GUILHERME GENESTRETI, ENVIADO ESPECIAL A CANNES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O filme “I, Daniel Blake”, de Ken Loach levou a Palma de Ouro, prêmio principal do Festival de Cannes, maior mostra de cinema do mundo. A cerimônia ocorreu na noite deste domingo (22), na cidade da costa sul da França.
Em seu discurso, Loach lembrou os personagens do filme, criticou o neoliberalismo “que leva milhões à miséria” e disse que “um outro mundo é necessário”.
O filme brasileiro “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, que estreou sob aclamação da crítica internacional e um ruidoso ato anti-impeachment, saiu sem nenhum prêmio do júri.
“I, Daniel Blake”, um retrato crítico sobre o sistema de bem-estar social inglês, conta a história de um carpinteiro de meia-idade agruras para conseguir o benefício por invalidez após uma parada cardíaca o impedir de trabalhar.
Enquanto Blake vaga pelos meandros kafkianos da burocracia inglesa, ele se depara com uma mãe solteira (Haley Squires), “expulsa” de Londres pela gentrificação -dois marginais do capitalismo britânico bem ao estilo de Loach.
Esta é a segunda vez que Loach vence a Palma de Ouro: ele já ganhou o prêmio por “Ventos da Liberdade” (2006).
OUTROS PRÊMIOS
A filipina Jaclyn Jose (de “Ma’ Rosa”, de Brillante Mendoza) levou o prêmio de melhor atriz, tirando a estatueta de Sonia Braga (“Aquarius”) e Isabelle Huppert (“Elle”), as mais cotadas na categoria. No filme, Jaclyn vive a matriarca de uma família que tem de lidar com a polícia corrupta de Manila para sair da cadeia.
O prêmio de direção foi dividido: entre o romeno Christian Mungiu (“Bacalaureat”) e o francês Olivier Assayas (“Personal Shopper”). A segunda escolha foi bastante polêmica: o filme de fantasma de Assayas foi o segundo mais vaiado em sua sessão de imprensa. Já obra de Mungiu discute os dilemas morais de um pai cuja filha é vítima de um misterioso ataque.
Outra escolha polêmica foi o grande prêmio do júri para “Juste la Fin du Monde”, vencido pelo canadense Xavier Dolan. O filme, sobre o retorno de um homem à casa da família para anunciar que está morrendo, foi malhado pela crítica e tido como o pior na carreira do diretor de 27 anos.
“American Honey”, road movie independente da inglesa Andrea Arnold levou o prêmio do júri. O longa, que tem Shia Labeouf no elenco, trata de uma garota (Sasha Lane) que cai na estrada com um grupo de jovens que vendem assinaturas de revista pelo interior pobre dos Estados Unidos.
O prêmio de melhor ator foi para Shahab Hosseini, que interpreta um marido que deseja vingar o ataque sofrido por sua mulher no iraniano “Forushande”, de Asghar Farhadi. Ele já havia levado o prêmio de melhor ator por “A Separação” (2011) no Festival de Berlim.
“Forushande” também levou o prêmio de melhor roteiro.
No total foram 21 os filmes que competiram nesta edição, marcada pela recepção negativa da crítica a diretores bem cotados (Xavier Dolan, por “Juste la Fin du Monde”; Sean Penn, por “The Last Face”; e Olivier Assayas, por “Personal Shopper”).
O prêmio Câmera de Ouro, dedicado a filmes de diretores estreantes, foi para o francês “Divines”, de Uda Benyamina, exibido fora da competição, na mostra Quinzena dos Realizadores. O filme aborda a entrada no mundo do crime de uma garota francesa.
A Palma de Ouro honorária foi para o ator francês Jean-Pierre Léaud, figura central na Nouvelle Vague e protagonista de filmes de François Truffaut. O ator de 72 anos, ovacionado e aplaudido de pé, começou no cinema ainda adolescente como o adolescente Antoine Doinel em “Os Incompreendidos” (1959). Também é protagonista de “La Mort de Louis XIV”, filme do espanhol Albert Serra exibido nesta edição do festival.
Compuseram o júri, além de Miller, as atrizes Vanessa Paradis, Kirsten Dunst e Valeria Golino, os diretores László Nemes (vencedor do Oscar por “O Filho de Saul”) e Arnaud Desplechin, a produtora iraniana Katayoon Shahabi, além dos atores Mads Mikkelsen e Donald Sutherland.
BRASILEIROS PREMIADOS
O Brasil perdeu a Palma de Ouro na categoria de curta-metragem, na qual concorria por “A Moça que Dançou com o Diabo”, de João Paulo Miranda, mas levou a menção honrosa. O filme, sobre uma mulher que vive entre parentes religiosas, custou R$ 500 financiados por uma rifa.
A Palma de curta foi para “Timecode”, do catalão Juanjo Gimenez.
Outro brasileiro premiado da edição foi Eryk Rocha, que levou o Olho de Ouro, prêmio dedicado aos documentários da programação oficial, por seu “Cinema Novo”, obra que remonta a trajetória do movimento cinematográfico nacional.
A última vez que um longa do Brasil levou a Palma de Ouro foi em 1962, com “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte. O país também foi premiado pelo júri do festival outras três vezes: direção (Glauber Rocha por “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, 1969) e atriz (Sandra Corveloni por “Linha de Passe” em 2008, e Fernanda Torres, por “Eu Sei que Vou Te Amar” em 1986).
O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes