias antes da estreia. Até lá, a assessoria da Paris espera que já exista uma cópia do filme para mostrar aos jornalistas (e críticos), mas o mais provável é que o sigilo seja levado para as salas e só hoje imprensa faça a descoberta da obra cinematográfica com o público. O compacto promete cenas exclusivas que o público não viu na Record, e um final inédito — na verdade, um gostinho da segunda temporada, que deve ir ao ar em março.