FERNANDA ODILLA
LONDRES, REINO UNIDO (FOLHAPRESS) – A Turquia, que há anos tenta aderir à União Europeia (UE), levará décadas para fazer parte do bloco, disse o primeiro-ministro britânico, David Cameron, nesta quarta (4), ao defender a permanência do Reino Unido na UE numa comissão especial do Parlamento em Londres.
Em 23 de junho, os britânicos decidem, em um referendo, se querem permanecer ou deixar a UE.
Por votos contra o “Brexit” (saída do Reino Unido do bloco europeu), Cameron fez questão de descartar a dificuldade que será a entrada da Turquia no grupo que reúne 28 países.
“Gostaria de dizer muito claramente às pessoas: se seu voto está atrelado a considerações sobre a adesão da Turquia à UE, não pense sobre isso. Não faz, nem remotamente, parte das cartas. Não é um problema nesse referendo”, afirmou, salientando que o processo não acontecerá “por décadas”.
Cameron lembrou que a adesão da Turquia depende da aprovação de todos os Estados-membros da UE. Disse também que a França, por exemplo, já se posicionou dizendo que precisa consultar a população.
O britânico mudou o tom em relação à Turquia, uma vez que há seis anos ele próprio havia dito que lutaria para integrar o país à UE.
Atualmente, a Turquia enfrenta uma crise dos refugiados, uma vez que faz fronteira com a Síria e passa por dificuldades políticas e econômicas.
Para Cameron, permanecer no bloco europeu aumentará o poder do Reino Unido. “Não me sinto de nenhuma forma menos britânico por estar na União Europeia”, disse o primeiro-ministro ao ser questionado sobre o mais forte argumento de seu ministro da Defesa, Michael Gove, que defende sair do bloco e afirma que aos poucos o país está perdendo a identidade nacional.
Na sessão do Parlamento britânico, Cameron foi lembrado que há cerca de 2.000 cidadãos europeus em prisões britânicas. Admitiu que o governo poderia ter feito mais, mas afirmou que ficará mais difícil extraditá-los caso saia do bloco.
ARREPENDIMENTO
Perguntado se está arrependido de convocar o referendo diante do fato de ver o próprio partido dividido entre os que querem sair e os que querem ficar, ele respondeu que não com a justificativa de que “acredita na democracia”.
Há pelo menos cinco ministros que têm posição contrária a de Cameron. O primeiro-ministro admitiu, contudo, que poderia ter evitado não apenas o “Brexit” mas também o plebiscito na Escócia, em que o país decidiu permanecer no Reino Unido. Preferia não fazê-lo.
Além disso, o premiê afirmou que está advertindo as pessoas para votarem por ficar com base nos termos negociados por ele em fevereiro, quando o Reino Unido e a UE firmaram um acordo na tentativa de garantir um status especial aos britânicos dentro do bloco.
Cameron conseguiu, por exemplo, autorização para limitar benefícios a imigrantes europeus recém-chegados e garantia de que não haverá discriminação pelo fato de seu país estar fora da zona do euro.
Críticos, contudo, avaliam as medidas como insuficientes. De fato, pesquisas indicam empate técnico na disputa entre os defendem e os que são contra o Brexit.
“TAREFA COMPLEXA E DIFÍCIL”
Nesta quarta (4), a comissão da União Europeia composta por 19 lordes do Parlamento britânico divulgou um relatório afirmando que o processo de retirada do bloco será uma “tarefa complexa e difícil”.
Os lordes destacaram que 4 milhões de pessoas podem ficar numa espécie de “limbo”. Eles se referem aos direitos já adquiridos por aproximadamente 2 milhões de europeus que vivem no Reino Unido e por um número igual de britânicos que moram na Europa.
O relatório afirma ainda que o “Brexit” vai exigir um longo processo de negociação, que deve se estender por anos. Além disso, não há garantias de que seja possível reverter o processo de retirada caso se mude de ideia.
A comissão, contudo, evitou se posicionar em relação à votação. O governo Cameron será chamado a se posicionar sobre o texto de 26 páginas.