ISABEL SETA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta semana, alunas do Mackenzie e da USP organizaram, por coincidência, ações similares para denunciar o comportamento de professores e colegas.
As ações começaram na segunda (25), à noite, quando estudantes de arquitetura do Mackenzie colaram nas paredes da faculdade cartazes coloridos com frases ditas por professores em sala de aula.
“Seu trabalho está ruim, você podia pelo menos ter vindo com uma saia mais curta”, “para uma menina, você projeta muito bem”, “se quiser dar soco, soca até a mulher, mas não soca a parede estrutural” e “agora vamos explicar de novo, porque a sala tem muitas meninas” são algumas das frases estampadas.
Organizada pelo grupo feminista Coletivo Zaha, da faculdade de arquitetura e design, a ideia começou a ser formulada há cerca de um mês, quando um professor fez uma piada sobre estupro durante a aula.
“Passaram a surgir várias histórias de alunas e percebemos que era algo muito mais comum do que imaginávamos”, afirma Lela Brandão, 22, uma das fundadoras do coletivo. “Juntamos esses relatos e fomos atrás de testemunhas para comprovar as frases”.
Segundo Lela, o objetivo da ação é gerar um debate sobre o machismo e fazer com que os professores repensem suas atitudes. “Alguns professores debocharam, mas a maioria nos apoiou”, diz.
Em nota, o Mackenzie afirmou que a colagem dos cartazes “demonstra a preocupação com o tema e a importância da discussão sobre intolerância no Brasil hoje”.
“O Mackenzie orgulha-se por formar cidadãos críticos e atuantes, que discutem os problemas do dia a dia da sociedade. Também respeita a liberdade de pensamento e o debate democrático, presente entre as milhares de pessoas que transitam todos os dias pelos seus campi”, diz a nota.
POLI
Um dia depois, alunas de engenharia da Escola Politécnica da USP (Poli) criaram uma página no Facebook e também espalharam cartazes com relatos de situações vividas no ambiente da escola.
À semelhança da hashtag #MeuAmigoSecreto – usada nas redes sociais no final do ano passado para denunciar casos de machismo -, as estudantes fizeram a #MeuQueridoPolitécnico para compartilhar relatos e, em menos de um dia, a página Politécnicas.R.existem teve mais de 3.000 curtidas.
“Apesar de um cartaz depredado e comentários desagradáveis em uma postagem, a repercussão positiva teve maior impacto para nós”, diz a estudante Beatriz Tortora, que participou do grupo que organizou a página.
A diretoria da Poli se manifestou por meio de uma nota, na qual diz não tolerar “discriminação, desrespeito, assédio ou abuso relacionado a gênero, assim como qualquer tipo de manifestação de ódio”.
A nota diz ainda que, em relação ao conteúdo postado na página do Facebook, é “de suma importância que o grupo faça uma denúncia formal à Diretoria, além de procurar as instâncias legais da justiça”.
“Uma minoria covarde de alunos, que se esconde atrás do anonimato para praticar crimes como os citados no perfil, merece ser responsabilizada. Mas é preciso que as denúncias sejam feitas.”
A escola diz ter canais para denúncias que são feitas em um processo anônimo.