DIMMI AMORA BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Transparência Internacional, ONG que atua em mais de cem países no combate à corrupção, enviou comunicado informando que “suspendeu” o diálogo com o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle do Brasil. O anúncio foi feito após a divulgação de áudios em que o ministro da pasta nomeado pelo presidente interino Michel Temer, Fabiano Silveira, critica a Operação Lava Jato e orienta investigados sobre como se comportar em relação às denúncias.

Na época em que foi gravado por um delator da operação, Silveira era conselheiro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), órgão responsável por fiscalizar o poder Judiciário. No comunicado, a ONG “exorta o governo do Brasil a investigar” o caso e pede a exoneração de qualquer membro do governo que trabalhem contra as investigações. “O governo deve garantir que quaisquer membros do ministério envolvidos em corrupção ou trabalhando contra o curso das investigações sejam exonerados”, informa o comunicado.

No texto, o diretor para a América da organização, Alejandro Salas, afirma que “ninguém deve estar acima da lei” e chama de “decepcionante” o fato do ministro da Transparência fazer parte de uma “operação abafa”. De acordo com a nota, a Transparência vinha mantendo diálogo há cinco anos com a Controladoria-Geral da União, que teve o nome trocado para Ministério da Transparência no governo interino, e que tem apoiado as investigações da Justiça Brasileira. A Transparência Internacional é uma das entidades que atuam junto à Iniciativa de Governo Aberto, uma organização que foi liderada por EUA e Brasil para aumentar a transparência dos governos no mundo. No caso da CGU, a entidade tinha parcerias com o governo brasileiro para a formação do plano anual do país para essa iniciativa.

O ex-ministro da CGU, Jorge Hage, lembrou que a Transparência está desde o início do projeto do Governo Aberto e que é uma entidade de alta representatividade no mundo, influenciando empresas e governos pelo planeta na questão do combate à corrupção. Para ele, que dirigiu o órgão por quase nove anos, a situação de Silveira é insustentável. “Como o chefe do órgão que fiscaliza os outros pode estar em suspeição? A natureza do cargo é incompatível com essa situação”, afirmou Hage.