SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O adolescente D., 12 anos, ficou cego depois que estilhaços de uma bomba da Polícia Militar atingiram o olho esquerdo dele no dia 23 de abril perto da favela da Marcone, na Vila Maria (zona norte).
Inicialmente, a PM havia dito que o menino tinha sido atingido por uma bala de borracha. À noite, a Secretaria de Segurança Pública enviou nova nota, em nome da Polícia Militar, dizendo que D. foi ferido por estilhaço de bomba.
A dona de casa Vanessa dos Reis Santana, 29 anos, mãe de D., disse que o médico que atendeu o garoto não soube precisar o que o atingiu. O caso aconteceu durante a tentativa da PM, da gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), de reprimir um baile funk que acontecia perto da favela Marcone.
O caso é investigado pela PM, e será acompanhado pela Defensoria Pública. A Ouvidoria das Polícias já foi acionada pela família do garoto, que ainda não registrou boletim de ocorrência.
De acordo com a família, D. estava em uma lanchonete participando de uma festa de aniversário quando os PMs chegaram para acabar com o baile funk. Segundo testemunhas, os policiais jogaram bombas de efeito moral e dispararam várias vezes com balas de borracha em direção até de quem não estava no baile. Na confusão, o garoto saiu correndo e foi ferido.
Segundo a dona de casa, os policiais se recusaram a atender o filho dela depois de ferido e ainda tentaram impedir o socorro por parte de vizinhos, que teriam sido ameaçados pelos PMs.
CIRURGIA
Com o olho destruído e sangrando muito, o garoto foi levado primeiro a um pronto-socorro próximo e depois à Santa Casa, na Santa Cecília (região central), onde passou por cirurgia. “O médico disse que o olho do meu filho estava triturado e que não tinha o que fazer. Clamei a Deus para que não fosse verdade”, disse Vanessa.
Ontem, segundo a mãe, o garoto se viu pela primeira vez com o olho esquerdo destruído. “Encheu de lágrima, mas ele ainda se faz de forte para mim. Vou buscar na Justiça os meus direitos por causa do desaforo”, afirma a mãe. Antes do incidente, o sonho de D. era se tornar policial militar. Hoje, ele não quer mais. “Eles têm que pagar pelo que fizeram comigo”, disse ele.
A Polícia Militar, da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou em nota que foi instaurado um inquérito “para apurar os fatos de acordo com o regulamento e as leis em vigor”.
Segundo a PM, no local do incidente acontecia um evento desportivo autorizado, com fim previsto para 22h, e com o término alguns veículos estavam promovendo baile funk.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública disse que os policiais foram recebidos a pedradas e, por isso, foi necessária a intervenção da PM. A pasta afirmou ainda que a PM usa “equipamentos classificados como menos letais”, “de acordo com técnicas e padrões internacionais reconhecidos na contenção e dispersão de distúrbios”.