GUILHERME SETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A trégua entre Palmeiras e Crefisa por causa dos R$ 19,5 milhões, valor sobre o contrato de patrocínio que causou divergências, teve um ex-presidente do clube alviverde como importante mediador.
Cartola máximo do Palmeiras entre 1993 e 2005 e apoiador em duas eleições do atual mandatário, Paulo Nobre, Mustafá Contursi, 75, teve participação importante no apaziguamento da tensão entre clube e patrocinador.
Amigo de longa data de José Roberto Lamacchia, proprietário da Crefisa, ele se encontrou com o empresário algumas vezes nos últimos meses para tentar colocar “panos quentes” e negociar a retomada do pagamento do patrocínio (que foi suspenso por três meses, enquanto o acordo não se resolvia).
Contursi ainda participou de três reuniões com o amigo na Faculdade das Américas, cuja marca também é estampada no uniforme do clube e é igualmente propriedade de Lamacchia. Ao todo, as empresas pagam cerca de R$ 66 milhões anuais para ter suas marcas na frente (master), no número, na omoplata, na manga, nos calções e nos meiões do uniforme do Palmeiras.
A avaliação de pessoas próximas ao empresário é a de que ele confia em Contursi, devido à amizade de décadas, e por isso se sente confortável ao tratar de assuntos da política palmeirense com ele. Como Lamacchia é torcedor do clube, ambos já se conheciam e conversavam sobre a equipe antes mesmo que houvesse qualquer relação entre a agremiação e a empresa.
Quem participou das tratativas conta que Contursi teve especial importância após o clássico contra o Corinthians, quando a diretoria da Crefisa ficou bastante incomodada com o fato de que o técnico Cuca utilizou colete com a marca da fornecedora de material esportivo sobre o uniforme do Palmeiras, ofuscando o nome da patrocinadora. Diante da irritação de Lamacchia, Contursi foi capaz de conter os ânimos do amigo.
Apesar de há tempos ser avesso a aparições públicas, Contursi continua sendo uma das figuras mais influentes no clube. Ele é membro do Conselho de Orientação Fiscal do clube e estima-se que conta com a lealdade de mais de 40 membros do Conselho Deliberativo, cifra superior a 10% do órgão.
A despeito de divergências com Nobre, Contursi e ele têm boa relação, e o atual presidente o elogiou com frequência ao longo de sua gestão. Dessa forma, tendo bom trânsito com Nobre e Lamacchia, ele teve papel importante na mediação da situação tensa.
FIM DO IMBRÓGLIO
Nesta quinta-feira (5), o vice-presidente do clube, Mauricio Galiote, confirmou a representantes da patrocinadora que aceita as condições estipuladas na última versão do aditivo ao contrato entre as partes e que enviará até esta sexta-feira (6) o documento assinado.
Assim, a patrocinadora deve depositar os R$ 19,5 milhões na segunda-feira (9), o primeiro dia útil após a entrega do aditivo pelo Palmeiras. Dessa forma, os empréstimos feitos por Paulo Nobre para cobrir o buraco deixado pela falta de pagamento durante três meses deverão ser pagos com esse dinheiro.
A divergência entre as partes começou no final de 2015, motivada pela camiseta comemorativa que a equipe utilizou durante a festa do título da Copa do Brasil. Chamada de “winner t-shirt”, a camiseta apresentava as marcas Crefisa e FAM de forma reduzida, o que causou incômodo nos patrocinadores.
No final de fevereiro, em episódio semelhante, o Palmeiras fez campanha de divulgação do programa de sócios-torcedores Avanti nas camisas dos jogadores na derrota para a Ferroviária.
A ação irritou mais ainda a Crefisa, que então propôs o aditivo ao contrato de patrocínio assinado entre as partes.
No aditivo, a Crefisa especifica o tamanho e o lugar em que suas marcas devem ser exibidas nos uniformes; exigiu que sua marca tenha o mesmo espaço nas “winner t-shirts” (camisas comemorativas usadas pelos jogadores em caso de título); e impôs a multa.
Os valores de duas multas viraram motivo de discórdia entre as partes, mas nos dois casos o Palmeiras cedeu. A Crefisa queria R$ 2,5 milhões em caso de infração do contrato, e o clube pediu redução para R$ 1 milhão.
No caso de ruptura de contrato, a patrocinadora defendia pagamento de 30% do restante do acordo, ao passo que o Palmeiras argumentava que o valor integral deveria ser pago. Na versão final, permanecerem os pedidos da Crefisa.
Em reuniões, representantes da Crefisa queixaram-se do que viam como morosidade do departamento jurídico do Palmeiras na análise do aditivo contratual e que a imagem da empresa estava sendo prejudicada pelo imbróglio -nas redes sociais, torcedores começaram a cobrar o pagamento do patrocínio.
Procurados, os envolvidos não quiseram se pronunciar sobre o tema.