Em 2011, o jornalista cearense Sidney Pereira Filho foi ao Morro Dona Marta para fazer uma reportagem sobre turismo comunitário. E lá, conheceu a guia de turismo local, Salete Martins. Foi quando também soube do projeto de Salete e sua família de abrir um hostel, hotel de baixo custo, na comunidade.

Inaugurado há apenas um mês, no Morro Dona Marta, primeira comunidade carioca a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o Hostel Bosque Santa Marta, o jornalista acabou sendo o primeiro hóspede do estabelecimento.

Além da amizade com Salete, eu estava atrás de um lugar para morar. A localização do hotel, em Botafogo, bairro da zona sul próximo ao centro da cidade, foi outro atrativo para o jornalista. Além de ser um lugar bonito, é mais barato do que alugar um imóvel, disse Sidney Filho à Agência Brasil.

A gerente Salete Martins já tem agendadas para a Olimpíada duas turistas do México. A gente começou agora. É um trabalho de formiguinha, mas acredito que como nós somos guia de turismo aqui na favela, até lá nós vamos conseguir muito turista.

Para o argentino Huel Di Tomafo, a camaradagem é o maior pretexto para ficar hospedado em um hostel na comunidade do Vidigal, zona sul da cidade. Você se sente em um clima de amizade, disse. É muito aconchegante. Você se sente em casa. A vista que se tem do hostel é maravilhosa. Vejo o Leblon, Ipanema, Copacabana. E na favela do Vidigal, estou de frente para o mar, disse o argentino, que trabalha como garçom em um restaurante no Leblon.

Tomafo acrescentou que pretende continuar no Rio de Janeiro para assistir aos Jogos Olímpicos, que começam em agosto.

Assim como o argentino, muitos turistas brasileiros e estrangeiros pretendem se hospedar em pousadas, albergues e hostel instalados em comunidades pacificadas durante os jogos.

De acordo com a Associação de Cama e Café e Albergues do Estado do Rio de Janeiro (Accarj), a previsão para ocupação de hostels na cidade do Rio de Janeiro para a Olimpíada chega a 84,7%. Os turistas estrangeiros (70%) são os que mais procuram este tipo de hospedagem. A entidade tem 48 albergues associados.

Reservas

No Home Hostel Cantagalo, na comunidade do Cantagalo, a responsável pelo local, Simone Pereira, espera atingir ocupação total até o evento esportivo. O albergue oferece café da manhã e almoço e criou passeios turísticos para atrair mais visitantes. Entre os pontos estão mirantes na comunidade, um restaurante nordestino e o museu da favela, disse Simone.

Já o norte-americano Adam Newman, dono do Hostel Favela Experience, no Vidigal, espera ocupar as 30 vagas do empreendimento, aberto há um ano e meio, até a Olimpíada. Abrimos a agenda no mês passado e a lista de espera já é grande, disse. Formado nos Estados Unidos em empreendedorismo, Adam Newman já teve uma pousada em Santa Teresa, centro do Rio, mas resolveu ir para o Vidigal para desenvolver um projeto social na região.

Em parceria com a organização não governamental (ONG) local Ser Alzira de Aleluia, construiu o hostel há dois anos e meio com ajuda de voluntários. Hoje em dia, o hostel sustenta a ONG. Gera entre R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês para a ONG.

Newman também tem projeto para adaptação de casas de moradores para hospedar turistas. Na Copa do Mundo, a gente recebeu 150 pessoas do mundo inteiro. E este ano, a gente vai fazer mais, para a Olimpíada.

Já na comunidade pacificada do Morro da Babilônia, o Babilônia Rio Hostel vai receber holandeses, ingleses e voluntários que irão participar dos Jogos. Eu vou receber um grupo grande de holandeses antes da Olimpíada e depois, na Paralímpiada. Vai ficar cheio. Foi uma surpresa boa, porque é um grupo que vai fazer uma pesquisa aqui, disse uma das sócias, Bianca Lima, que divide o negócio com o marido Eduardo Barbosa.

De acordo com a proprietária, o albergue é equipado com placa solar e tem captação de água da chuva, atraindo hóspedes preocupados com a sustentabilidade.

Outro que adotou o Morro da Babilônia como sua casa é o belga Paul Dhuyvetter, dono da pousada Estrelas da Babilônia, inaugurada em julho do ano passado, com três quartos privados, ocupados no momento por hóspedes da França, Colômbia e Checoslováquia. Paul garantiu que todas as vagas estão preenchidas para os Jogos Olímpicos. É muito rápido, afiançou, atribuindo parte da procura à vista privilegiada das praias do Leme e Copacabana e do Corcovado.

Localizado na comunidade pacificada Chapéu Mangueira, também no Leme, o Favela Inn Hostel está em obras mas segue batalhando para conseguir hóspedes para a Olimpíada. São quartos coletivos, com um banheiro por quarto. A administradora do local, Cristiane de Oliveira, disse que não teve ainda a felicidade de ter nenhum hóspede fechando para o período dos Jogos.