Promover a inclusão em todas as unidades da rede municipal de ensino de Curitiba é uma das estratégias da Secretaria Municipal da Educação para garantir o direito à educação de qualidade para todos os 141 mil estudantes e crianças atendidos na rede. A multiplicidade de ações, projetos, programas e os investimentos contínuos feitos em acessibilidade, materiais adaptados e formação continuada dos profissionais da área têm sido fundamentais para promover a inclusão escolar em turmas do Ensino Fundamental, Educação Infantil e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

As ações são realizadas por meio da Coordenadoria de Atendimento às Necessidades Especiais (CANE), responsável pelos serviços e programas que atendem crianças, estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação e com necessidades educacionais específicas e servem para diminuir as desigualdades no ambiente escolar, social e cultural.

Atualmente são 1.768 crianças e estudantes incluídos e que participam de atividades para auxiliar o desenvolvimento. Eles recebem atendimento em período regular e no contraturno participam de atividades especificas que são desenvolvidas nas 80 Salas de Recursos ou nas 27 Salas de Recursos Multifuncionais, além dos oito Centros Municipais de Atendimentos Especializados (CMAEs) que ofertam serviços especializados de pedagogos, professores especializados em reeducação visual, auditiva, psicólogos, fonoaudiólogos e atendimento aos estudantes com altas habilidades/superdotação.

Quando há indicação – seguindo os critérios da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – um profissional de apoio auxilia a criança e estudante com necessidade educacional especial no período em que está na unidade. A liberação deste profissional ocorre a partir da observação quanto ao nível de comprometimento e características individuais em relação à locomoção, higiene e alimentação. São diferentes ações que se aplicam a partir de cada necessidade específica, mas com um mesmo propósito que é o de garantir acesso e permanência da criança e do estudante no processo de aprendizagem com qualidade. Segue o princípio de Equidade adotado nesta gestão que é o de oferecer oportunidades para o desenvolvimento de todos a partir das necessidades específicas de cada um, diz a Secretária Municipal da Educação, Roberlayne Borges Roballo.

Fabrício Cassiano dos Santos, de 7 anos, estudante Escola Municipal Miracy Rodrigues de Araújo, no Bairro Novo, é um exemplo de como a inclusão é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Filho da professora Vanessa Cassiano dos Santos o garoto foi diagnosticado com autismo aos dois anos de idade. Desde bebê percebia que o Fabrício não interagia. As primeiras palavrinhas demoraram a acontecer, procurei vários médicos, mas o diagnóstico foi demorado. Procuramos a escola para que ele pudesse ter uma vida feliz, convivendo com outras crianças e fazendo amigos, diz Vanessa.

O processo de inclusão do Fabrício na escola começou a partir de um trabalho integrado entre os professores e a família do estudante. Fiquei confiante, pois me explicaram que no contraturno ele também é atendido em uma sala multifuncional por pessoas especializadas, que iriam ajudá-lo a romper barreiras e a se desenvolver da melhor maneira. A inclusão garantiu ao meu filho tivesse condições favoráveis para seu desenvolvimento, auxiliando-o a interagir com professores e colegas, o que também contribuiu para sua permanência e aprendizagem na escola. O resultado desse processo deu felicidade ao meu filho, conta Vanessa.

Sala de Recursos Multifuncionais – Para ampliar informações sobre o autismo, professoras da Escola Municipal Miracy de Araújo convidaram 15 pais de estudantes que frequentam a Sala de Recursos Multifuncionais para participar de um espaço de troca, compartilhamento e formação sobre o Transtorno de Espectro Autista. Os encontros acontecem com mensalmente na escola, mediados pela professora Areni Pierin que organiza palestras, dinâmicas, relatos de experiências e avaliações. É preciso debater e criar condições especiais dentro da sociedade para superar essas dificuldades de convivência humana. O trabalho de estudo do grupo também reforça o diálogo entre família e a escola e colabora para que o trabalho aconteça integrado pois é ajudar o autista na organização do seu dia a dia, bem como na tarefa de se comunicar com os outros e de ingressar em qualquer espaço, mas para isso são necessárias estratégias e metodologias direcionadas, explica Areni.

Participar do grupo tem sido importante para Vanessa, que passou a compreender melhor o filho Fabrício: Senti a necessidade de fazer uma leitura melhor sobre o assunto para compreender o desenvolvimento do meu filho, priorizando os detalhes que podem contribuir para as conquistas de comunicação, socialização, raciocínio e aprendizagem.

Além do atraso no desenvolvimento geral, o autista apresenta características de automatização, ou seja, está mais voltado para seu mundo interno, para suas memórias. Isto implica em dificuldades no convívio, mesmo os familiares. Para Marisa Dias Silva, mãe de Samuel Dias, 7 anos, também atendido na Sala Multifuncional, os encontros também são esclarecedores. Os encontros têm dado oportunidade para os pais discutirem ações que envolvem a convivência, a sociabilidade e a educação inclusiva dos autistas e isso tem feito toda a diferença, disse Marisa.

Na Escola Municipal dos Vinhedos, em Santa Felicidade, uma bem-sucedida parceria entre os profissionais de Educação Física e os da Sala de Recursos Multifuncionais deu origem ao projeto Somos Todos Diferentes, mas Temos Algo em Comum, para trabalhar a inclusão com os estudantes. Desenvolvemos um projeto de inclusão que acolhe o estudante e sua família e por meio dele conseguimos um trabalho de integração que é multiplicado para outras famílias, diz a diretora Rosângela Bonfim Gunther.

Os professores construíram uma rotina de planejamento para aulas voltadas à promoção do desenvolvimento e a participação efetiva dos estudantes com a deficiência. Entre as práticas desenvolvidas na unidade está a busca de informações sobre o Transtorno de Espectro Autista, para o atendimento de casos de inclusão identificado no grupo de estudantes. Subsidiadas pela formação em cursos e oficinas as professoras Andrea Malmegrim Elias e Eliane Tesoni de Figueiredo, criaram sugestões de planejamentos com adaptações e flexibilizações de conteúdos e atividades para as aulas de Educação Física. O material foi compilado em uma apostila que é compartilhada com os profissionais.

A acessibilidade é outro fator que garante a inclusão na escola, pois torna o espaço em um ambiente de igualdade de aprendizagem e convivênvia.É um processo gradual e que ensina muitos de nós. Todos na escola passam pela experiência de ensinar pessoas com deficiência. Não há como negar que eles trazem para a gente muito aprendizado. Conseguimos obter essa inclusão com adaptações, fazendo com que esses estudantes possam se sentir naturalmente integrados à vida em sociedade e, principalmente, na escola, destaca a professora da sala de recursos, Andrea Malmegrim Elias.

É neste espaço que a auxiliar administrativo, Gianna Cristina da Luz, encontrou as portas abertas para que seu filho Kauan Caldas da Silva, de 7 anos, que é autista, pudesse conhecer pessoas, fazer amigos, entender o toque das mãos como demonstração de afeto e se desenvolver de maneira plena e feliz. Gianna conta que a busca pela escola e atendimento adequado para o filho passou pela falta de informação, pelo preconceito e pela insegurança, fatores comuns às famílias que buscam atendimento para um filho especial, mas apesar de tudo comemora as conquistas que o filho tem a cada dia desde que chegou à Escola Municipal dos Vinhedos. Meu filho está mais calmo, consegue se comunicar melhor, tem amigos, realiza tarefas e eu celebro o seu desenvolvimento e alegria a cada dia, comenta.

Escolas especiais – Para 1.006 estudantes com necessidades educacionais específicas o atendimento acontece nas 98 Classes Especiais organizadas nas escolas. A rede conta ainda com as Escolas Municipais de Educação Especial Helena Wladimirna Antipoff, Tomaz Edison de Andrade Vieira e Ali Bark onde são atendidos 662 crianças/estudantes de 0 a 24 anos, com necessidades educacionais especiais na área de deficiência intelectual e/ou associada a outras deficiências. As três escolas estão sendo transformadas em escolas de educação básica, na modalidade da educação especial, com oferta de Educação Infantil, Ensino Fundamental Anos Iniciais, Educação de Jovens e Adultos e Programa Educação para o Trabalho e Convivência Social.

Boa parte destes estudantes têm deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento e precisam de transporte especial para chegar à escola que é feito pelo Sistema Integrado de Transporte Especial (Sites). Fruto de parceria ente a Secretaria Municipal da Educação e Urbanização de Curitiba S/A – URBS o Sites mantem uma frota de 60 ônibus em 56 linhas, atendendo 35 escolas, transportando mais de dois mil estudantes.

O Atendimento Pedagógico Domiciliar e o Programa Escolarização Hospitalar são outras ações de inclusão. O primeiro dá suporte pedagógico ao estudante matriculado em escolas municipais, em turmas do ensino fundamental, e que precisa ficar em casa por um longo período para tratamento de saúde. São atividades pedagógicas, flexibilizadas e organizadas de forma integrada à unidade escolar de referência do estudante e que servem também para manter o contato entre o estudante, seus colegas e professores ao longo do tratamento. Manter o vínculo é importante para ajudar o retorno e reinserção do estudante na escola. O segundo também oferta atendimento pedagógico para crianças e estudantes afastados das salas de aula para tratamento de saúde, mas é desenvolvido em hospitais ou casas de apoio com a participação de 10 professores municipais que atendem nos Hospital Pequeno Príncipe, Hospital Erasto Gaertner, Hospital das Clinicas e Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia – APACN.

Outra importante frente de trabalho no processo de inclusão escolar é a promoção do respeito e da valorização de cada estudante da rede. O projeto Bullying não é Brincadeira foi ciado em 2014 para intensificar nas escolas o respeito às singularidades, diversidades e deficiências, desenvolvendo a cultura de paz e respeito nas relações sociais.