No dia 7 de abril (quarta-feira), o Itaú Cultural e o Museu Oscar Niemeyer (MON) reafirmam a sua parceria e inauguram mais uma exposição: Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural. A mostra leva, pela primeira vez ao Paraná, um conjunto de 132 obras de 31 artistas que pertenceram ao movimento fotoclubista brasileiro, lançado no final da década de 1930. Todos os trabalhos remontam aos anos 1940 e 1970, quando na esteira do modernismo europeu e americano, fotógrafos brasileiros entraram na discussão sobre os limites da arte fotográfica.

A abertura tem coquetel para convidados às 20h30, mas antes, às 19h, o curador Iatã Cannabrava palestra no já tradicional encontro mensal promovido no auditório do MON, Roda de Fotógrafos. Ele fala sobre sua carreira, a trajetória como fotógrafo, gestor e editor de livros até chegar na pesquisa sobre o tema da mostra. O evento é gratuito e os interessados podem confirmar a participação até a data da inauguração pelo e-mail [email protected].

Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural já foi exibida em 12 cidades, sempre com diferentes recortes – Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte, Belém, Ribeirão Preto, São Paulo, Santos, Recife e Brasília, no Brasil, além de Assunção, no Paraguai, Cidade do México, no México, e Lima, no Peru. Em Curitiba é exibida com quase a totalidade de obras da coleção do instituto, que tem no total 138 trabalhos de foto-modernistas.
A exposição
Instalada no principal andar de exposições do MON, na Sala 3, Moderna para Sempre apresenta obras consideradas raras, como Bailarina do Balé da Juventude UNE, Rio de Janeiro – RJ, de 1947, assinada por Thomaz Farkas. Igualmente preciosa e de autoria de Farkas é Telhas, de 1947. Mesmo com o título ao lado da fotografia, o observador duvida de qualquer referência a telhas ou telhados. Esta imagem, por exemplo, nos leva a um passeio por luz e movimento, e particularmente lembra as bandeiras de Volpi, que na verdade não nasceram bandeiras, mas sim telhados, explica Cannabrava.

O abstrato-geométrico de Ademar Manarini, de quem há 10 trabalhos na mostra, como Janelas II (1953), Sem título (1950), In Extremis (1950), Arquitetura (1950), se alinha com Arabescos em Branco (1960), de Gertrudes Altschul, rara representante do gênero feminino no fotoclubismo deste período. Se junta a este grupo Formas (1950), de Eduardo Salvatore, de quem vale ressaltar o importante papel no cenário fotoclubista como um dos fundadores do Foto Cine Clube Bandeirante, em 1939, em São Paulo. Com uma foto eternamente contemporânea de cartazes rasgados, Abstração #5, Rubens Teixeira Scavone completa o conjunto.
Entre outras obras Espiral (1944), de Gaspar Gasparian chama atenção por se tratar de uma imagem com características surrealistas, também recorrentes no modernismo dos fotoclubistas, e remete a uma cena de cinema em preto e branco. Para citar mais algumas, a mostra apresenta, ainda seis fotos do catalão que viveu exilado no Brasil, Marcel Giró, como Botellas (1950), Estudo de Sombra (1950) e Auto retrato com sombra (1953), 12 fotos de German Lorca, que impressionam por seu abstracionismo, 23 trabalhos de outro importante expoente do movimento, José Yalenti, além de sete obras de José Oiticica Filho, cuja marca é o forte contraste de claros e escuros e a relação entre pessoas, espaços vazios e a geometria.
Combinando linguagem e técnicas para formar o jogo do espaço expositivo, vê-se ainda trabalhos de Gunter E.G. Schroeder, Geraldo de Barros, do também escritor André Carneiro, Fabio Moraes Bassi, Paulo Pires, entre outros.
Mais sobre Fotoclubismo
O fotoclubismo brasileiro teve início em São Paulo, no Foto Cine Clube Bandeirante, em 1939, e se alargou para outros fotoclubes da cidade paulistana. Em geral, era composto por fotógrafos amadores que, livres das obrigações de um trabalho comercial, puderam experimentar e quebrar regras.  Nesses núcleos aterrissaram artistas como Geraldo de Barros, José Yalenti e German Lorca. Nas imagens, encontramos as buscas por formas e volumes, abstracionismos e surrealismo, em uma evidente influência das antigas vanguardas europeias, conta o curador.
 
Os trabalhos destes artistas começaram pictorialistas, imitando os padrões da pintura do século XIX. Com o desenvolvimento e crescimento econômico do país, desembocaram no celeiro da fotografia moderna brasileira, a chamada Escola Paulista. As obras parecem uníssonas porque têm forte unidade temática, divididas em dois grupos: cidades ou formas, sejam elas geométricas, elaboradas ou simétricas, explica Cannabrava. A partir deste momento, texturas, contraluzes, enquadramentos sóbrios, linhas, solarizações, fotomontagens, fotogramas, entre outros tópicos, passam a integrar o vocabulário criativo, reforça.
Vale observar, também, que a maioria dos membros dos fotoclubes era de imigrantes de origem europeia ou descendentes refugiados das guerras do hemisfério norte, estabelecendo no Brasil uma produção com olhar mais otimista e de esperança no futuro, distante de assuntos sociopolíticos que predominavam nos trabalhos da época, e diferenciando-se do movimento europeu focado nas dificuldades sociais.
Para o curador, este grupo se antecipou ao atual universo dos blogs, Facebooks e Flickrs montando o que poderia ser chamado de primeiras redes sociais de que se tem conhecimento na área de fotografia. Por meio de salões, catálogos e concursos formaram uma teia internacional que divulgava a produção nos grandes centros da fotografia mundial e também do Brasil.

Sobre Iatã Cannabrava
Fotógrafo, editor, curador e agitador cultural, Iatã Cannabrava possui três livros publicados – Casas Paulistas (2000), Uma Outra Cidade (2009) e Pagode Russo (2014) –, fotos nas coleções MASP-Pirelli, Galeria Fotoptica, Joaquim Paiva e MAM-SP e trabalhos publicados em oito livros de autoria coletiva.

Atualmente é diretor do Valongo – Festival Internacional da Imagem, é idealizador e curador do Fórum Latino Americano de Fotografia de São Paulo, realizado pelo Itaú Cultural, e até o ano passado foi diretor e realizador do Festival Internacional de Fotografia de Paraty – Paraty em Foco. Entre seus projetos permanentes estão o Madalena Centro de Estudos da Imagem, a Livraria Madalena e a Editora Madalena ao lado de Claudia Jaguaribe e Claudi Carreras.

Lista de artistas e quantidade de obras na exposição:

Ademar Manarini (10)
Alberto Figueira (1)
André Carneiro (1)
Chakib Jabour (1)
Délcio Capistrano (1)
Eduardo Enfeldt (2)
Eduardo Salvatore (1)
Fabio Moraes Bassi (1)
Francisco Albuquerque (1)
Francisco Quintas Jr. (1)
Gaspar Gasparian (2)
Georges Radó (4)
Geraldo de Barros (11)
German Lorca (12)
Gertrudes Altschul (4)
Gunter E.G. Schroeder (2)
Jacob Polacow (1)
João Bizarro da Nave Filho (1)
José Oiticica Filho (7)
José Yalenti (23)
Julio Agostinelli (1)
Lucilio Correa Leite Júnior (1)
Marcel Giró (6)
Osmar Peçanha (4)
Paulo Pires (20)
Roberto Marconato (1)
Rubens Teixeira Scavone (4)
Thomaz Farkas (5)
Tufi Kanji (1)
Dalmo Teixeira Filho (1)
Nelson Kojranski (1)

SERVIÇO
Moderna Para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural
Museu Oscar Niemeyer – MON
Rua Marechal Hermes, 999
Tel.: 41 3350-4400Abertura: 7 de abril, às 20h30
Entrada gratuita no momento da abertura
Visitação:  7 de abril a 24 de julho
Terça-feira a domingo, das 10h às 18h
Entrada: R$ 12 e R$ 6 (meia-entrada para professores e estudantes com identificação, doadores de sangue, pessoas com necessidades especiais)
Maiores de 60 e menores de 12 anos têm entrada gratuita
Bilheteria do museu até 17h30
Dias e horários especiais:
Quarta gratuita: entrada gratuita das 10h às 18h, em todas as quartas-feiras
Quinta + MON: horário estendido até 20h e entrada gratuita após as 18h em todas as primeiras quintas-feiras do mês
Classificação indicativa: livre
Roda de Fotógrafos com Iatã Cannabrava
Data: 7 de abril, das 19h às 20h15
Auditório Poty Lazzarotto, noMON
Confirmação de presença para a palestra: [email protected]
Entrada gratuita
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Tel.: 11. 2168-1776 / 1777
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