SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao som de “My Way”, de Frank Sinatra, o corpo do advogado Arnaldo Malheiros Filho foi encaminhado para a cremação nesta quarta-feira (25), em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Cerca de 250 pessoas acompanharam a cerimônia, entre as quais o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Eros Grau.
Considerado um dos maiores criminalistas do país, Malheiros morreu na última terça (24) em decorrência de problemas com dois transplantes de fígado pelos quais passou nos últimos 30 dias. Tinha 65 anos.
José Carlos Dias, que deu o primeiro emprego a Malheiros em 1973 e com quem defendeu presos políticos na ditadura militar (1964-1985), diz ter ficado impressionado “com o brilho daquele garoto” que entrou em seu escritório logo após se formar na USP: “O Arnaldo foi um dos maiores advogados que conheci. Foi meu sócio, no escritório Dias & Malheiros, e nos separamos por uma questão tática. Hoje perdi meu irmão”, disse.
O criminalista Celso Vilardi, que atuou com Malheiros na defesa do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no julgamento do mensalão, afirmou que ele foi o professor de toda uma geração: “Ele era um mestre da língua portuguesa, tinha uma memória prodigiosa, contava casos da ditadura, tinha um humor absolutamente refinado e uma inteligência raríssima”.
Flávia Rahal, que trabalhou com Malheiros por 22 anos, frisou a alegria de trabalhar com ele: “O maior ensinamento que eu tive foi a dedicação e o amor que ele colocava em tudo que fazia. Era uma entrega. Isso fazia com que todos os nossos processos, e eu falo de processo de vida, não de processo judicial, fossem processos de muito aprendizado e muito prazer. Ele era superlativo: era gigantesco e tinha uma mente genial”.
O advogado Augusto Arruda Botelho, presidente do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), contou que a ideia de criar a entidade, no ano 2000, partiu de Márcio Thomaz Bastos, José Carlos Dias e Malheiros. À época, Arruda Botelho era estagiário de Thomaz Bastos: “O Arnaldo dizia que, se a gente não fizesse alguma coisa naquela época, eu não conseguiria advogar quando me formasse. A flexibilização de direitos, de garantias fundamentais e de desrespeito ao direito de defesa vinham e vêm numa toada tão perigosa que precisamos nos mobilizar de alguma forma. Ele e o Márcio nos ensinaram os princípios da advocacia humanista”.
Eros Grau contou que se reunia todo sábado com Malheiros para conversar sobre assuntos pelos quais eram apaixonados, como a advocacia e a cidade de Paris. Segundo Grau, o advogado era seu “irmão escolhido”. “Vamos continuar nossos sábados de manhã, nossos encontros. Você é lindo, meu amigo! Até breve”, disse em discurso.