LUIZA FRANCO
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – “O museu de Niterói de Oscar Niemeyer será o espaço onde vou mostrar minha próxima coleção Louis Vuitton no dia 28 de maio”, escreveu o estilista Nicolas Ghesquière em uma rede social, ao lado de uma foto do recém-tombado edifício.
A notícia pegou os fluminenses de surpresa. Fechado para exposições há mais de um ano, o MAC (Museu de Arte Contemporânea) de Niterói será alugado para um desfile da grife francesa.
Em contrapartida, depois da realização do desfile, a empresa doará R$ 1,5 milhão para o museu, e o dinheiro será usado para financiar mostras.
Em 11 de junho, com dois meses de atraso da data prevista para o fim da reforma do espaço, o museu retomará sua vocação: exibição de obras de arte.
O MAC, museu projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012) e situado em um morro em frente à baía de Guanabara, foi criado pela Prefeitura de Niterói em 1996 para abrigar a coleção de João Sattamini, que conta com cerca de 1.400 peças de artistas como Lygia Clark, Frans Krajcberg, Hélio Oiticica e Antonio Dias.
Em fevereiro de 2015, o museu fechou as portas para fazer o que chamou na época de “manutenção emergencial”. Devido às condições do museu, Sattamini ameaçou não renovar seu contrato com a instituição, o que acabou não cumprindo. O MAC está em obras desde então. O colecionador disse à reportagem, por e-mail, que voltou atrás porque a prefeitura decidiu fazer uma reforma geral no prédio.
“É um patrimônio da cidade e, portanto, obrigação da prefeitura mantê-lo. Após anos de abandono reformaram o prédio. Cumpriram a promessa”, disse Sattamini.
Para ele, no entanto, o buraco é mais embaixo. “O MAC está mal situado na estrutura da prefeitura. Tem que ser independente e com CNPJ próprio para poder captar recursos, inclusive no exterior, com conselho próprio, salários mais dignos etc.”
O custo de manutenção do museu, sem contar gastos com pessoal, gira em torno de R$ 1 milhão, segundo a Fundação de Arte de Niterói, órgão da Secretaria de Cultura responsável pelo museu.
No ano passado, o recado para quem visitasse o site do MAC era: reabriremos no primeiro trimestre de 2016.
A meta não foi cumprida.
De acordo com a Fundação de Arte de Niterói, as fortes chuvas que atingiram a cidade entre fevereiro e março provocaram o atraso da obra – os serviços na área externa só podiam ser executados durante uma sequência de dias secos.
Segundo o órgão, a reforma está, neste momento, em fase final de acabamento. Elas incluíram as reparações do sistema de ar, da fachada e da rampa, além de banheiros, loja, recepção e iluminação. As grades da entrada foram substituídas por vidro. Custaram cerca de R$ 7 milhões, sendo R$ 6 milhões da Prefeitura de Niterói e R$ 1 milhão do governo federal.
Sattamini, porém, diz que a reserva técnica ainda é um problema, porque está abarrotada, o que, segundo ele, coloca as obras em risco.
“O problema da reserva ainda não foi resolvido. Estou pressionando a prefeitura. Com o serviço público é sempre assim. As minhas obras estão bem conservadas face ao esforço das museólogas. Vou continuar a pressionar via contrato de comodato”, disse o colecionador.
De acordo com o diretor do MAC, Guilherme Vergara, parte da contrapartida da Louis Vuitton será alocado para uma reestruturação das reservas técnicas existentes.
Há ainda o projeto para a construção de uma nova reserva técnica compartilhada entre o MAC e o Museu do Ingá, também em Niterói.
A marca francesa apresentará, no desfile de maio, a nova edição da coleção Cruise – termo usado para a apresentação de coleções intermediárias em eventos privados e fora das semanas de moda como, por exemplo o da Chanel, que ocorreu em Cuba em maio.
Em junho, o MAC fará uma exposição a partir de um recorte da coleção de Sattamini. Com curadoria de Vergara, a mostra exibirá obras de Iole de Freitas, Cildo Meireles, Franz Weissmann e Lygia Clark – incluindo um retrato, algo raro na carreira da mineira, que não trabalhava com arte figurativa -, entre outros.
Segundo a fundação, o MAC, que no dia 2 de setembro vai comemorar 20 anos, será reaberto “novo, moderno e mais sustentável” para a celebração do aniversário.