Nos últimos anos, as empresas têm dado mais atenção ao que seus empregados fazem nas redes sociais. Para novos funcionários, a checagem digital se tornou mais uma fase a ser superada na busca por um emprego. A princípio, trata-se de uma questão simples. Afinal, boa parte das informações — como fotos, vídeos ou comentários pessoais — que são publicadas nas redes sociais são públicas e, portanto, podem ser encontradas por qualquer um.

Além das referências profissionais, a busca em redes sociais tem como meta conhecer melhor o candidato ou empregado e saber se a sua visão de mundo se encaixa nos requisitos da função que ele vai desempenhar e na cultura da empresa, diz Glaucy Bocci, diretora de gestão de talentos da consultoria Willis Towers Watson.

Para ela, a checagem digital é uma ferramenta apenas para conhecer, não para eliminar o candidato. Uma boa organização não eliminaria ou contrataria alguém pela foto bonita ou feia no LinkedIn ou por uma postagem qualquer no Facebook, avalia Glaucy.

Mas há quem acredite que a identidade do candidato nas redes é tão importante quanto ter bom currículo ou experiência. Segundo a especialista em carreiras Maria Cândida Azevedo, da People & Results, a diferença é que a checagem digital não acrescenta nada, mas pode ter influência negativa.

Ao fazer seleções para empresas de perfil mais conservador, vários candidatos com perfil despojado, fotos em que aparecem em festas e com bebidas, foram eliminados, diz Jorge Martins, gerente de divisão da empresa de recrutamento Robert Half.

Também tem outro lado. Para Luiz Fernando Moncau, gestor do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS), ligado à Faculdade de Direito da FGV-RJ, muitas empresas têm cometido excessos. É como um empregador mandar abrir o armário de um funcionário: por mais que seja um espaço da empresa, trata-se de um local ‘privado’ do trabalhador, diz.


Direito ao esquecimento

Se lidar com as informações disponíveis na web publicadas pelo próprio usuário já é uma dificuldade, o que fazer quando dados sensíveis são divulgados à revelia? É o que acontece muitas vezes em casos que envolvem a Justiça, e a pessoa acaba ficando marcada para o resto da vida, já que a internet não esquece, como se costuma dizer.

Como forma de compensar essa desigualdade, surgiu há algum tempo o conceito de direito ao esquecimento, em que é possível pedir a retirada de certos tipos de informações dos resultados de ferramentas de busca. A ideia é evitar que isso gere um valor negativo depois daquele momento, diz Adriano Mendes, advogado especializado em direito digital.

A União Europeia foi pioneira em adotar o conceito no mundo digital: de maio de 2014 — quando o direito começou a valer — até fevereiro de 2016, o Google recebeu 386 mil pedidos de remoção de conteúdo e aceitou 42% deles.

No Brasil, o tema ainda engatinha, até pela ausência de uma boa legislação sobre dados pessoais no País. Se for algo que trouxer prejuízo claro, como vazamento de fotos íntimas, é possível recorrer ao Judiciário, mas são casos extremos, avalia Mário Viola, especialista em privacidade do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio). Falta jurisprudência.

Segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial realizada em 2015, o direito ao esquecimento é considerado tema relevante por 73% dos usuários de internet brasileiros.

Segundo especialistas em recrutamento, a melhor decisão é informar potenciais empregadores sobre qualquer questão relevante sobre seu passado, que possa ser localizada em qualquer site da web.

Durante o processo seletivo, o melhor é informar aos possíveis empregadores que as medidas cabíveis estão sendo tomadas, diz Glaucy Bocci, da Willis Tower Wilson. O passivo digital não deve afetar o desempenho da pessoa.


Não existem regras, existe bom senso

Pessoal — É muito importante saber o que você está postando e em qual ambiente, diz Glaucy Bocci, diretora de gestão de talentos da consultoria Willis Towers Watson. Tem muita gente que usa o LinkedIn para falar sobre religião ou postar fotos da família, ou se excede nos relatos de intimidade no Facebook. Não é legal, avalia

Consistência — Mais do que simplesmente manter as aparências no ambiente corporativo, é importante ser ‘a mesma pessoa’ fora do trabalho. Antigamente, você chegava no trabalho e vestia sua fantasia de ‘profissional sério’. Hoje em dia não dá para esconder mais nada O candidato tem de jogar aberto: se ele for um cara festeiro, não adianta bancar o ‘certinho’ para a empresa, explica Maria Cândida Azevedo, especialista em carreira da consultoria People & Results

Sinceridade — Você tem um problema com o seu passado digital na internet? Já cometeu alguma ofensa, fez uma piada politicamente incorreta ou foi vítima de um meme infeliz dos seus amigos? Calma que nem tudo está perdido. O melhor caminho, nesse caso, é explicar que a experiência mudou seu modo de vida. Nada melhor do que ser transparente, diz Maria Cândida

Identificação — Cada empresa tem sua própria cultura e seus valores — e isso pode influenciar no limite do que pode ser aceitável ou não. Ao buscar uma vaga, vale a pena refletir se há compatibilidade entre a sua vida dentro e fora do horário comercial. Em empresas com perfil conservador, não adianta: mesmo que o currículo seja ótimo, o candidato adorar se expor com fotos sem camisa em redes sociais soa estranho, diz Jorge Martins, gerente da empresa de recrutamento Robert Half

Álbum — Um tipo de publicação específica foi muito comentada pelos especialistas em carreira: as fotos. Para Maria Cândida, da People & Results, a principal dica é pensar não na hora de publicar, mas sim na hora de tirar a foto. Quase toda foto que é feita hoje vai parar na internet. Se você quer evitar alguma situação embaraçosa na empresa, pense antes de sequer ser fotografado, explica