PAULO SALDAÑA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na Etec Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina, não foi a Polícia Militar que retirou os ocupantes, mas sim os próprios alunos da unidade. A escola estava ocupada desde o dia 3 de maio em protesto contra a falta de merenda. Mas o movimento não tinha apoio da maioria dos alunos, segundo estudantes que realizaram a retirada dos ocupantes.

Na noite desta quinta-feira (12), um grupo contrário à ocupação entrou na escola e, com um cordão humano, retirou quem estava dentro da unidade. “Enquanto os alunos do noturno ficaram no portão principal, nós entramos por outra porta e demos um prazo pra eles saírem”, diz o estudante Lorenzo Sellin, 17, do 3° ano do curso integral de logística.

Após retirarem os ocupantes, por volta das 21h desta quinta, um grupo de cerca de 25 alunos, pais e professores dormiram na escola. Eles pretendem ficar até segunda, quando as aulas devem ser reiniciadas. Houve confusão na hora da retirada dos ocupantes, mas os alunos que retornaram a escola garantem que não houve violência.

A reportagem ainda não conseguiu contato com quem estava na unidade. “Desde que ocuparam a gente quer a volta das aulas porque a decisão de ocupar a escola não foi decisão da maioria”, diz o estudante Nathan Haucke, 17, do 2° ano do integral em informática. Segundo Haucke, a demanda por merenda é legítima. “A gente apoia, mas isso não é culpa do Basilides, mas do Centro Paula Souza, do governo”, disse. Computadores com informações dos 30 mil alunos que já passaram pela escola foram danificados. Também foram revirados documentos com informações da vida profissional dos professores.

Segundo Thiago Carvalho, coordenador de cursos da Etec, a maioria dos ocupantes não era da escola. “Reconheci 20 alunos que de fato estudam aqui, mas outros 40 não eram daqui”, disse Carvalho. O coordenador afirma que ainda está contabilizando os prejuízos. No final da manhã desta sexta-feira (13), funcionários e alunos organizavam a unidade. As carteiras que formavam barricadas nas cinco entradas da escola já haviam sido retiradas. O portão principal estava aberto, mas somente alunos que querem a volta das aulas podiam entrar.

O Centro Paula Souza afirmou que houve o sumiço de cinco HDs com todo o banco de dados da escola e de extintores de incêndio, além de danos ao circuito de câmeras e à central telefônica. O órgão diz ainda que as aulas permanecem suspensas na Basilides para que possa realizar a “reorganização dos espaços, muito sujos e revirados”.

 

REINTEGRAÇÃO SEM AVAL

A Polícia Militar realizou na manhã desta sexta-feira (13) quatro reintegrações de posse de imóveis públicos ocupados por estudantes sem recorrer à Justiça. Dessas, três são diretorias de ensino e uma Etec (escola técnica do Estado). A polícia afirmou que duas pessoas foram presas por furto durante a operação. Além da Etec Prof. Basilides de Godoy (Vila Leopoldina), a Prof. Horácio Augusto da Silveira, na Vila Guilherme (zona norte) também foi desocupada na noite desta quinta (12) após reunião de pais, alunos e representantes da escola.

Também nesta sexta (13) a Folha revelou que a Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, que defende o governo Geraldo Alckmin (PSDB), orientou as secretarias estaduais a, daqui para frente, fazer reintegração de posse de imóveis ocupados por manifestantes sem recorrer à Justiça. O parecer do procurador geral do Estado, Elival Ramos, de terça (10), foi em resposta a uma consulta feita pelo então secretário da Segurança, Alexandre de Moraes, empossado ministro da Justiça do governo Michel Temer.

As ações policiais aconteceram na Etesp (Escola Técnica Estadual de São Paulo) -onde também funciona uma Fatec (Faculdade de Tecnologia) e nas diretorias de ensino: Centro-Oeste, Norte 1 e Guarulhos- Sul.