EULINA OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mercado financeiro iniciou a terça-feira (24) “bem-humorado”, aguardando as primeiras medidas econômicas do governo do presidente interino Michel Temer. No entanto, após uma sessão volátil, o dólar comercial fechou com pequena baixa e o Ibovespa praticamente estável.
Analistas avaliam que as medidas anunciadas para controlar o deficit do governo são positivas, mas carecem de mais detalhes. Além disso, dúvidas em relação ao sucesso das medidas, principalmente se haverá apoio suficiente para aprová-las no Congresso, tiraram o ímpeto dos investidores, que optaram pela cautela. O mercado aguardava a votação da nova meta fiscal no Congresso nesta terça-feira para ter uma ideia da força do governo Temer.
Contribuiu para reduzir os negócios no mercado doméstico o fortalecimento da moeda americana no exterior. As vendas de casa novas nos EUA em abril, que cresceram acima das expectativas, para o maior nível em mais de oito anos, reforçaram as apostas de uma alta dos juros americanos em breve.
“As medidas anunciadas pelo governo para cortar gastos e organizar as contas públicas estão na direção correta, mas a questão é como elas serão colocadas em prática e como será a tramitação no Congresso, se será fácil ou não”, afirma Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais. “Por isso, o mercado olha o anúncio com reserva, esperando os próximos passos do governo.”
Segundo Bandeira, é preciso que o governo especifique melhor as medidas, que por enquanto são uma declaração de intenções.
“Qualquer anúncio de contenção de gastos do governo é positivo, mas o mercado aguarda medidas concretas e efetivas, por isso reagiu com cautela”, avalia Roberto Indech, analista da corretora Rico.
Raphael Figueiredo, analista da Clear Corretora, avalia que outro ponto que não ficou bem esclarecido é a antecipação do pagamento de parte da dívida do BNDES com o Tesouro. “Tem que ver se isso é permitido, pois, a princípio, pode parecer uma ‘pedalada'”, afirma o analista, em referência aos empréstimos vedados e não contabilizados, tomados de bancos públicos, que basearam o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Outra questão que precisa ser melhor detalhada, dizem os analistas, é a do fundo soberano. Temer quer extinguir o fundo, com patrimônio de R$ 2 bilhões, para cobrir o endividamento público.
Segundo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a venda de ações vai ser cuidadosamente avaliada para não criar movimentos artificiais ou bruscos nos preços dos papéis. Mesmo assim, as ações ordinárias do Banco do Brasil terminaram a sessão em queda de 6%, cotadas a R$ 15,98.
“Ninguém sabe ainda como seria essa operação, mas o anúncio criou uma pressão vendedora sobre os papéis do banco. Diante das incertezas, o investidor prefere se antecipar e se desfazer dos papéis”, explica Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.
BOLSA
O Ibovespa fechou em alta de apenas 0,03%, aos 49.345,19 pontos. O volume financeiro foi baixo, de R$ 5,2 bilhões
Ainda no setor financeiro, além das ações do BB -que lideraram as quedas do índice e foram as mais negociadas do pregão-, Itaú Unibanco PN perdeu 0,09%; Bradesco PN subiu 0,28%; Santander unit, -0,38%.
As ações da Vale recuaram 1,30%, a R$ 11,35 (PNA) e 2,90%, a R$ 14,02 (ON), influenciadas pelos baixos preços do minério de ferro no mercado chinês.
Os papéis da Petrobras fecharam em alta de 0,35%, a R$ 8,53 (PN) e de 0,45%, a R$ 11,09 (ON), beneficiadas pela alta do petróleo no mercado internacional.
DÓLAR E JUROS
O dólar comercial, usado em transações de comércio exterior, fechou em baixa de 0,16%, cotado a R$ 3,5760. A moeda americana à vista, referência no mercado financeiro e que encerra os negócios mais cedo, caiu 0,44%, a R$ 3,5596.
O mercado de juros futuros terminou em leve baixa. O contrato de DI para janeiro de 2017 recuou de 13,695% para 13,685%, enquanto o contrato de DI para janeiro de 2021 caiu de 12,620% para 12,610%.
O CDS (credit default swap) caía 0,25%, aos 355,805 pontos.
EXTERIOR
Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 fechou em alta de 1,37%; o Dow Jones, +1,22%; e o Nasdaq, +2,00%. Os índices foram impulsionados pelas ações do setor financeiro e de tecnologia.
Na Europa, as Bolsas também registraram fortes altas, ajudadas por ações de bancos. Na Ásia, a maioria dos principais índices fechou em baixa, com os temores em relação à desaceleração econômica da China.