Morreu na quinta-feira (5) o professor João José Bigarella aos 92 anos de idade em Curitiba. Bigarella foi um ícone da Geologia e das Geociências no Brasil. Formado em Engenharia Química, mas atuando principalmente na Geografia Física e na Geologia, Bigarella se destacou na década de 1960 com pesquisas sobre as origens e evolução das paisagens brasileiras. Apesar do nome italiano, Bigarella era fluente em alemão e foi herdeiro intelectual de Reinhard Maack, com quem percorreu todo o Paraná em inúmeras viagens de campo, contando a história natural e geológica dessa terra dos pinheirais.

Bigarella inspirou dezenas de gerações a se engajar na luta da preservação ambiental. Em 1974, Bigarella foi um dos fundadores da Associação de Defesa e Educação Ambiental (ADEA), a primeira organização ambientalista, sem fins lucrativos, do Estado do Paraná e uma das primeiras no Sul do País. A ADEA teve importante papel em diversos projetos ambientais no Estado do Paraná. O tombamento da Serra do Mar no estado do Paraná, em 1978, e que culminou com a criação do Parque Estadual Pico Marumbi foi baseado em trabalhos do Prof. Bigarella que mostraram que o assoreamento da Baía de Paranaguá e dos canais de navegação do Porto de Paranaguá era conseqüência do desmatamento da serra. Foi um homem à sua frente e sabia que sem as florestas morreríamos de sede. Algumas vezes perdeu suas batalhas mas muitas vezes não só as venceu como desarticulou o espírito destruidor que permeia alguns políticos de poucas luzes.

Foi um dos fundadores do Curso de Geologia da Universidade Federal do Paraná e um dos grandes professores que passaram por seus quadros. Ainda estão lá seu conhecimento e sua filosofia. Autor brilhante de mais de 200 artigos científicos, citado por milhares de outros autores, desde os mais inexperientes até os grandes autores que consolidaram a Geomorfologia e parte da Geologia pelo mundo afora.