Me chamem de otimista, mas acredito que o Campeonato Brasileiro de 2016, que começa sábado, vai ser o melhor dos últimos anos. Daqueles decididos na última rodada, no último lance, com um ponto a mais para o campeão, um gol a menos para os rebaixados. Um campeonato daqueles em que cada rodada vai ser realmente uma final e cada ponto vai ser ganho com intenso suor. Não sei se vai ter zebra, se teremos um Leicester por aqui, mas certamente não teremos uma equipe sobrando como nos últimos títulos de Cruzeiro e Corinthians. E aí, olhando só para o nosso quintal, vem a pergunta: é preciso temer o Brasileirão?

Quem é afinal que tem um time muito melhor que Atlético ou Coritiba no País hoje? A dupla tem defeitos, cada qual a sua maneira. Atleticanos passaram um estadual inteiro na seca de gols, sem um 10 de confiança, mas uma primeira partida perfeita levou a taça pra Baixada; coxas tinham um time arrumadinho, mas as lesões de Juan e Ceará derrubaram o esquema de Kleina e a equipe foi duas vezes engolida pelo Furacão. Mas, num olhar frio, com um ou dois reforços, usando das boas estruturas e salários em dia, ambos estarão mesmo muito atrás de alguém no Brasil?

Talvez o Atlético-MG seja a melhor equipe do País hoje. Mesmo assim, fez partidas duríssimas com o América nas finais do Mineiro, e perdeu. Suou para avançar nas oitavas da Libertadores contra o Racing, 11o. colocado na classificação do atual Argentinão. Corinthians? Eliminado pelo Audax no Paulistão. Cruzeiro? Bom time, mas também eliminado precocemente no Estadual. Flamengo? Não engrenou. Grêmio? Não correspondeu. Semestre bom mesmo fez o Santa Cruz, campeão do Nordeste e de Pernambuco, mas dificilmente vai figurar na lista dos favoritos. O Santos tem um time jovem e competitivo, o Fluminense se acertou com Levir e venceu a Primeira Liga, tendo ganho um e perdido outro duelo com o Atlético. Ou seja, ao contrário dos anos anteriores, nenhum bicho papão no horizonte.

Isso também preocupa, em segunda análise. Se são todos mais ou menos iguais, se manter na elite será igualmente difícil. Será preciso superar as limitações financeiras e errar o menos possível em decisões estratégicas, como a hora de trocar de técnico ou de trazer reforços. Salários em dia serão sinal de segurança. Casa cheia, apoio e participação das torcidas, sinais de que o clube pode ir além.

Tite ainda é o melhor técnico do Brasil, tamanha a capacidade de remontar o Corinthians. Mas não há um Simeone ou Guardiola por aqui, técnicos que criaram um novo estilo de vencer, que formaram os conceitos que hoje são exaltados no Mundo. Paulo Autuori tem rodagem e experiência, é tecnico que veste faixas, ao contrário dos anteriores que passavam pelo Caju. Em pouco tempo de trabalho, já levou um troféu para casa. Gilson Kleina ainda é iniciante, mas tem um bom trabalho na Ponte Preta e ao guiar o Palmeiras de novo para a Série A. Não é o tecnico dos sonhos de muitos, mas é uma boa opção para um bolso apertado e um campeonato que promete ser parelho.

Largar bem será fundamental para a dupla Atletiba. Ainda será um período de atenções divididas para alguns clubes, logo depois haverá outros sem os jogadores das seleções. Não sei como vamos estar em dezembro, mas penso que este pode ser o campeonato mais equilibrado dos últimos anos. Bom para quem luta contra o sistema, com menos recursos, como os paranaenses.

Mudança na FPF

Braço direito de Hélio Cury nos últimos seis anos, Orlando Colaço sai da Federação com o fim do Estadual. O executivo vai seguir novos rumos e deixa a FPF num momento-chave. Os clubes estão demonstrando descontentamento e há uma divisão política muito clara. Um dos trabalhos de Colaço nesses anos foi o de tentar valorizar o Estadual. Criou estratégias de marketing, como a inédita parceria com o Facebook e viabilizou calendário para os clubes do interior com a Taça FPF sub-23, que mata dois coelhos numa só: atividade para profissionais e oportunidade para jovens. Cury, pressionado pela oposição derrotada na última eleição, mas ainda forte nos bastidores, perde um escudeiro de peso.

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão