O caso da adolescente de 16 anos que teria sido estuprada por 33 homens ganha cada vez mais contornos dramáticos. Agora, foi vez do delegado Alessandro Thiers, responsável pelas investigações do caso, afirmar que ainda não está convencido de que realmente houve estupro. Por outro lado, a advogada da vítima, Eloísa Samy, acusa o policial de machismo e já pediu seu afastamento do caso, o que deverá ser analisado pelo Ministério Público.

Em entrevista coletiva após os depoimentos da vítima e de suspeitos, o delegado titular da Delegacia de Repressão de Crimes de Informática do Rio afirmou: “A gente está investigando se houve consentimento dela, se ela estava dopada e se realmente os fatos aconteceram. A política não pode ser leviana de comprar a ideia de estupro coletivo quando na verdade a gente não sabe ainda”.

Antes, a advogada Samy já havia pedido o afastamento dele, alegando que o policial “não tem condições de conduzir esse caso. Durante o depoimento da vítima, fez perguntas que claramente tentavam culpá-la pelo estupro. Ele chegou a perguntar: ‘Você tem por hábito participar de sexo em grupo’. Não acreditei e encerrei o depoimento”, relatou. “Ele mostra uma atitude machista por claramente desqualificar a vítima e a violência que ela sofreu, a responsabilizando pela violência do estupro. Assim, ela faz com que ela sofra duas vezes, com a violência do estupro e a violência inconstituicional pelo descrédito que lhe é dirigido”, acrescentou a advogada.

Agora, quem entra em cena é o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que irá analisar o pedido feito pela defesa da adolescente para que se troque o delegado responsável pelas investigações. Na noite de ontem, as advogadas Samy e Caroline Bispo, que representam a menos, foram recebidas no MP pelo coordenador de Direitos Humanos do órgão, procurador de Justiça Márcio Mothé, e pela coordenadora de Violência Doméstica contra a Mulher, promotora de Justiça Lúcia Iloízio.

“Eu vim relatar o comportamento do delegado Alessandro Thiers durante o depoimento da adolescente vítima de estupro coletivo. A maior preocupação da DRCI parece não investigar o estupro. Thiers disse que não via materialidade que configurasse estupro. Incomodam a misoginia e o machismo do delegado”, disse Eloisa Samy.

De acordo com Mothê, o pedido das advogadas será analisado e depois encaminhado ao promotor natural do caso, Marcio Nobre, que atua na Promotoria de Investigações Penais.

“Se o promotor entender que a conduta do delegado foi inadequada, pode pedir que o inquérito seja desmembrado e a investigação do estupro fique com a DCAV”, explicou o procurador.