JULIANA GRAGNANI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Homens e mulheres vestidos de Tieta, em releituras da personagem de Betty Faria na novela global (1989-1990), descamisados com glitter até na barba e famílias com crianças se concentram na esquina mais paulistana da cidade, a Ipiranga com a São João, na manhã deste sábado (6). São os foliões do bloco TaradoNiVocê, que homenageia Caetano Veloso, e cujo tema, neste ano, é “somos todos Tieta”. Foliões dançam ao som de Gaby Amarantos, Terra Samba e Fafá de Belém; pulam gritando o “aê, aê, aê” de “Prefixo de Verão”; e se emocionam com “Sampa”, de Caetano.

O casal de engenheiros Celso Keppe, 42, e Fabíola Gomes, 40, se vestiu com roupas de Tieta –peruca, no caso de Keppe–, lenços na cabeça e óculos escuros. “A novela é da nossa época, nós adoramos”, diz Gomes. Para o produtor Felipe Raposo, 38, outra Tieta, de peruca, macacão preto, xale dourado e bracelete (“amo porque ela saiu do lixo e voltou triunfante”), “o Carnaval em São Paulo está fervendo –e ainda vai superar o do Rio”. De melindrosa, a economista paulistana Flávia Possas, 32, diz que esta é a primeira vez que passa o Carnaval em São Paulo porque “quem ficou no passado falou que valeu a pena”.

O “Tarado” (nome carinhoso do bloco) é o quinto desfile de Emília, uma bebê de dez meses. No colo da mãe, a ilustradora paraense Daniela Sá, 42, Emília usa um fone de ouvido abafador de som muito maior que suas pequenas orelhas. “Não podíamos deixar de ir aos blocos. Resolvemos investir nesse equipamento”, conta Sá. O pai da bebê, um alemão que mora em São Paulo, incorporou uma “Tieta gringa”, de peruca loira e calça de paetês dourados.

ZIKA

A notícia de que se detectou a presença do vírus da zika ativo em amostras de saliva e urina não abalou os foliões. O contágio pela saliva não está confirmado –o governo pediu cautela. “A festa sobe na cabeça e a galera esquece, não se preocupa com nada”, afirma o designer Felipe Garcia, 23, fantasiado de Lara Croft e despreocupado porque não vai beijar ninguém no Carnaval além do namorado, um rapaz vestido de Baco que se diz “Deus da catuaba, não do vinho, porque são outros tempos, né?”. “É tenso. Entre tantas coisas que a gente pode pegar no Carnaval, tem mais essa”, observa o produtor Felipe Luz, 30, uma “fada da Amazônia”, com meia-calça arrastão verde e folhas na cabeça. “Mas vamos beijar todo mundo, sem medo da zika, só rezando para não dar zica no final.” Com a barba repleta de glitter azul, adereço fixado com cola em bastão, o farmacêutico Victor Hugo, 21, defende: “Não tem como ficar sem beijar no Carnaval”.