SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma das propagandas da campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência em 2014 afirmou que a então candidata pelo PSB, Marina Silva, não tinha apoio no Congresso para aprovar medidas e insinuou que tal isolamento poderia levar ao impeachment.
Segundo o locutor da peça publicitária, que foi ao ar no programa eleitoral de 2 de setembro, a base de Marina na Câmara contava com 33 deputados. Em seguida, ele explica que eram necessários 129 votos para aprovar um projeto de lei e 308 para fazer com que uma emenda constitucional passasse.
“Como você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Tem jeito para negociar?”, questiona o locutor.
“Duas vezes na nossa história o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes de partido do eu sozinho. E a gente sabe como isso acabou”, continua a peça.
A propaganda, então, mostra as capas da Folha de S.Paulo que noticiaram a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e o impeachment de Fernando Collor, em 1992.
A capa de Collor, porém, é exposta parcialmente, de modo a não aparecer o nome e nem imagens do atual senador. Collor concorria ao Senado pelo PTB em Alagoas e tinha o apoio do PT.
EMPATADAS
A propaganda mostra ainda uma fala de Dilma sobre Marina durante um debate: “Candidata sem apoio no Congresso Nacional, não é possível assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais”.
A peça ressalta que Dilma “tem força política para realizar projetos”. “Numa democracia, ninguém governa sozinho, sem partidos”, afirma.
Naquele momento, pesquisa Datafolha dos dias 28 e 29 de agosto apontava empate entre Dilma e Marina no primeiro turno, com 34% dos votos. No segundo turno, Marina levava vantagem ­50% a 40%. A ex-senadora terminou a eleição em terceiro lugar com 21,3% dos votos.
As peças publicitárias de Dilma foram criadas pelo publicitário João Santana, responsável pelas três últimas campanhas presidenciais do PT e preso em fevereiro pela Lava Jato sob suspeita de ter recebido caixa dois da Odebrecht.
Para os investigadores, é possível que propina da Petrobras tenha sido desviada para a campanha petista, que é alvo de processo no TSE (Tribunal Superior de Justiça). Se a corte constatar as irregularidades, Dilma e o vice-presidente Michel Temer poderão ser cassados.
DERROTAS
Após a reeleição, a realidade de Dilma, porém, assemelhou-se com as previsões reservadas a Marina, e o governo teve dificuldade de aprovar medidas no Congresso.
Enquanto a presidente tentava emplacar um ajuste fiscal, os parlamentares aprovaram “pautas-bomba” que teriam um impacto anual de R$ 22 bilhões.
Antes de conseguir manter seus vetos às propostas, Dilma promoveu uma reforma ministerial que garantiu mais ministérios ao PMDB e, ainda assim, viu sessões do Congresso importantes para o governo serem adiadas por falta de quorum.
Ainda no fim de 2015, o pedido de impeachment contra Dilma foi deflagrado. Além da falta de apoio da própria base, a petista tinha baixa popularidade e se tornara um desafeto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Na reta final para a votação do impeachment na Câmara, o governo Dilma perdeu o maior partido da coalizão, o PMDB, além de PSD e PP.
Hoje se mantêm fiéis a Dilma apenas o PT (com 60 deputados), o PC do B (10), o PSOL (6) e o PDT (com 20 deputados, mas seis deles votaram pelo impeachment).