Neste domingo o Peru vai às urnas para eleger quem o governará pelos próximos cinco anos. Com um Congresso unicameral os eleitores escolherão, também, a 130 parlamentares, ademais dos seus representantes no Parlamento Andino.

Desde o início o favoritismo é de Keiko Fujimori da Fuerza Popular, atualmente com 34,4% das preferências populares. Em seguida estão o economista Pedro Pablo Kuczynski, o PPK, ex-ministro da Fazenda, com 16,8% pelo bloco Peruanos por el Cambio, figurando próximo em 3º a esquerdista Verónika Mendoza da Frente Amplia com 15,5%.
Como nenhum dos candidatos alcançará a metade mais um dos votos, forçosamente haverá um 2º turno. Então, a hipótese mais provável é que se repita o ocorrido na eleição de 2011 quando todos se uniram contra Keiko para eleger o atual presidente Ollanta Humala que, a exemplo do que sempre acontece no país com os presidentes em exercício, termina seu mandato com uma rejeição quase absoluta pela população. Não por acaso dois ex-primeiros mandatários que tentam a reeleição – Alan Garcia com 5% nas pesquisas de voto e Alejandro Toledo com 0,9% – não têm qualquer chance de triunfo.
A explicação para o favoritismo da filha de Alberto Fujimori, hoje preso e condenado a 25 anos de cárcere, está em que a grande maioria dos eleitores é jovem e não viveu os negros tempos da década dos anos 1990, além de que uma parcela do povo parece ter perdido a memória da mais cruel das ditaduras que já assolou o país, afora os que são decididamente de ultradireita e querem mesmo um novo governo militar.
O escritor e Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa que agora apoia a PPK, foi o responsável indireto pela meteórica ascensão do Fujimori-pai em 1990. Com uma plataforma fortemente caracterizada como neoliberal, no primeiro turno Llosa fez uma das campanhas mais ricas que o Peru já havia visto e mesmo assim ganhou por escassa diferença com 28% dos votos contra 24% de Alberto. Uma onda contrária a ele então se formou, imprimindo-lhe uma consistenete marca de sofisticação e de vínculo com a direita o que resultou no decidido apoio da esquerda e dos demais concorrentes a Fujimori que triunfou com pouco mais de 56% dos votos na segunda volta. A acusação que ainda se faz a Vargas Llosa é de que, por um lado, era impossível perder aquela eleição e, por outro lado, que não conseguiu nem prever nem explicar ao povo que estaria escolhendo um déspota. Os dez anos seguintes gradativamente assistiram aos desmandos e à crueldade de um governo cujo símbolo era o capitão Vladimiro Montesinos, uma espécie de Rasputin do regime que liderou o grupo Colina, um esquadrão da morte que eliminou sem direito a qualquer julgamento a milhares de pretensos adversários.
Os anos mais recentes assistiram à recuperação do Peru, ao ponto de que agora causa inveja aos seus vizinhos com indicadores de sólido progresso econômico e social. Tudo é possível em política, mas se espera que os peruanos consigam superar seus piores sentimentos e não tragam de volta o fantasma do fujimorismo ao seu dia a dia. Não obstante, as escolhas são poucas. Keiko ao mesmo tempo em que diz renegar o que seu pai fez, tem na própria equipe alguns dos seus mais fieis assessores. PPK é claramente a volta do neoliberalismo e Verónika é a ameaça de um governo similar ao chavismo bolivariano, algo assustador para a grande maioria dos peruanos. Sem dúvida as possibilidades de que Keiko desta feita vença são maiores do que as de cinco anos atrás.

Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional