Que os custos de formação educacional estão cada vez mais altos no Brasil, não é novidade alguma. Afinal, com o incremento da classe média da última década, instituições de ensino superior tem obtido um crescimento pela procura de vagas em todas as esferas da graduação.
Contudo, igualmente não é um segredo que, em geral, uma formação “completa” demanda muito Investimento, seja da família ou do próprio estudante, que muitas vezes acaba recorrendo ao famoso FIES – Fundo de Financiamento Estudantil. Sem entrarmos no mérito do programa (se é bom ou ruim, eficiente ou não), tampouco no custo final da utilização dele após a formação do estudante, o que nos interessa nesse artigo é a redução drástica que o governo promoveu nos repasses e novas concessões do financiamento.
Essa “tesourada” deixou milhares de estudantes e suas famílias em uma situação sem precedentes no Brasil desde a redemocratização: quem está no meio do curso, não vai conseguir terminar porque não teve nova concessão; quem estava buscando entrar numa faculdade, pode até ser aprovado na instituição, mas não está sendo aprovado no FIES; e por fim, quem está fazendo programas de pós-graduação praticamente ficou sem qualquer alternativa viável.
Mas ai você me pergunta: tá, parou o FIES, não há expectativa de quando o programa volte a aceitar inscrições, as universidades estão reclamando que não estão recebendo os repasses do governo federal… e o crowdfunding com isso?
O financiamento coletivo (conhecido mundialmente como crowdfunding) foi uma alternativa encontrada nos EUA para reduzir e viabilizar os altíssimos custos com a educação superior naquele país. Ao contrário do Brasil, quase a totalidade do ensino superior norte americano é pago, ou seja, a família e o estudante tem que se preparar a vida toda para poder pagar os custos de formação educacional. E isso gera naturalmente um passivo a pagar muito grande, comprometendo a vida profissional dos estudantes quando concluem sua formação.
Observando que esse mercado estava sofrendo com as dívidas dos ex-alunos, e fazendo com que os novos não conseguissem honrar seus compromissos financeiros, foram criados sites específicos e direcionados de crowdfunding para ajudar o estudante a financiar seus estudos. A troca, em geral, além da resiliência em viabilizar a formação superior de alguém, vai de recompensas pela doação até participação dos ganhos profissionais do aluno por um determinado período de tempo.
Existem inclusive sites que auxiliam os estudantes com mentores ao longo da formação na graduação, além de vincular o financiamento das despesas universitárias a uma participação nos seus ganhos futuros. Observem que, se adotarmos o financiamento coletivo para esse tipo de suporte, não ganharia somente o estudante, mas as próprias instituições de ensino em si. As cotas anuais da graduação seriam pagas à vista, ou seja, gerariam fluxo de caixa imediato para as instituições.
Ganharia o governo, que teria reduzida sua obrigação de repasses para fomentar o fluxo de caixa das universidades. Ganharia a família, que poderia se programar ao longo de toda a faculdade para devolver os valores investidos, além de claro, o estudante, que poderia se dedicar com muito mais afinco na sua formação para que a “rentabilidade” do investimento seja muito maior.
Ademais, sempre que se financia a formação de alguém, não se quer somente o dinheiro de volta: deseja-se ter um profissional qualificado, competente, diferenciado e que dê certo, ou seja, uma cobrança “social” para que ele faça jus ao apoio que teve. Alguns sites, por exemplo, vinculam que os beneficiados pelos financiamentos coletivos façam o mesmo após se formarem, gerando um ciclo virtuoso de financiamento x novos financiados x retorno do investimento!
O Brasil, como deixo claro no livro “Dinheiro da Multidão: burocracia x oportunidades no crowdfunding nacional” ainda não possui uma legislação clara sobre as regras de adoção do crowdfunding, o que possibilita uma gama bastante ampla de possibilidades, entre elas sites especializados em financiamento coletivo para estudantes abandonados pelo FIES.
Infelizmente o Brasil ainda dispõe de poucas alternativas ou institutos que possam suprir toda a demanda por bolsas de estudos de todos os beneficiários do FIES e que ficaram desamparados, de modo que estamos no momento ideal (o chamado timing de negócio) para o lançamento de uma plataforma dedicada a viabilizar financiamento coletivo aos nossos alunos!

Vinicius Maximiliano Carneiro é autor é advogado corporativo, gestor contábil e financista. Possui MBA em Direito Empresarial pela FGV