Quem já conhece a capital inglesa, talvez tenha deixado passar desapercebida a rota das placas azuis . Elas sempre fizeram sucesso em Londres, e nem sempre foram redondas, muito menos azuis. São as mais antigas do planeta no gênero.As placas estão em centenas de casas na cidade, informando que ali moravam personalidades das artes e das ciências. Foram criadas em 1860 e identificam casas que foram outrora residências de Churchill, Gandhi, Mozart, Chaplin ou Van Gogh. No passado foi editado um guia – The Blue plaque – ajudando ao visitante a se encontrar nos mapas da cidade.

Carlitos, por exemplo, não mentiu quando descreveu em suas memórias a infância em Kennington, Sul de Londres, um bairro melancólico, sem atrações turísticas, muito longe de Luzes da cidade, filme que tornou mais famoso o diretor e ator inglês. Que morou com a família em uma casa de dois cômodos no número 287 de Kennington Road.

Sete minutos antes da estação de metro de Kennington, há boas opções de encontrar culinária espanhola ou indiana, o que anima um pouco o passeio. Já no número 17 de Holland Park Gardens, fixou residência um brasileiro que, em oposição ao governo do marechal Floriano Peixoto, seguiu para Londres, impondo-se um exílio de um ano: era conhecido como o Águia de Haia, Rui Barbosa, que os britânicos apontavam como brilhante estadista e jurista brasileiro. Que sabia viver: situado na zona Oeste de Londres, Holland Park sempre foi uma região aprazível e cara. A ex-residência de Rui Barbosa fica a apenas cinco minutos de caminhada da estação do metrô e é uma elegante propriedade, quase na esquina de Holland Park Gardens.

O turista que for para aqueles lados, vai poder apreciar a arquitetura local, muito bem preservada, e curtir as belezas do parque, palco de programações de ópera, teatro e dança ao ar livre, além de exposições temporárias.

Mahatma Gandhi iniciou primeiro sua carreira de advogado na Inglaterra. Reverenciado na Índia por lutar pela independência de seu país contra o domínio britânico, antes de se tornar combativo político, estudou Direito em Londres entre 1887 a 1991, morando na própria universidade. Em 1931 o líder hindu voltou à capital britânica para uma conferência, que acabou sendo interrompida pelos interesses políticos conflitantes. Durante três meses Gandhi morou em Kingsley Hall, Powis Road, em prédio de dois andares, um modesto endereço no Leste da cidade. Hoje é um bairro eminentemente indiano. O que quer dizer que há restaurantes indianos e produtos indispensáveis à culinária da Índia, nos mercadinhos de secos e molhados que vendem peixes, vegetais e carnes especiais. Vale conhecer a igreja anglicana St. Mary Church, uma das mais belas arquiteturas do bairro.

Mozart também deixou marca na cidade. Morou no número 180 da Ebury Street, onde compôs sua primeira sinfonia em 1764. Leopoldo Mozart, pai do famoso compositor austríaco, levou os filhos para a Europa, organizando uma excursão de três anos, entre 1763 e 1766. Foi em Londres que Mozart se revelou uma criança prodígio, encantando o rei George III e a rainha Charlotte, quando tocou composições de Hendel. Tinha 7 anos.

Próximo à Sloane Square, uma das praças mais elegantes da cidade, Ebury Street fica perto do British Museum. Foi uma visita ao maior museu da Grã-Bretanha que inspirou Mozart a escrever uma de suas composições no estilo anglicano de música sacra.

Para o turista, é o lugar ideal para uma caminhada entre restaurantes, galerias de arte e boutiques. Peter Jones, uma loja tradicional de departamentos, se instalou no lado oeste da praça em 1936. Do outro lado da Sloane Square fica o Royal Court Theatre, onde são apresentadas peças dramáticas. Da próxima vez na capital britânica, procure pelas placas azuis.

Vai encontrar no número 37 da Montagu Square um prédio que foi comprado por Ringo Starr em 1965, depois ocupado por Paul McCartney e Jimi Hendrix, antes do casal Lennon e Yoko Ono se instalarem no apartamento térreo. A placa marca a presença no passado de Lennon.

Bedford Square em Bloomsbury tem nada menos de 8 placas azuis. Mas das que restaram do passado, – porque muitos prédios foram destruídos -, uma das mais antigas é de 1867, marcando a passagem de Napoleão III em King Street, Westminster.

Em 2009 a English Heritage, que cuida dos monumentos históricos e artísticos britânicos, publicou com o apoio da Yale University Press, o primeiro guia completo com toda história das Placas Azuis, intitulado Lived in London: Blue Plaques and the Stories Behind Them. Uma idéia para sua próxima viagem.