MARCEL RIZZO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O economista Luiz Gonzaga Belluzzo vai acionar a Justiça para tentar impugnar decisão do Conselho Deliberativo do Palmeiras, na noite de segunda (23), que o suspendeu por um ano do quadro de associados e como conselheiro do clube por ter supostos problemas financeiros na gestão como presidente, entre 2009 e 2010.
“Um dos problemas básicos da decisão é que todo o processo estava prescrito. As contas são de 2010, reabriram o caso em 2015, e a prescrição era no prazo de três anos”, disse Belluzzo, usando o artigo 206 do Código Civil como base. Ele tem como advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.
Antonio Augusto Pompeu de Toledo, presidente do Conselho Deliberativo do Palmeiras, disse que desengavetou o processo contra Belluzzo, e criou uma nova comissão para analisar os dados, porque não achou justo quer o caso ficasse de lado no clube. Quando as contas de 2010 foram reprovadas, em 2011, Toledo era o presidente do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização), órgão responsável por fiscalizar a diretoria.
“Isso não podia ficar engavetado. A primeira comissão [criada em 2011] para analisar o caso nem relatório apresentou. Por isso reabri o processo, que foi julgado pelo Conselho. As pessoas tiveram amplo tempo para se defender”, disse Toledo.
Beluzzo enviou uma defesa com 15 páginas à comissão de sindicância criada. Com relação às contas não aprovadas, ele questiona alguns itens, como o adiantamento de dinheiro feito pela Adidas (patrocinadora de material esportivo) e a TV Globo, via Federação Paulista de Futebol (pelos direitos de transmissão do Campeonato Paulista). Também critica ponto que que desaprova a confissão de dívida feita à Traffic, que foi parceira do clube em sua gestão na contratação de jogadores.
“O Conselho desaprovou as contas porque não dilui o valor das luvas da Adidas e do Paulista nas gestões posteriores, por todo o contrato. Mas eram luvas, um adiantamento. E sobre a Traffic, eles foram parceiros e havia a dívida. Vou ser caloteiro?”, disse Belluzzo.
Após deixar a presidência, Belluzzo participou modestamente da candidatura oposicionista de Wladimir Pescarmona, que perdeu para o atual presidente, Paulo Nobre, reeleito em 2014. Não tem frequentado reuniões do Conselho Deliberativo, nem do COF, do qual é membro por ser ex-presidente. Do clube também se afastou por achar que um ex-presidente precisa se distanciar.
“Mas não me arrependo de ter sido presidente. Foi uma oportunidade de ajudar ao clube. Agradeço à instituição, não às pessoas. Sabe o que acontece, o que incomoda a eles [críticos]?. É que fiz o acordo para a construção da arena, e nos anos 90 levei a Parmalat [empresa parceira, que levou o time de volta a [títulos]. Isso incomoda”, disse Belluzzo.
A derrota de Belluzzo foi grande no Conselho: dos 189 conselheiros que compareceram à reunião para votar, 119 votaram por sua suspensão. Salvador Hugo Palaia, Gilberto Cipullo e Francisco Busico Júnior, que formaram a diretoria durante a gestão Belluzzo, que também corriam risco de suspensão não atingiram votação da maioria para serem suspensos.
“Os demais cometam atos por decorrência da presidência, a mando da presidência. Belluzzo foi punido por sua responsabilidade como presidente no período. O COF rejeitou comprar realizadas no período”, disse Toledo.
Presidente do Palmeiras no biênio 2011/2012, Arnaldo Tirone corre o risco de receber a mesma punição de Belluzzo. Sua suspensão deveria ter sido votada nesta segunda, mas o Conselho concedeu 15 dias úteis para ele apresentar sua defesa, contando a partir desta terça-feira.
“Entendi que o Tirone, por uma questão estatutária após pedido dele, deveria ter mais tempo para apresentar a defesa”, explicou Toledo.
HISTÓRICO
Eleito em 2009 como pessoa que mudaria a concepção de administração no futebol, Luiz Gonzaga Belluzzo deixou o Palmeiras em janeiro de 2011 sem ganhar um título e e com um saldo de contas a pagar pelo menos quatro vezes maior do que quando entrou, segundo Walter Munhoz, que já foi vice-presidente financeiro do clube.
No período, melhorou a imagem da equipe alviverde com credores, alongou dívidas antigas a juros menores e estreitou relações com a Traffic.
Ao mesmo tempo, o então presidente pedia grandes empréstimos para sanar dívidas do clube. O maior deles, solicitado em 2010 e dando as cotas de direitos de transmissão de TV dos próximos cinco Paulistas como garantia, foi de R$ 39,6 milhões ao banco BMG.
No primeiro ano de sua gestão, Belluzzo fechou as contas do Palmeiras com deficit de cerca de R$ 41 milhões. Em 2010, o déficit foi maior que R$ 70 milhões. A participação do futebol neste endividamento é de 80% do valor total, ou seja, mais de R$ 56 milhões.