As políticas de promoção da saúde desenvolvidas em Curitiba foram apresentadas pelo prefeito Gustavo Fruet na manhã desta quinta-feira (26), durante um dos últimos painéis da 22ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde, que dessde o último domingo reúne na cidade 2 mil participantes de 70 países. Fruet afirmou que, depois de 30 anos dando prioridade aos investimentos em infraestrutura urbana e viária, Curitiba agora precisa se voltar com mais ênfase para a área social e a promoção da vida. Também na mesa, a representante do Ministério da Saúde reafirmou na conferência a importância de garantir o SUS.

“A cidade mudou de patamar. Temos investido em ações e programas que promovem a vida e a democratização do espaço urbano. Nosso trabalho na área da saúde é intersetorial, integrado com as áreas de educação, abastecimento, trânsito e ação social, disse Fruet, que participou da plenária “Concepção e implementação de políticas de promoção da saúde: um diálogo contrastando as experiências brasileiras e chinesas”, realizada no Teatro Positivo. A discussão teve também a participação de Marta Silva, representante do Ministério da Saúde; e do chinês Fu Hua e foi mediada pelo secretário Municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton.

O prefeito, que já havia participado da abertura da conferência, agradeceu em nome da cidade o privilégio de Curitiba ter sido escolhida para sediar uma discussão tão fundamental para a melhoria da saúde das pessoas em todo o mundo.

Depois de apresentar políticas públicas desenvolvidas nas áreas da educação, ação social, abastecimento, meio ambiente, esporte e lazer e trânsito, Fruet falou da expectativa sobre a elaboração da Carta de Curitiba, documento construído ao longo da conferência pelos participantes e que será apresentado a chefes de estado em novembro, em Xangai, na China, durante a 9ª Conferência da Organização Mundial da Saúde. Pela pluralidade de ideias e experiências reunida aqui, tenho certeza que a conferência de Curitiba apresentará contribuições importantes que servirão como referência para que os países avancem em novas e consistentes ações para a garantia da promoção da saúde no mundo, disse Gustavo Fruet.

A pesquisadora Marta Silva, representante do Ministério da Saúde, destacou que não há como falar em avanço na qualidade da saúde de uma população sem que seja possível reduzir a iniquidade e ressaltou a importância da manutenção do Sistema de Saúde Único (SUS) no Brasil. Precisamos garantir o SUS no Brasil, pois sem ele o esforço de promoção da saúde da população fica comprometido. Este tema precisa estar nas agendas dos gestores, nas agendas dos que discutem os planos para a saúde no país, nos planos plurianuais, nos orçamentos, disse Marta Silva.

O chinês Fu Hua falou sobre o sistema de saúde na China, apresentando informações sobre leis chinesas, os mecanismos financeiros e alguns exemplos de como o atendimento de saúde acontece no país. Entre os desafios para a promoção da saúde da população chinesa está o investimento em ações para a despoluição do ar, a melhoria dos hospitais e ampliação de ações de empreendedorismo para melhorar a empregabilidade das pessoas.

É fundamental a discussão das políticas e orçamentos destinados à garantia da saúde, à elaboração e ao desenvolvimento de planos e programas para a promoção integral da saúde, disse Fu Hua. A China sediará a próxima Conferência Mundial de Promoção da Saúde e Fu Hua destacou que o evento amplia Xangai, ampliando para chefes de estado o debate feito por pesquisadores, gestores e trabalhadores ligados ao tema.

O evento foi organizado pela nião Internacional para a Promoção da Saúde e Educação para a Saúde (UIPES), em parceria com a Prefeitura Municipal de Curitiba e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). O secretário Municipal da Saúde, Césat Titon, ressaltou que a realização da conferência na cidade serviu para reafirmar a grande capacidade dos servidores de Curitiba e de equipes de diferentes instituições para trabalharem integradas. Foi importante para discutirmos algumas experiências que já temos consolidadas, intensificar a visão da saúde em outros segmentos, reforçar a importância da intersetorialidade e promover a aproximação entre instituições e governos, disse César.

Práticas de políticas inovadoras

A troca de experiências em diferentes setores da sociedade foi um dos maiores legados da 22ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde. Pesquisadores, agentes públicos e de saúde e formuladores de políticas públicas avaliaram o cenário atual das políticas de promoção da saúde, compartilharam estratégias e resultados de pesquisa e refletiram sobre as práticas de políticas inovadoras para a promoção da saúde e a equidade, em todos os níveis de governança.

As discussões subsidiaram a elaboração da Carta de Curitiba e, para a Simone Tetu Moyses, coordenadora do comitê local da Conferência, deixaram também um grande legado para a cidade. Mais do que elaborarmos um documento, tivemos a troca de experiências em diferentes temáticas da promoção da saúde e da equidade. Foi um processo de construção de boas práticas de promoção de saúde, abordando a responsabilidade de cada esfera do setor público na efetivação dos elementos que garantam oportunidades iguais para todos, e a partir daí o cumprimento dos direitos à saúde e à qualidade de vida, disse Simone.

Para o presidente da União Internacional para Promoção da Saúde e Educação (UIPES), Michael Sparks, a Conferência foi também um espaço importante para analisar a Carta de Ottawa – escrita em 1986 durante a primeira Conferência Mundial de Promoção da Saúde e que tinha como slogan ‘Saúde para Todos no Ano 2000 e anos subsequentes’ – e para fazer uma análise sobre o que está acontecendo hoje e o que podemos prever para o futuro. Discutir equidade é discutir as neessidades de todos, independente do setor em que estão inseridos. É preciso que toda a sociedade se envolva na promoção da saúde, ressaltou Sparks, lembrando que a promoção da saúde é muito mais abrangente que a assistência à saúde.

Além de ser uma oportunidade de darmos visibilidade para a produção de saúde, tanto na área da pesquisa quanto dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conseguimos mostrar a forma brasileira de pensar a promoção da saúde, complementou Thiago Barreto, secretário executivo adjunto da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Atividades

Os mais de 2 mil participantes de 70 nacionalidades que vieram para a conferência participaram de plenárias e subplenárias, simpósios, worshops, e-pôster, pôster e ciclos de conversas, durante os quais tiveram a oportunidade de conhecer a experiência de outros locais, verificar os caminhos seguidos, quais experiências estão dando certo e levar esse conhecimento para as ações do seu dia a dia. Muitos participantes me falaram que a experiência está sendo ótima, pois conseguem ver que o trabalho que estão realizando está no caminho certo ou que precisa de realinhamento para ter êxito maior, disse Barreto.

A haitiana Merlange Jnbaptiste ouviu falar pela primeira vez na Conferência que seria realizada no Brasil em 2011 e conta que naquela época, morando ainda no Haiti, jamais pensou que poderia participar do evento. Hoje, Merlange estuda enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina e está aproveitando a conferência o máximo que pode. Parece um sonho estar aqui, para aprender e debater sobre equidade e igualdade na saúde. Minha intenção é absorver o máximo que puder para um dia poder levar esse conhecimentos para o meu país, tentar favorecer principalmente o acesso da população mais vulnerável do Haiti aos serviços de saúde, explicou.

A Conferência é muito rica na questão cultural. Uma das coisas que me chamou atenção é a importância de fazermos com que nossos processos de trabalho sejam mais efetivos. De finalizarmos o que começamos, frisou a fisioterapeuta Talita Carvalhal.