As fortes declarações dadas pelo técnico Paulo Autuori sobre a arbitragem de Atlético e Atlético Mineiro no último final de semana, na Arena, nos põem novamente a pensar sobre as atuações, postura e importância dos árbitros brasileiros na atualidade.

A polêmica se deu após o treinador rubro-negro ter sido expulso ainda no primeiro tempo depois de reclamar da conduta do trio de arbitragem encabeçado pelo árbitro Flávio Rodrigues de Souza. Ao xingar o juiz, Autuori foi dedurado pelo quarto árbitro e acabou excluído do banco de reservas. No intervalo, interpelou o árbitro dizendo que ali, na porta do vestiário, a conversa seria de homem para homem. Os relatos estão na súmula da partida.

Deixando de lado qualquer tipo de histórico controverso de mau comportamento que Autuori ou qualquer outro treinador/jogador tenha no seu currículo, pergunto: tem valido a pena manter os árbitros em inalcançáveis pedestais de intocabilidade?

Dar-lhes a fé pública comumente dada a autoridades e serventuários da justiça não me parece uma opção, nem legal, nem justa. São humanos, erram (e muito) e precisam pagar literalmente ou moralmente pelos erros que cometem. Hoje, ao contrário disso, a balança de punições só pende para lado contrário ao deles quando as partes envolvidas ou o erro cometido causam comoção nas massas, ou seja, quando atingem os ditos grandes times.

A postura de intolerância ao diálogo imposta aos árbitros é absurda. O futebol sempre foi um esporte de interação. Entre jogadores do mesmo time, do time contrário, com a arbitragem, torcedores e todos que vão ao estádio. Os árbitros, auxiliares e afins não podem cumprir o papel de neutralidade de existência, mesmo porque eles estão ali e ultimamente mais têm atrapalhado do que ajudado no bom andamento de um jogo.

Existem diversos profissionais com a melhor das intenções, que se preparam, estudam e buscam constantemente o aprimoramento profissional. A eles meus respeitos e consideração. Mas assim como costumam jogar jornalistas num mesmo balaio de ofensas quando tiram o dia para culpar a imprensa pelas mazelas do mundo, os árbitros hoje se tornaram um problema.

A conversa é saudável e deve existir. Diria até que os xingamentos de desabafos são compreensíveis, afinal embora o jogo se baseie na técnica, também a emoção como parceiro inseparável. Tentar impor respeito na base do cartão de advertências e da cara feia os homens da lei não é o caminho.

Façamos um exercício. Que leitor/torcedor se lembra da atuação precisa de um árbitro, que por seu desempenho impecável evitou o cometimento de um erro gravíssimo, tornando o resultado o mais justo possível? Lembrou?

E do árbitro que ferrou seu time no último jogo, você lembra? É evidente que a pergunta sacana não pode balizar a formação de um conceito sobre a atual postura das arbitragens, mas pode servir de reflexão.

Os árbitros têm mais ajudado ou atrapalhado?

São gastas verdadeiras fortunas pelos times (aqueles que pagam suas contas, porque né…) e o erro de arbitragem tem que parar de definir o encaminhamento de um jogo. Falhas todos cometem, mas erros de julgamento e muitas vezes por preguiça de pensar ou mesmo pressão de camisa não podem continuar.

Reféns de um abandono político/futebolístico local, os dirigentes e jogadores apelam aos microfones para tentar chamar a atenção para o problema. Os árbitros precisam se cuidar, se preparar e evoluir (bom, nesse caso, alguns dirigentes também. O conselho está aí).

Os homens de preto vivem dias difíceis. São dezenas de novas tecnologias e câmeras atuando para provar que eles estão errados. Acuados, os comandantes da arbitragem apelam para a tentativa de se impor na força e na repreensão, afinal não admitem o auxílio da tecnologia para enterrar de vez a era do constrangimento vivida pelos árbitros atualmente.

 Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.