MARCEL MERGUIZO, ENVIADO ESPECIAL*
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O revezamento da tocha olímpica em Brasília começou com uma alternância de protestos políticos ao redor da chama, que chegou à capital federal na manhã desta terça-feira (3).
Desde a saída do fogo do Palácio do Planalto, às 10h, puderam ser ouvidos gritos a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff e também palavras de ordem de grupos favoráveis ao governo petista. Houve também cartazes contra a TV Globo –em uma delas se lia “TV Golpe!”.
Ao longo de todo este percurso, de aproximadamente 5 km, passando por toda a Esplanada dos Ministérios, grupos contrários a Dilma exibiram faixas, na maioria em inglês, com dizeres como “Olympeachment is here” –a maior parte deles vestia roupas verde e amarelo.
De outro lado, outro grande grupo, com alguns manifestantes vestindo camisetas ligadas a movimentos sociais, protestou contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), entoando cânticos no trajeto, como “É hora da alegria/Atrás da tocha vai a democracia”.
Em momento algum houve tentativa de agressão ou ações contra os condutores da tocha. A capitã da seleção feminina de vôlei, Fabiana, foi a primeira a desfilar com o símbolo olímpico. Outros atletas de renome como o surfista Gabriel Medina e o medalhista olímpico do atletismo Vanderlei Cordeiro de Lima também o conduziram o símbolo na primeira parte do revezamento no Distrito Federal.
Se houve trégua com os condutores, o clima esquentou em alguns momentos quando os grupos opostos se encontraram e trocavam agressões verbais. Houve tensão de ambos os lados e pessoas que apenas acompanhavam o revezamento para prestigiar o evento criticavam a “falta de espírito olímpico” e o desejo de “acabar com a festa”.
PIXULEKO
Cerca de 40 minutos após o início do revezamento, em frente ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ocorreu uma confusão entre manifestantes.
Um deles, gritando “golpista, golpista”, tentou impedir que um Pixuleko (uma pessoa fantasiada com caricatura do ex-presidente Lula com roupa de presidiário) continuasse atrás do comboio, próximo à tocha. O Pixuleko com uma “tocha olímpica” de papelão na mão conseguiu percorrer quase todo o trajeto no Eixo Monumental. Neste momento, porém, foi impedido, um tumulto foi iniciado e a polícia interveio, disparando gás de pimenta.
O gás atingiu manifestantes e pessoas que estavam apenas acompanhando o revezamento, na calçada. Outros policiais contiveram o companheiro, entraram em uma viatura e seguiram atrás da tocha.
O revezamento da tocha, que começou nesta terça, vai durar até o dia 5 de agosto, data da cerimônia de abertura dos Jogos do Rio.
Ele vai passar por 327 de todos os Estados brasileiros até chegar ao Rio no dia 4 de agosto.
EMOÇÃO
Duas das medalhistas olímpicas que estiveram entre os dez primeiros condutores da tocha olímpica em Brasília disseram não ter percebido os protestos no trajeto da chama.
A bicampeã olímpica do vôlei Paula Pequeno, 34, que participou da festa em casa, e a baiana Adriana Araújo, 34, única brasileira a conquistar uma medalha olímpica no boxe, deixaram o revezamento emocionadas e sem se envolver com os atos políticos que aconteciam ao redor.
“Nada, não ouvi nada. Só alegria. Só emoção. Consegui ver muitos familiares, amigos, conhecidos”, afirmou Paula à reportagem. Ela correu seus 200 metros com a chama até um dos símbolos de Brasília.
“É muita emoção poder fazer a troca dentro da Catedral em Brasília. É uma bênção, uma honra, mais do que especial. É diferente da medalha, é a consagração de uma vida, de um trabalho. Difícil descrever a emoção, coração está mil”, disse enquanto corria, após passar a chama adiante.
Logo que concluíam sua parte do percurso, atletas e outros condutores da tocha eram rapidamente retirados do cordão de proteção feito em torno da chama. Protegidos por um funcionário da Rio-2016, os condutores eram logo levados a um dos dois micro-ônibus que seguiam o revezamento. Neste segundos, muitos eram assediados com pedidos de selfies, o que quase nunca dava certo devido à falta de tempo e à proteção da escolta.
Adriana foi uma das poucas que deixaram o transporte oficial, escoltado por carros da polícia, e saiu para conceder entrevista a uma TV (levada por patrocinadores). Nesse trajeto, falou com a reportagem.
“Não vi nada de protesto, só vi o espírito olímpico, a chama, que traz felicidade para nosso país”, disse Adriana, enquanto corria para a entrevista na TV. “É muito emocionante, não tem momento igual. Foram dois momentos marcantes na minha vida, a medalha e levar a chama olímpica. A sensação de estar no ringue representando o país é a mesma”, concluiu.

* O jornalista MARCEL MERGUIZO viaja a convite da Nissan